Em mais este importante passo em frente na construção da Europa, Portugal não fica bem visto, o que infelizmente não é a primeira vez. País periférico reconduzido há 45 anos à sua base europeia, Portugal beneficiou a partir de 1985 da protecção política dada pela Comunidade Económica Europeia aos três regimes ditatoriais que subsistiam na Europa até meados da década de Setenta do século passado e não deixou desde então de aproveitar economicamente durante os primeiros dez anos da adesão à CEE.

Contudo, a seguir à criação da UE , Portugal omeçou a patinar e, com a introdução do «euro» no início do século XXI, entrou praticamente em crescimento zero do qual não consegue sair, desperdiçando na realidade décadas de «fundos europeus», ao mesmo tempo que as nossas pretensas elites políticas e económicas, misturadas entre elas, continuavam a sonhar com as sombras do império. Lamentável!

É por causa da falta de confiança e de lisura que têm perante os cidadãos que os sucessivos governos não os têm mobilizado no sentido de tirar partido da pertença à UE e, concretamente, de participar nas eleições europeias e nos assuntos da União em geral. Nunca os donos do poder submeteram a adesão de Portugal à Europa, como tão pouco submeteram a Constituição e as suas alterações, à vontade popular. Assim sendo, o eleitorado, que já pouca participação tem nas eleições nacionais, abstém-se cada vez mais nas europeias, tendo batido no domingo o record com 75% de abstenções (brancos e nulos incluídos)!

O problema da abstenção em Portugal desafia aliás qualquer demografia por causa das manipulações dos governos,. Os cadernos eleitorais ostentam 10,6 milhões de inscritos quando a população é inferior em centenas de milhares àquele número segundo o INE! Continua portanto a haver muitos mortos por enterrar… Finalmente, a grande vitória atribuída pelos «media» ao PS consistiu na perda de mais de 600.000 votantes desde de 2015 e traduziu-se praticamente na mesma percentagem de 33%, ou seja, muito longe da maioria mesmo com a ajuda do BE. Os outros partidos – menos o PAN – também perderam votos e baixaram de percentagem…

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Vamos ver o que se passa daqui até às legislativas do Outono. Várias coisas parecem certas: por este caminho. O PCP é capaz de ser forçado a ficar de fora de uma nova «geringonça» enquanto o PS e o BE se arriscam seriamente a não ter a maioria dos deputados. Sob a liderança insegura e desfocada de Rui Rio, o PSD não irá a parte nenhuma se não como eventual muleta do PS em vez do BE, sem controle garantido de tal aliança. Quanto ao CDS, não é de excluir um merecido desaparecimento gradual depois do abandono pelos seus sucessivos líderes… No conjunto, estamos diante de uma perspectiva político-partidária sem brilho nem abertura nem novidade…

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Felizmente, no plano europeu, não só a votação aumentou em quase todos os países como a ameaça da explosão dos populistas de «esquerda» e de «direita» acabou por ser menor do que a «mídia» apregoava. Segundo os resultados definitivos das eleições, se é certo que em França e sobretudo em Itália a extrema-direita chegou ao primeiro lugar, em contrapartida em Espanha o «Podemos» perdeu metade dos deputados e na Grécia o «Syriza» estagnou sendo ultrapassado pelos Liberais.

Por outro lado, a perda da maioria por parte da coligação dos dois blocos partidários que dominavam o Parlamento e a presidência da Comissão Europeia, isto é, os «Populares» (com 180 deputados) e os «Socialistas» (146), tem uma dupla vantagem. Retira-lhes o monopólio do executivo e do legislativo, ao mesmo tempo que amplia ao centro a nova maioria com a possível entrada dos «Liberais» (109) e até dos «Verdes» (69), ao todo 500 deputados em 750, incluindo o Reino Unido!

Lamentavelmente, o partido do Brexit ganhou de longe a votação que o RU foi obrigado a fazer devido à incapacidade, que só os «brexiteers» ignoravam, de «sair da EU». Os Liberais e os Verdes, bem como os Nacionalistas Escoceses e da Irlanda do Norte, remeteram os Conservadores e os próprios Trabalhistas para o fundo da tabela, mantendo a possibilidade de um eventual segundo referendo. A questão do Brexit permanecerá aberta até a Câmara dos Comuns ser capaz de a resolver ou ser substituída por outra!

A UE ficaria sem dúvida mais pobre sem o Reino Unido mas, em compensação, ficaria mais europeia; menos nacionalista e imperialista; porventura menos obcecada com os mercados e mais livre para avançar com a integração monetária, sem a qual um continente militarmente indefeso como é a Europa não pode lidar em pé de igualdade com grandes potências como os Estados Unidos, a China, a Rússia e o próprio Reino Unido. Estamos aqui para ver!