“Têm de lutar por vocês, não confiem nos decisores, há exceções, há alguns serão sempre os vossos maiores aliados, mas não a maioria”
Marcelo Rebelo de Sousa, Conferência dos Oceanos
Marcelo queria ser engraçado? Ou estava a falar verdade? E que grande novidade dá à maioria das pessoas dizendo que os políticos não são de confiança! Como as eleições são só de quando em quando, também o nosso Presidente só se lembra da abstenção de vez em quando? Mas… Inclui-se ele próprio no lote? Devem os jovens confiar nele e lutarem? Lutarem pelos Oceanos e pelo Clima? E como é que se luta Sr. Presidente? Faltando às aulas, o que não será grande problema visto muitos passarem o ano sem professor? Com armas, quais ucranianos armados também por portugueses? Recusando comer peixe, pelos oceanos, e carne, pelo clima? Trocando o plástico das palhinhas, copos ou sacos, pelo papel que vem dos Eucaliptos, aqueles que o Presidente foi arrancar à mão, lembra-se? Ou não sabe e estava só a ser engraçado?
Bom, não é por falta de conferências. Ainda há um mês o nosso Presidente participou numa outra, igualmente sobre o mar (“Mar, porta para o futuro”), e onde dizia faltar “unidade de liderança na estratégia (dos oceanos)”, até porque “temos agora uma oportunidade muito boa porque há fundos que normalmente não existiriam e não existirão por um prazo muito curto” – o PRR… Muito gosta o Presidente de unidade em vez de debate alargado. E teve o que queria: um Plano feito por um homem só, que agora chega a ministro, e que até fica com a pasta. Não é o que precisávamos – não aproveitando os tais fundos para este desígnio? É o trabalho em cima do joelho que o Presidente tanto pediu…
“Os portugueses percebem que o mar é importante” disse ainda Marcelo na altura, defendendo, no entanto, faltar a “explicação” da sua importância, dando como exemplo, a importância dos portos, da investigação marinha, das eólicas offshore, da transição energética e digital e até do hidrogénio. O Presidente saberá então o caminho a seguir, ou limitou-se a ler umas coisitas que achou ficarem bem no discurso?
Sim, é certo que as apostas políticas para o mar são múltiplas. Mas achará o Sr. Presidente que o que as grandes ondas da Nazaré precisam é de eólicas offshore? Ou que o que ficava mesmo bem na Caparica eram viveiros de aquacultura? E no que respeita aos cruzeiros marítimos é a favor ou contra? Ou aos navios comerciais com contentores ou combustível, queremo-los nos nossos portos para “salvar” os oceanos, é isso? É na Praia da Rocha que vamos ter quintas de algas? Fará ideia que a segurança e defesa marítimas implicam elevados custos (e comprar apenas dois submarinos foi a polémica que foi…)? Ou que os portos, para negócios, implicam tratados comerciais? Saberá mesmo que a Europa é responsável por menos de 1% da poluição marinha? E será que tudo isso se fará bem feito com manifestações de jovens?
Bem, Marcelo falou após ouvir António Guterres pedir desculpa às novas gerações. Para o SG da ONU, conhecido catastrofista, é preciso que a sua geração assuma a sua responsabilidade nos erros do passado. Erros? Marcelo sobre isso diria em circunstâncias normais que é coisa para investigar, mas não foi necessário, já que as palavras de Guterres estiveram alinhadas com o que é o comportamento habitual do nosso PR: a culpa é de todos, logo não é de ninguém.
Inspirado por este vazio, lá atirou para os jovens que não devem confiar nos decisores e devem lutar. Ora lutar porque “vai ser preciso que façam tudo o que é preciso para reverter as decisões políticas, económicas e também os comportamentos” como disse Guterres? Ó Sr. Presidente, se o PRR está aí, não devia ser a altura de boas decisões políticas? Não era com isso que devia estar preocupado? Não era isso que devia prometer – eu sou de confiança, eu vou estar atento – aos jovens? Ou assume que a política para o mar será desastrosa e que os jovens terão que lutar no futuro para reverter o que agora vai ser feito? Agora, sob o seu mandato…
Talvez isso seja demasiada exigência. Afinal, era só uma gracinha. Já há uns meses, na cimeira internacional “Um Oceano”, em Brest, na região da Bretanha, em que participou a convite do Presidente francês, Emmanuel Macron, nos dizia o nosso PR: “Os oceanos pertencem a todos e todos têm de perceber a importância dos oceanos. E é por isso que vos espero em Lisboa, é o próximo encontro, lá estaremos, logo após o Conselho Europeu, mesmo antes do G7, mesmo antes da cimeira da NATO. Porque tudo isso é importante, mas o oceano é igualmente importante”. Como nos conta Leo Fraiman na sua “Síndrome do Imperador”, quando tudo é importante, nada é importante… E no final, Marcelo lá convidou os jovens para irem com ele dar um mergulho, pelos vistos o único assunto em que consegue ter alguma profundidade.