Para ilustrar a notícia sobre o protesto de cidadãos pela reabertura das urgências no hospital Garcia da Orta, que é público e portanto está a cair aos bocados, a agência Lusa usou uma fotografia em que cidadãos distintos, obviamente em protesto distinto, seguravam uma faixa com os dizeres “Se a saúde for privada, ficamos privados de saúde”. Simples erro? Se acreditarmos que a fortuna do eng. Sócrates adveio do cofre materno, com certeza que sim. A Lusa, espécie de demonstração cabal do que o contrapoder não deve ser, sempre existiu para servir o poder propriamente dito. Sob o actual governo, e sob o actual director, aquele sr. Nicolau que convidava impostores para desacreditarem o governo de “direita” na televisão, a Lusa desceu da mera propaganda para a publicidade desconchavada: além de um veículo do PS, é um veículo reles, com a carcaça ferrugenta e as peças à vista.

Aliás, a situação da Lusa é idêntica à da RTP, instituição também conhecida pela serventia a quem manda. Recentemente, a directora de informação da casa, Maria Flor Pedroso, saiu após revelação de um bonito episódio censório, em que uma reportagem desagradável para a tutela do Ambiente foi adiada para não interferir nas eleições. No seu lugar, depositou-se António José Teixeira, cujo currículo tem tantas vénias ao socialismo que o homem ainda arranja uma hérnia valente. Talvez fosse demasiado ostensivo nomear para o cargo mais um familiar do dr. César dos Açores. Os resultados, porém, não seriam diferentes. Quando o governante do “audiovisual” é o autodesignado humorista Nuno Artur Silva (que só tem graça ao lembrarmo-nos que apoia o dr. Costa desde os tempos da autarquia lisboeta), nada espanta no universo do jornalismo estatal, de resto uma contradição nos termos e um sintoma de atraso de vida.

O pior é que o jornalismo não estatal não anda longe dessa subjugação descarada aos rústicos que nos pastoreiam. De facto, até anda perto, tão perto que frequentemente não se nota a diferença. Esta semana, um ministro afirmou que se os polícias compram equipamento do bolso deles é apenas porque lhes apetece. A bojarda, que em países civilizados despacharia o tal ministro para a gruta de onde o resgataram e que vinda de um governante “neoliberal” inspiraria 18 capas indignadas do “Público”, por cá passou quase despercebida na generalidade dos “media”, entretidos a chamar génio das finanças a um aldrabão como o dr. Centeno. Na maioria, os “media” dedicaram igual indiferença à sugestão do secretário de Estado da Saúde, que pretende erradicar as agressões a funcionários hospitalares mediante o fornecimento de chá e bolinhos aos pacientes. Em compensação, os “media” não desprezaram o dr. Costa, que numa oficina da pujante CP prometeu a vanguarda mundial na produção de comboios.  Isto só nos últimos dias.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.