Os tempos que vivemos fazem-nos andar ao ritmo da guerra, uma guerra sem sentido, sem fim à vista, e que, com o inverno à porta, contem novas ameaças e perigosos desenvolvimentos, que aumentam a incerteza e a desconfiança, com impacto nos mercados, na inflação, na nossa vida e que aprofunda ainda mais os desequilíbrios económicos e sociais.

A este ritmo, não tarda, teremos a “fadiga” da guerra e da comunicação sobre o conflito, e o quebrar da aparente solidez das instituições europeias, como verdadeiro risco.

Energia e Alimentação (matérias-primas) serão as moedas de troca e as principais ameaças.

No que respeita à energia, temos os planos de contingência para fazer face ao inverno e as medidas de apoio dos diferentes governos – em Portugal vamos dispor de 3 mil milhões de € para famílias e empresas – com o Presidente Putin a afirmar que estará preparado para fornecer a Europa desde que não existam limitações nos preços.

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Não são de de esperar cedências da União Europeia, com a aposta numa maior cooperação entre países, independência energética e a diversificação de fontes de energia, impulsionadas pelo REPowerEU, em que o biometano pode desempenhar um papel relevante.

Está acelerado o processo de transição energética, mas os custos da energia, sem esquecer os combustíveis, continuarão em alta.    

Por outro lado, temos o Acordo do Mar Negro que foi assinado em 22 de julho, sob a égide da ONU e negociado por um período de 120 dias, que deverá terminar em finais de novembro, que permitiu a exportação de 6,8 milhões de tons, em particular milho (43,5%), trigo (30,5%) e girassol (11%). A esta quantidade temos de juntar as exportações através das Vias de Solidariedade, o que representa um total de 19,4 milhões de tons de produtos provenientes da Ucrânia.

A União Europeia, Nações Unidas e Turquia tudo estão a fazer para que o acordo seja prolongado. O discurso russo tem insistido no facto de que este corredor apenas beneficia os países da União Europeia e o Ocidente, o que não é inteiramente verdade. Das mercadorias exportadas, 49% têm tido como destino os países da União Europeia e 51% Países Terceiros, com a Turquia a ser o principal beneficiado.

Nos próximos dias iremos assistir à renovação dos contratos de empresas fornecedoras de matérias-primas para a alimentação animal- ou seja, de um dos setores mais a montante na cadeia de valor da produção de alimentos para os portugueses – com as seguradoras, pelo que é importante um sinal claro da Rússia (que também é beneficiada pela exportação de fertilizantes) para o prolongamento do Acordo. Numa altura em que os stocks de cereais a nível mundial continuam sob pressão, e preços sem qualquer tendência baixista, teremos mais um período de tensão.

É, pois, absolutamente essencial que a Rússia mantenha o Acordo que assinou em 22 de julho e que o mesmo seja prolongado, reforçando os meios e capacidade técnica de verificação dos navios.

Alimentação e energia, os grandes baluartes da inflação, que continuará altista, com um impacto dramático no crescimento económico, desemprego, taxas de juro, no dia-a-dia de todos nós, para os quais o Orçamento de Estado traz algumas boas notícias, mas quiçá insuficientes.

Neste contexto, no Orçamento de Estado, compreende-se a postura das “contas certas”, mas seria importante mais alívio fiscal para as empresas e famílias.

Infelizmente, parece certo é que em 2023, com mais ou menos fé, iremos viver ao ritmo da Guerra.

É para isso que nos devemos preparar.