A crescente complexidade do cenário político global, marcada por polarizações e crises de representatividade, tem impulsionado um número significativo de indivíduos a declararem-se “apolíticos”.  Este fenómeno, embora aparentemente inócuo, levanta sérias preocupações sobre o futuro da participação cívica e da democracia. É crucial, portanto, distinguir o apartidarismo consciente da apatia política e analisar as implicações desta última para a sociedade.

O apartidarismo, enquanto  opção  por  não  se  filiar  a  um  partido  político  específico,  constitui  um  direito  individual  legítimo.  Reflete uma postura crítica em  relação  ao  sistema  partidário  e  uma  recusa  em  identificar-se  com  programas  e  ideologias  partidárias  específicas.  No  entanto,  o  apartidarismo  não  deve  ser  confundido  com  a  apolítica,  que  representa  a  indiferença  e  o  desinteresse  pela  vida  política  na  sua  totalidade.

A  apolítica  traduz-se  na  abdicação  da  responsabilidade  cidadã  de  participar  ativamente  na  construção  da  sociedade.  O  indivíduo  apolítico  abstém-se  do  debate  público,  da  reflexão  crítica  sobre  os  problemas  sociais  e  da  procura de  soluções  coletivas.  Esta  postura  de  alienação  política  contribui  para  a  perpetuação  de  estruturas  de  poder  injustas  e  para  a  erosão  da  democracia.

É  paradoxal  observar  que,  muitas  vezes,  os  indivíduos  que  se  declaram  apolíticos  são  os  que  mais  reivindicam  direitos  e  serviços  do  Estado.  Ignoram,  contudo,  que  a  garantia  de  direitos  e  o  acesso  a  serviços  públicos  de  qualidade  dependem  de  uma  gestão  política  eficiente  e  responsável,  que  só  pode  ser  alcançada  através  do  envolvimento  ativo  dos  cidadãos.

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A  importância  da  participação  política  foi  reconhecida  por  diversos  pensadores  ao  longo  da  história.  Aristóteles,  na  sua  obra  “Política”,  defendia  que  o  homem  é  um  “animal  político”  por  natureza,  destinado  a  viver  em  sociedade  e  a  participar  ativamente  na  vida  da  polis.  Para  o  filósofo,  a  participação  política  era  essencial  para  o  desenvolvimento  humano  e  para  a  realização  da  justiça  social.

Na  mesma  linha,  Hannah  Arendt,  em  “A  Condição  Humana”,  argumenta  que  a  ação  política  é  a  expressão  máxima  da  liberdade  humana.  Através  da  ação  política,  os  indivíduos  exercem a sua  capacidade  de  agir  em  conjunto,  transformando  o  mundo  e  construindo  um  futuro  comum.

É  fundamental,  portanto,  desmistificar  a  ideia  de  que  a  política  é  uma  esfera  distante  e  inacessível  ao  cidadão  comum.  A  política  está  presente  em  todos  os  aspetos  da  vida  social,  desde  as  decisões  sobre  o  orçamento  público  até  às  políticas  de  educação,  saúde  e  segurança.  A  apolítica,  neste  contexto,  representa  uma  renúncia  à  própria  condição  de  cidadão  e  uma  ameaça  à  democracia.

Em  conclusão,  o  apartidarismo  consciente  é  uma  escolha  respeitável,  mas  a  apolítica  constitui  um  perigo  para  a  sociedade.  É  imperativo  incentivar  a  participação  política  em  todas  as  suas  formas,  promovendo  a  educação  política  e  o envolvimento do  cidadão.  Só  assim  poderemos  construir  uma  sociedade  mais  justa,  igualitária  e  democrática.