Atenção: Guterres estava certo. Sim, sim. Há que ser homenzinho e admitir: António Guterres estava, não meramente certo, mas ainda mais correcto do que ele próprio imaginava. Então não é que o mundo está mesmo em ebulição?! E não são apenas os mares a ferver, como o nosso ex-primeiro-ministro socialista de facto engenheiro vaticinou. É o mundo todo a ebulir! E afinal a culpa nem é da (demasiado) vasta Humanidade. Não, a culpa de tudo isto é de um só indivíduo: Elon Musk.
E qual é o problema com Elon Musk? O problema é Elon Musk dizer coisas que desagradam a líderes políticos com muito poder. Eu, por acaso, se há coisa que também acho inadmissível é importunar, com comentários inusitados, os senhores que nos pastoreiam. Com comentários inusitados e, mais ainda, claro, com observações que os nossos tratadores reputam de ignóbeis e infundadas.
Em princípio, insinuações ignóbeis e infundadas são das insinuações mais fáceis de desmentir. São como um copo de água entornado nas calças. Sim, é aborrecido. Pode até promover uma desagradável redução da temperatura em zonas do corpo sensíveis a súbitas alterações térmicas, sem dúvida. Mas passado esse ligeiro incómodo, tudo volta ao normal rápido e a nódoa desaparece sem deixar vestígios.
Já insinuações subtis são nódoas de vinho tinto. E quem é que se livra facilmente de um pinguinho que seja de tinto na calça branca à Don Johnson em Miami Vice? Só alguém disposto a inalar os inebriantes vapores da mais potente lixívia. Que ir lá com mero pano molhado em água quente com uma gotinha de detergente da louça é receita para a propagação tsunâmica do incidente.
Isto para dizer que se, por exemplo, as acusações de Elon Musk ao primeiro-ministro inglês, Keir Starmer são grotescas, deveria ser muito fácil desmenti-las. A partir do momento em que Musk acusou Starmer de criminosa inacção face ao conhecimento da violação de dezenas (centenas?) de milhares de meninas inglesas às mãos de imigrantes paquistaneses, esta devia ter sido a sequência de eventos:
Momento 1 – Keir Starmer indigna-se, como qualquer um se indignaria, assegurando: “Isto são insinuações ignóbeis e totalmente infundadas!”
Momento 2 – Keir Starmer prossegue o discurso, demonstrando “por A+B” o grotesco das acusações de Musk.
Ora, onde é que a coisa se complica? Precisamente no ponto 2. No ponto 1, Starmer esteve muito bem e mereceu nota artística elevada. Já no segundo ponto, o primeiro-ministro britânico abdicou do formato de explicação “por A+B”, optando por ser muito pouco conclusivo quanto à sua não responsabilidade nos casos de abusos sobre meninas que mal tinham idade para saber o alfabeto e matemática elementar.
Tudo culpa do X, claro. A rede social que foi estupenda enquanto, a soldo da presidência democrata de Joe Biden, silenciou qualquer oposição aos Keir Starmers da vida, é agora terrorista por permitir ao seu proprietário dizer coisas. À atenção de Mark Zuckerberg, dono do Instagram, Facebook e WhatsApp que, mesmo sem “dizer” (ainda) nada, acaba de anunciar o fim dos fact checks para “voltar às raízes da liberdade de expressão”. A coisa está a ficar feia para quem se perpetua no poder à conta da opacidade e da ocultação. Ou, pelo menos, deixem-me sonhar!
Aqui chegados, volto ao ponto de partida. As redes sociais são boas, ou más? A resposta é que, pelo menos havendo liberdade de expressão, são ambas as coisas. As redes sociais são boas e más, como nós somos bons e maus. E patéticos, em muitas ocasiões. Como no caso dos fãs de medicação que deram o braço ao manifesto – com indisfarçável gosto – para as vacinas da COVID, e que agora recusam tomar o “comprimido vermelho” que, em grande medida por mérito das redes sociais, foi a revelação da fraude das vacinas da COVID.
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