Talvez seja melhor começar pelos extraordinários comentários feitos pelo leader do PS espanhol a propósito do actual confronto do Médio Oriente ao apresentar, sem hesitação nem comedimento, o movimento terrorista Hamas como se fosse uma pobre vítima às mãos de Israel. As acusações de Pedro Sánchez resumem-se à defesa dos inocentes palestinianos mobilizados pelo Hamas e financiados pelo Irão, sem falar de outros movimentos como o Hezbollah, que ainda há pouco atacava Israel. Entre esses períodos, os mesmos movimentos terroristas são conhecidos por se dedicarem ao contrabando e a outras actividades proibidas mas nem por isso menos rendosas.

É extraordinário mas é assim! Com efeito, Suárez recorreu nas últimas semanas de forma pouco regular a uma descarada aliança com os partidos irredentistas que pretendem tornar-se independentes em relação a Espanha, nomeadamente a Catalunha e o País Basco. Ora, isso não só implica que o governo recém-eleito seja constantemente questionado como também remexe com a recordação da guerra civil que dividiu a Espanha ao meio durante a guerra civil entre as mesmas regiões e os mesmos grupos sociais (1936-39), com meio-milhão de mortos, ao mesmo tempo que o Nazismo se armava para iniciar a 2.ª guerra mundial e concluir o Holocausto matando 6 milhões de judeus!

É de esperar que as «bocas» dos defensores do «golpe» do Hamas não vão tão longe quanto ameaçam. O certo é que as grandes manifestações das últimas semanas contra Israel reabriram um cisma perigoso entre esquerda e direita, multiplicado por irredentistas versus nacionalistas. Foi esse cisma escandaloso que o oportunismo de Sánchez ressuscitou em Espanha com as últimas eleições ao impor a funesta coligação governamental dos «bons» contra os «maus» do costume…

Paralelamente à manobra parlamentar que lhe permitiu continuar no poder, Sánchez tem sido dos raros dirigentes europeus a embarcar em violentos ataques públicos contra Israel ao mesmo tempo que não lhe ocorre qualquer protesto ou crítica contra o Hamas. Será que Sánchez fala assim à população espanhola? Ou aproveita esta infeliz oportunidade bélica para se fazer conhecido dos ouvintes mundiais que escutam a rádio Al Jazzira e vêem a imagem televisiva do presidente do governo espanhol? Em suma, só pode ser para ganhar votos! Se não, para quê? Dirá o mesmo aos governantes europeus e à NATO?

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É caso para perguntar a um dirigente político tão relevante como é o caso de um conselheiro da União Europeia como Sánchez que especial interesse tem ele com o tipo de conflitos do Médio Oriente ao mesmo tempo que alguns dos países da UE já começam a vacilar perante o ataque da Rússia à Ucrânia? Que outra atitude se não essa estarão a abraçar alguns países da UE e dos renascidos BRICS? Numa palavra, que ataque é esse contra o Estado hebraico sem este ter sido o primeiro a atacar os seus atacantes?

Será necessário sublinhar que Israel estava já há algum tempo sem guerra com os seus adversários mais conhecidos? É certo que muitos dos críticos de Israel começam por comprometer na actual guerra Benjamin Netanyahu como um político de Direita há doze anos no poder como primeiro-ministro e se tornou cada vez mais autoritário, apoiando-se nos partidos ultra-religiosos a fim de adiar a sentença jurídica que o persegue cada vez mais de perto…

Tudo isso é verdade, segundo parece, mas não é disso que se trata. Pelo contrário, Netanyahu é hoje tanto mais atacado pela população israelita quanto esta o acusa de ter falhado monstruosamente na defesa contra os terroristas do Hamas e ainda não foi capaz, se vier a sê-lo, de ultrapassar a actual situação. Decididamente, se há algo a que Netanyhau não se opôs a tempo foi o ataque feroz dos terroristas palestinianos que assaltaram no dia 7 de Setembro sem a oposição das barreiras construídas para defender Israel, matando milhares de pessoas e raptando mais de duas centenas de homens, mulheres e crianças indefesos.

Ora, só independentemente desse ataque do Hamas, que ainda não se rendeu nem entregou todas as pessoas raptadas, é que alguém pode responsabilizar Israel pela guerra em curso. Dito isso, a violente luta verbal entre o Hamas e Israel acerca da responsabilidade de cada um dos intervenientes é tudo menos espontânea e convincente. Tipicamente, acusações como as de Sánchez são tão frequentemente falsas como deliberadamente contra Israel.

Segundo os observadores internacionais, a propaganda de ambos os lados é tudo menos imparcial ou sequer verdadeira. A isso acresce, porém, algo inesperado: a par das manifestações das massas muçulmanas, a memória católica surge de novo associada à denúncia dos judeus e de Israel, como se nota em Espanha, Portugal e não só, associando o anti-semitismo ao anti-imperialismo… Isso é tão lamentável quanto a última execução de judeus teve lugar em Portugal há menos de três séculos: o escritor António José da Silva foi queimado em Lisboa.