Estamos em pleno Advento. No seu clássico “Light from the Ancient East”, Adolf Deissmann afirma que o termo Grego parousia estava muito em voga entre os ideólogos imperiais de Roma no século primeiro. Manuscristos estudados por Deissmann dão conta da expectativa que rodeava determinada cidade que seria visitada por um personagem político de relevo. Se a vinda à cidade fosse do imperador romano a festa era imensa. A cidade engalanava-se toda e os seus habitantes vestiam-se de forma magnífica para honrar e receber o imperador. Era uma ocasião da máxima importância, preparada com esmero. Neste contexto é curioso notar que o vocábulo Grego parousia é usado no Novo Testamento para referenciar a “segunda vinda” de Cristo a este mundo (1 Cor 15:23; 1 Tessa 2:19; 3:13; 4:15; 5:23; 2 Ped 1:16; 1 joão 2:28).

Muito bem! Adventus é o equivalente para parousia em Latim. Para os cristãos o Advento cinge-se dum processo semelhante de anticipação e espera expectante. Todavia, é também um tempo de preparação. Preparação para a “vinda”, a um tempo, humilde e gloriosa do Cristo Vitorioso.

Os leitores originais do Novo Testamento teriam entendido parousia neste ambiente de “vinda” dum soberano. E também teriam percebido a rejeição explícita à alegada divindade dos Césares. Enquanto hoje declarar a soberania de Cristo nos dias e noites das nossas vivências não coloca em causa a nossa segurança, nos primórdios da Fé Cristã essa ideia era arriscada. Por outras palavras, dizer que “Cristo é Senhor” (kurios – outro título reservado para o imperador mas muito usado para descrever Cristo) era o mesmo que afirmar que “César não é deus”. Aplicar a ideia de parousia a alguém que não o imperador era declarar publicamente quem na verdade era digno de honra e prestígio. Para os Cristãos no início da Era Cristã não havia dúvidas: só Cristo era o Soberano Senhor merecedor de toda a adoração. É este o pano de fundo para o tempo dos mártires. Roma tolerava muitas excentricidades, mas nunca lealdades rivais.

Passados dois milénios é recomendado aos Cristãos agasalhearem-se com suas melhores vestimentas. Resvestidos com expressões de verdade, roupagens de amor e acções de gentileza, devemos estar preparados para receber Aquele que é o “Rei da Glória”, a “expressa imagem do Deus invisível”. Devemos preparar mentes e corações para recordar a sua primeira vinda e anticipar com esperança a sua segunda vinda.

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A meu ver esta esperança veste-se de três fios de tecido.

A esperança de que toda a criação será redimida

Está na moda a preocupação com a natureza. A Bíblia afirma que a criação está “juntamente com dores de parto” esperando a grande parousia de Criador. O parelelismo é claro. Tal como nós gememos com dores por causa de doenças, consciências culpadas, acções não perdoadas e taras inqualificáveis, do mesmo modo a natureza sofre e sente a má gestão que dela fazemos. No entanto, a mensagem Bíblica é optimista (ao contrário dos catastrofistas das alterações climáticas). As “dores de parto” implicam um renascimento. Um reboot. Um voltar a partir do zero. Um novo tiro de partida. Uma nova oportunidade. A Bíblia chama a isso “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2 Ped 3:13).

A esperança de que a Igreja será redimida

Naturalmente quem coloca a sua fé em Cristo já foi regenerado. Todavia, a obra de Deus não está terminada. A presença do Espírito é um garantia antecipada do que iremos ser. Ainda estamos sujeitos ao “corpo desta morte”. Sofremos e gememos esperando a “redenção futura” que a parousia de Cristo irá inaugurar. E nesse momento o nosso corpo corruptível será revestido de material incorruptível, semelhante ao corpo com o qual Cristo se levantou de entre os mortos (1 Cor 15). Por ora o Cristão vive “entaipado”. Mas as tábuas serão retiradas. Os panos cairão. O verão cósmico está chegando…

A esperança de que a missão será redimida

Deus é sempre fiel. Ele ajuda as nossas fraquezas e intercede por nós em cada ocasião. Do princípio ao fim, a redenção, objecto da nossa esperança, é obra d’Ele. Ele é responsável por essa grande descida – o adventus – e Ele garante a vitoriosa subida – a parousia. C.S.Lewis dá o exemplo dos pescadores Malaios que pescavam pérolas preciosas. Num primeiro momento, antes de se atirar ao mar, o mergulhador arqueia o corpo tenso de esforço. A sua pele brilha ao sol. Depois num movimento lesto mergulha rasgando a superfície da água. Atravessa a zona de água verde e aquecida. A sua viagem descendente continua passando pela zona mais fria de água azul, chegando à região profunda onde o sol não penetra. Competentemente descobre a pérola desejada e dá um bater de pés. Nesse bater de pés inverte a tendência descendente da sua manobra. Volta a passar pela região de água fria e azul, depois a região de água verde e ligeiramente quente. Até que a sua cabeça rompe à tona de água com os pulmões a arfar, buscando sofregamente o oxigénio. Na sua mão direita exibe radiante a pérola preciosa. C. S. Lewis diz que o mergulho dos pescadores de pérolas Malaios é semelhante à grande descida que Cristo efectuou, ao descer da sua morada para tabernacular entre nós. Ele se humilhou e foi até à morte, e morte de Cruz. Todavia, na Ressurreição houve um divino “bater de pés” e Cristo inverteu todo o movimento de entropia iniciado antes. Voltou vitorioso. E na Sua mão direita Ele carrega a realidade duma missão salvífica redimida.

O Advento é o início visível da Grande Descida que leva ao nascimento do Emmanuel – Deus connosco. Preparemo-nos para receber O Rei – Kurios Augustus.