Sábado à noite o país assistiu a uma estreia: o Primeiro-Ministro usou a dignidade do seu cargo e solenidade da sua residência oficial para fazer um anúncio. Não digo “anúncio” no sentido de comunicação, mas no sentido de “publicidade”. Aquilo que António Costa fez foi um reclame. Tratou-se da promoção de um serviço muito especial que Costa disponibiliza às empresas. Basicamente, alguém que queira investir em Portugal ficou a saber que ou paga os custos de contexto, ou paga custos de Costexto.

Os custos de contexto são definidos assim pelo Instituto Nacional de Estatística: “Os custos de contexto correspondem a efeitos negativos decorrentes de regras, procedimentos, ações e/ou omissões que prejudicam a atividade das empresas e que não são imputáveis ao investidor, ao seu negócio ou à sua organização”. No fundo são as leis, burocracias, regulamentos, impostos e demais normas que um investidor tem de cumprir para poder funcionar num país.

Já os custos de Costexto foram definidos assim pelo PM: “Somos um Estado de Direito onde a lei se cumpre, mas onde criamos condições para atrair e acolher o investimento e dizer aos diferentes organismos da administração que não é o facto de haver lei, de estarmos todos obrigados ao estrito cumprimento da lei que isso nos deve colocar na situação da paralisia, do medo de violar a lei”. Ou seja, são os custos que devem ser pagos a alguém com contactos privilegiados no Governo para contornar as tais normas que um investidor tem de cumprir para funcionar num país.

António Costa sabe que em Portugal há um excesso de constrangimentos que dificultam a vida a quem quer investir e, como solução, vai usar os poderes de uma maioria absoluta para alterar as leis e simplificar processos, permitindo que todos os investidores tenham melhores condições para fazer negócio em Portugal. Estou a brincar! Era pilhéria! O que Costa faz é dizer que a lei se mantém, mas há formas de a fintar.

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Os custos de contexto resolvem-se com perdas de dinheiro, tempo e paciência. Os custos de Costexto resolvem-se contratando um facilitador que tenha contactos privilegiados com ministros, com o Chefe de Gabinete do Primeiro-Ministro e, quando é mesmo preciso, com o próprio Primeiro-Ministro.

Se o Governo alterasse legalmente as regras, investir em Portugal seria mais atractivo e isso geraria muitos empregos. Infelizmente, perder-se-ia um emprego que interessa mais: o de Diogo Lacerda Machado.

António Costa pode ter criado um Simplex para a maior parte das empresas, mas manteve o Simplexcepto para as que precisam de um regime de excepção e recorrem aos préstimos de profissionais como o seu melhor amigo. Não lhe interessa acabar com as barreiras, porque o portageiro é seu padrinho de casamento.

Ao fim de 8 anos de Governo, se os empresários que vão fazer o maior investimento em Portugal desde a Autoeuropa têm de contratar um consultor que exerça pressão em ministros e presidentes de câmara para desbloquear autorizações, agilizar licenciamentos e assegurar condições físicas, é porque António Costa, mais do que atrair dinheiro para Portugal, quer é atrair dinheiro para Lacerda Machado.

É que Costa também é empreendedor. Criou e patenteou o produto “o meu melhor amigo” e agora vai rentabilizá-lo. Faz todo o sentido. Antes ainda de ser PM, já tinha posto Lacerda Machado a negociar pelo Estado a compra dos Kamov e do SIRESP. Mal chegou a chefe do Governo, pô-lo logo a negociar a nacionalização da TAP, o acordo com os lesados do BES e o acordo no BPI entre Isabel dos Santos e o CaixaBank. Construiu-lhe o currículo e agora promove-o. Mas António Costa é um entrepreneur atípico. Geralmente, um empresário identifica uma necessidade de mercado e cria um produto para a colmatar. Costa fez ao contrário: primeiro inventou Lacerda Machado como influenciador e só depois chegou a Primeiro-Ministro para estabelecer e reforçar as falhas no mercado. O que interessa é que funciona e que há consumidores a dizerem “preciso de um Lacerda Machado!”

Para a campanha de marketing ser ainda melhor, Costa só precisa de arranjar um nome comercialmente mais forte para o produto. Algo ágil, moderno, disruptivo. Um nome que fique no ouvido e remeta imediatamente para a função de Lacerda Machado, a pessoa que uma empresa convoca sempre que há chatice. Sugiro “Lamerda Chamado”.