Faz algum tempo que dois observadores da vida política muito conhecidos se referiram de forma diversa, mas relevante para a eleição europeia onde Portugal terá uma pequenina representação (21 deputados num total de 720) e, segundo as ideologias partidárias europeias, a maioria dos deputados irá cada vez mais para a “direita”. Esses autores são António Barreto (“Confiança. Rejeição. Fingimento”, Público, 23/04/2014, pág. 3) e José Pacheco Pereira (“Portugal está mal”, pág. 11).

O leque ideológico das candidaturas à Assembleia Europeia é muito vasto e nem sempre cada uma delas possui peso suficiente no seu país para não falar do conjunto europeu. Em todo o caso, a votação europeia está cada vez mais inclinada para a “direita” e dividida perante os movimentos militares russos contra a Ucrânia. Entretanto, uma série crescente de países europeus tem vindo a aderir aos seis países dedicados há muito tempo à convergência económica. Grécia, Espanha e Portugal uniram-se à actual UE, sendo de notar que nas s eleições anteriores (2019), os eleitores portugueses foram os menos participativos e continuaram neste ano.

Apesar da propaganda televisiva das últimas semanas, a participação portuguesa continua baixa e é previsível que os maiores partidos (AD, PS e Chega) açambarquem os escassos lugares disponíveis que pouco peso terão à escala europeia (2,7%). É pois de considerar que a luta entre os partidos e entre alguns candidatos mais badalados pouco peso terão à escala europeia, quando muito entre os países previsivelmente de direita do sul de Europa: Itália, Grécia e Portugal, assim como a própria Espanha após o “golpe catalão” provocado pelo PSOE. Não serão estes que terão muito peso junto da UE!

Com efeito, a delegação portuguesa pouco ou nenhum peso terá apesar da badalada candidatura do primeiro-ministro demissionário, António Costa, ao Conselho Europeu… Neste sentido, o Chega é o mais reservado e continua atrás dos dois partidos saídos da última eleição parlamentar. A única probabilidade de mudança foi confirmada por João Cotrim da Iniciativa Liberal, que terá companhia no Parlamento Europeu…  É bom não esquecer que a taxa de abstenção do eleitorado português é o mais alto da Europa!

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Regressando aos comentadores mencionados, Pacheco Pereira declara que “Portugal está mal”. Outros diríamos: “Péssimo”! Contudo, JPP parece atribuir a causa desta situação à “consciência de que o país está ingovernável”… Não creio que seja exacto: não é o país que está ingovernável, mas sim a classe política e a propaganda mediática. É certo que os múltiplos empregados do Estado, desde os médicos e enfermeiros aos professores dos vários graus, passando pelos funcionários públicos, cujo número e remuneração não cessam de aumentar, se mobilizaram ininterruptamente no fim da época do PS…

Mais importante terá sido o aumento maciço dos eleitores do Chega, considerando JPP que se trata mais de “sentimentos subjectivos” e “perdas de identidade” provenientes do sector social médio do que propriamente revoltas dos assalariados do “terciário”… Seja como for, não deixa de ser exacto que o infindável governo do PS se deixou apanhar entre os funcionários públicos «à esquerda» e os trabalhadores do sector terciário “à direita”, sem certezas nem garantias quanto ao imediato, ao mesmo tempo que se multiplicava com o aumento incessante de imigrantes e profissionais estrangeiros…

JPP não esconde mas também não dá importância aos dez anos de deseconomia e à gestão da entrada na futura UE que favoreceram o Partido socialista nem as manobras do presidente Sampaio, os quais levaram ao assalto dos bens europeus que cá vinham ter e aos pretensos líderes como Sócrates e Costa que se apoderaram durante décadas de falso crescimento económico… Em suma, JPP limita-se a identificar as “oligarquias partidárias” do PS como responsáveis pela falta de um “centro político”!

Com efeito, Portugal não está “mal”. Está péssimo! António Barreto diz efectivamente no seu artigo “Confiança. Rejeição. Fingimento” que o prolongamento dos governos socialistas do séc. XXI não só caíram devido à algazarra dos eleitores, como transformaram os sucessivos parlamentos em grupos de gestionários dos recursos públicos. Paralelamente, o uso particular das redes partidárias para ganhos pessoais tornou-se o pão de cada dia das “melgas partidárias”!

Quanto ao actual governo, o seu programa já não foi efectivamente votado. Resta saber se os seguintes o serão. Passaram por cima das representações partidárias… e caíram em operações propagandísticas contra “a violência do namoro” e múltiplas outras manifestações sem significado! Segundo Barreto, o parlamento transformou-se em “votos piedosos e custos sem orçamentos”, ao mesmo tempo que os partidos políticos se transformaram em exibições televisivas cada vez mais prolongadas…

Em plena crise política e militar à escala mundial, Portugal parece o menos prevenido dos países europeus… e não tem qualquer reacção positiva dos agentes nacionais… De acordo com a operação eleitoral europeia de “gigantesca montagem partidária”, como a designam, é manifesto o deslize sem freio para os nacionalismos e para as direitas que só nos farão gemer!