Na gíria futebolística, uma melancia é aquele sportinguista que, no fundo, é benfiquista. Um pantomineiro, portanto.

É o que é a Iniciativa Liberal: uma verdadeira melancia. Por fora verdinhos, por dentro, encarnadinhos tal qual os seus amigos do Bloco.

É, pois, com espanto – e desgosto – que leio digníssimos comentadores se referirem à IL como um novo partido à direita do PSD. Mas como é possível?

Porque moro perto do Príncipe Real – aqui há um par de anos assisti à passagem da “Gay Parade”. Entre autocarros com travestis, outro com homens barbudos cheios de correntes, lá vinham as delegações partidárias.

E pois é. Lá estava, toda garbosa, a delegação da IL. Direita?

Não que seja contra as manifestações de quem quer que seja e aquela até me pareceu animada, cheia de música.

A questão é que a dita manifestação tem substrato político. De direita? Certamente que não. Serão assim tão inocentes ao ponto de acreditar que não está em curso uma tentativa de dinamitar as bases da sociedade? Ou estão de acordo? Ou é mais: vale tudo menos tirar olhos?

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A IL é liberal na economia. É. O Bloco não é. Certo. E de resto? Quais são as diferenças? Se alguém se der ao trabalho de as enviar, agradeço.

Reduzir o ser de direita à vida económica é redutor. A direita assenta em dois pilares: liberalismo económico e conservadorismo. Sem estes dois pilares é uma construção coxa, um castelo de areia. Ou, então, não é direita. Se é este o caso – e é –, porque razão deixa a IL que se mantenha o embuste?

Dá-lhe jeito? Assim os jovens de “boas famílias” já podem sair do armário político? Não cai mal no almoço dominical? Deixem-se de partes gagas, se faz favor.

Acredito que a IL tem roubado votos ao Bloco. Todos aqueles jovens, urbanos, licenciados, que não consomem muita informação mas devoram séries de televisão em streaming e falam inglês muito bem, acharam o seu cantinho. As liberdades preconizadas pelo Bloco: aborto, eutanásia, drogas leves, casamento gay, adopção gay, etc., etc. sem a estupidez de defender um Estado tutelar na economia.

Claro que muitos destes liberais – alguns de pacotilha – são os primeiros a exigir saúde boa e gratuita, educação boa e gratuita, bons ordenados – mesmo sem experiência que justifique –, quatro semanas de férias para poderem ir à neve no Inverno e à praia no Verão e outras facilidades que são tudo, menos exemplos do liberalismo que dizem defender.

Acredito que muitos votantes da IL, quando perceberem que a vida não é certinha, direitinha como a trajectória de uma seta disparada quando nascemos e que não encontra obstáculos até perder força, ou se os encontra, atravessa-os sem piedade (como é o estado natureza antes do contrato que nos obriga moralmente a defender aqueles que, por acaso da sorte ou da genética, não tiveram hipóteses de singrar) e que existem dificuldades, crises, pandemias e outras situações, talvez cheguem à conclusão que não somos uma multiplicidade de ilhas, mas um conjunto de plantas, diferentes entre si, mas nascidas e criadas num único jardim que, para florir, precisa de água e sol na justa medida.

Assim como o Bloco ganhou o seu espaço através da pantominice e da falta de honestidade política, roubando votos a quem quer que caísse na esparrela, faz agora a IL – usando os mesmos expedientes – o mesmo.

Como Cavalo de Tróia que são, deram cabo de uma ideia com bons propósitos: o 5.7. Arrumado esse movimento, criaram agora uma coisa qualquer que tem no nome liberdade. Claro que tudo o que se chama, ou tem no nome a palavra liberdade, é atraente. Os ingénuos do costume do PSD e do CDS lá aderiram a essa fantasia, que se destina a “discutir” qualquer coisa relacionada com a liberdade.

  • Promover a paz e o respeito pelas liberdades individuais, porque o Estado não deve ser, de nenhuma forma, um obstáculo à busca pela felicidade.

O acima escrito é um dos pontos da missão do tal instituto libertário. Escondida entre “missões” económicas ou financeiras e ao melhor estilo bloquista, lá estava esta pérola. Disfarçadamente, alteram a magnífica afirmação constitucional americana do direito de cada um a buscar a sua felicidade, pela anárquica afirmação de retirar o Estado da equação.

Quero abortar, porque vou ser feliz? Sai da frente ó Estado! Quero matar-me, mas preciso de ajuda? Anda cá Estado e faz-me a vontade! Quero casar com três pessoas ao mesmo tempo porque só assim serei feliz? Vai ver se estou ali em baixo, ó Estado.

Tanta liberdade e não leio nada sobre a tradição cristã europeia e sobre qual a parte da minha liberdade de que devo abdicar em prol do meu semelhante. Ou não tenho semelhantes?