Quero deixar-vos também uma palavra de confiança em vós, nas vossas famílias e a certeza de que cada um de vós dará o seu melhor para um país mais justo, para um país mais pobre…”. Palavras de José Sócrates em maio de 2007, que, ao cometer uma “gafe”, pediu a todos o esforço por um país mais… pobre. (Caso não se recorde deste delicioso momento da política nacional, pare a sua leitura e veja o vídeo, duas ou três vezes, recomponha a compostura e prossiga então). Na verdade, este foi, sem sombra de dúvida, o momento mais honesto de José Sócrates, e, porque segundo o ditado “Quem diz a verdade não merece castigo”, ainda hoje, graças a esta frase, está em liberdade. Ora, facto é que passaram 16 anos e nós, portugueses, como povo simpático e prestável que somos, temos cumprido à risca o pedido então deixado. Mas como nós não somos só portugueses, somos bons portuguesinhos, as coisas são para se irem fazendo, na maior das calmas, não há cá pressas.

Como tal, em 2011 elegemos um governo mais à direita, que a princípio até parecia levar-nos na direção pretendida, mas com o passar do tempo ficava a impressão de que afinal se dava uma recuperação económica de certo modo até milagrosa. O que nos valeu foi que os mais astutos de entre nós começaram a sentir o odor a perfume e a marisco e, a tempo, demos uma maioria à esquerda portuguesa: PS, BE e PCP formaram assim uma “geringonça” de pobreza e rapidamente podemos voltar a sentir o cheiro a peúgas e a caldo verde com cinco dias. Entretanto pôs-se uma pandemia pelo meio e, como as três principais vias para a pobreza não se entendiam, decidimos optar pela via original, que é também mais longa e demorada que as outras duas. E nela temos continuado o nosso bonito percurso até um país mais pobre. Atualmente casas há poucas, transportes tão pouco, educação só para uns quantos, saúde vamos tendo, o dia em que não a tivermos é o dia em que partimos para um mundo melhor, a justiça é lenta e demorada. Alimentos ainda os há nas prateleiras, mas o que trazemos para casa é cada vez menos. O que interessa mesmo é não parar. Remamos e remamos o nosso barquinho, afinal somos também um povo de marinheiros, o nosso capitão vai dizendo uns disparates como: “Portugal nunca cresceu tanto como nos dias de hoje” e coisas parecidas, mas nós já nem lhe ligamos, não só porque vemos de facto um país mais pobre à nossa frente, mas também porque ele nem sequer vai no barco connosco, ficou em terra com os seus familiares e amigos, que nos mandam cada dia remar mais, e com mais força, enquanto comem as sobras do marisco e se besuntam em perfume.

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