O ano de 2022 é o Ano Europeu da Juventude, assim o anunciou a União Europeia, não apenas pelo simbolismo, mas porque estamos em risco de perder uma geração, ora celebrada ora famigerada, não lhe reconhecendo o direito à autodeterminação. Este é o tempo do infortúnio de uma juventude que fala línguas, emigra sem medo, faz voluntariado e tem qualificações, sem que tudo isso se traduza numa melhor qualidade de vida.
Somos 20% dos portugueses, dos 15 aos 35 anos, cerca de dois milhões de habitantes de um bloco heterogéneo, com grandes dificuldades em aceder a outras fases da vida, que vive na casa dos pais até aos 30 anos por falta de opções e apenas conhece a precariedade laboral, traduzida em salários baixos e elevadas taxas de desemprego, quatro vezes superiores à média nacional de cerca de 6%. A dificuldade no acesso à habitação e ao emprego digno são um fenómeno estruturante da condição juvenil atual e que atinge, inevitavelmente, a natalidade acentuando o inverno demográfico que vivemos e que explica, em grande parte, a perda de 2% da população portuguesa na última década.
Se estes números traçam de uma forma crua o perfil da atual jovem geração, cuja falta de controlo da sua vida e incapacidade de projetar o futuro gera ansiedade, angústia, frustração e insegurança, o que esperamos para fazer da emancipação condigna da juventude um desígnio nacional, aglutinador de todos os portugueses, para juntos, sem perdas, continuarmos a escrever o nosso futuro coletivo.
Assim, é necessário que para o próximo ciclo político que se avizinha a agenda nacional tenha como centro da ação governativa a emancipação condigna da juventude e para isso a FNAJ apresentou a Carta Jovem com os 25 Objetivos da Juventude Portuguesa que revelam, evidenciam e estruturam o que já se sabia: que os jovens têm ideias e propostas e reivindicam por ações consequentes e oportunidades para as executar, assim é necessário que exista uma justa e maior influência e representatividade da juventude nos centros de decisão, para melhor defendermos as nossas causas e criarmos condições para pôr em marcha os nossos futuros imaginados.
Para um Portugal para jovens, advogamos por um simplex jovem para um melhor serviço público para uma juventude compreendida até aos 35 anos de idade face à emancipação tardia, bem como por uma qualificação de maior amplitude e empoderadora dos jovens para os empregos emergentes e do futuro, a par de uma valorização do associativismo e do voluntariado no acesso ao ensino superior e ao trabalho, em virtude das competências sociais e soft skills apreendidas nestes contextos.
Este é um caminho que deve estar em linha com uma estratégia intersectorial e multinível nas áreas da saúde mental, da educação, da natalidade, da cidadania, da territorialização e da inovação social, em paralelo com uma agenda ecológica, digital e inclusiva ou não fosse a atual jovem geração ambientalista, nativa digital e defensora de uma efetiva igualdade de oportunidades. Uma agenda que lute pela sustentabilidade, pluralidade e transparência, capaz de estabelecer um compromisso intergeracional, traduzido na criação de uma comissão na Assembleia da República para a justiça e solidariedade entre gerações, perante uma juventude que se assume como menos conservadora, mais plural e defensora de uma liberdade de escolha, que exige da democracia e dos seus agentes políticos processos mais participativos, escrutinados e próximos dos cidadãos. Ao mesmo tempo que defenda uma literacia política dada nas escolas, que esclareça os jovens como ser parte ativa de um sistema democrático e social em que aqueles que o fundaram se esqueceram de lhes explicar, repetindo-se viciadamente entre pelouros e pelourinhos, negligenciando a democracia que precisa e funciona melhor quando todas e todos participam.
Em mais um processo eleitoral onde a abstenção tende a ser uma das grandes protagonistas, imputamos, muitas vezes, em particular à juventude, um desinteresse pela política e aos políticos a incapacidade de comunicar e reconhecer os novos modelos de participação. Porém, e numa relação sistémica como esta, há razões válidas de ambos os lados, pelo que não é concebível que os jovens se cristalizem numa abstenção que não traz soluções, cabendo-lhes o direito e dever cívico de se manifestar e defender a sua posição e reivindicações. Por outro lado, aos políticos exigem-se causas mobilizadoras e agendas concretas capazes de transformar para melhor o futuro de uma geração que vive num mundo viciado na crise.
Façamos destas umas eleições consequentes, capazes de produzir ações políticas transformadoras, evolutivas e sustentáveis, que augurem uma estabilidade patriótica. Os jovens anseiam por isso e o futuro de Portugal é quem mais precisa!