As imagens que nos chegam da Ucrânia são capazes de desencadear uma imensidão de sentimentos. Não é fácil observar os vídeos amadores publicados nas redes sociais, enquanto ouvimos os berros de uma criança a ser retirada em pânico de uma janela,imediatamente após um avião lançar mísseis sobre áreas residenciais. Nós por cá, horrorizados ao assistir a estas imagens, não conseguimos imaginar o mais ínfimo sentimento de perda e dor pelo qual o povo Ucraniano está a passar.

A coragem do presidente Ucraniano, Volodymyr Zelensky, é hoje consensual para todos aqueles que acompanham o horror da guerra. Os homens e as mulheres que levantam armas para proteger os seus familiares, as suas casas e as suas terras são sinónimos de heróis nos tempos modernos. Não nos descuidemos de dizer: os Ucranianos são hoje a designação de super-povo.

Mas sabem do que é que falta falar? Das Mães. Das Mães que partem sem destino e esperança, com a sensação de uma perda avassaladora por deixarem para trás os homens e os filhos, sem saberem se existirá o amanhã aos olhos destes. A dor mais terrível de todas é a perda de um filho antes do seu tempo e a guerra, mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou de outra, encarregar-se-á de fazer chegar essa dor. Haverá sempre os que regressam. Mas a alegria ténue de ver os seus filhos retornados, sem sonhos e esperança, no momento em que a perda de fé já não disfarça o olhar vazio daqueles que sofreram no campo de batalha, é algo diferente. Nada voltará a ser como antes. A guerra deixa cicatrizes permanentes, mesmo àqueles que sobreviveram sem nunca segurar uma arma.

Há dias vi um vídeo que mostrava um soldado russo (que acabava de se render) a ser alimentado por cidadãos Ucranianos. No decorrer do vídeo, vemos que o soldado aguarda serenamente que a mãe atenda o telefone, mas, segundos após ver o seu rosto, a calma de outrora é imediatamente substituída por lágrimas de emoção. Nesse momento comovente, ao ver as reações do jovem soldado russo, questionei-me como é que a sua mãe, a centenas de quilómetros de distância, impotente perante aquela situação, estaria a reagir ao ver o seu filho rodeado de inimigos. Seria ódio? Raiva? Medo? Seria tudo isso? Não consigo imaginar.

Alguém consegue? Não, penso que não. Mas há algo que conseguimos. Podemos concentrar-nos naqueles que vivem hoje, ao nosso lado, à nossa mesa, ao som das gargalhadas, ao invés das sirenes que anteveem os bombardeamentos. Sejamos merecedores do conforto das nossas mães e dos abraços dos nossos pais – aqueles que já não têm essa felicidade, encontrem consolo nas memórias, porque essas nunca desaparecem.

Aceito as acusações de egoísmo ao dizer a seguinte frase, mas a mesma tem que ser dita: celebremos os tempos de paz que vivemos em Portugal, porque tanto o tempo, como a paz, desaparecem à velocidade de um suspiro.

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