O Debate do Estado da Nação foi lamentável. Foi lamentável para o principal partido da oposição, o PSD. Como foi para os portugueses que esperavam ouvir-se naqueles que elegeram para os representar. Para o Partido socialista não. Na verdade, com excepção das gravíssimas questões da habitação, levantada exemplarmente pelo BE, e da do excesso de impostos, António Costa, garantido pela estabilidade política da maioria parlamentar e pela superação das crises externas, da pandemia, da guerra na Europa e da inflação, não foi beliscado na sua medíocre governação e ainda introduziu um discurso novo e mais palatável onde uma ideia de país, de futuro, assomou pela primeira vez. De um futuro a curto prazo, até 2026. Aliás, isto somado à contenção da hostilidade aberta que o caracteriza, se ignorarmos o ataque a Pedro Passos Coelho, mostra-nos o quão bem preparado estava – desta vez a máquina de comunicação fez o pleno.

A economia e as finanças públicas fornecem os números que suportam este governo. Controlar o défice e baixar a dívida são objectivos necessários. E foi com a concretização destes objectivos que António Costa conseguiu conter os danos deste ano de governação desastrosa, de perda de credibilidade institucional e de perda democrática. Estas realidades não são mutuamente exclusivas, convivem e sem pacificação.

O controlo do défice, a redução da dívida e o baixo desemprego caminham ao lado do empobrecimento, de facto, dos portugueses com os seus míseros salários, a subida dos juros e do custo de vida; como caminham ao lado das dúvidas e infelizes certezas sobre o uso dos dinheiros públicos e do mau uso e manipulação das instituições que devem servir, não o governo, mas o Estado de Direito e os portugueses, do SIS à comunicação social. E ainda que o país não esteja em convulsão social, sente-se a tensão, seja na saúde, com os utentes em espera e com os profissionais em desespero; na educação, com professores, sindicatos e os próprios alunos lesados; na fiscalidade sobreaumentada ou na habitação inacessível. É transversal. E não há máquina de comunicação que altere esta outra realidade.

Se estes governantes são, como diz António Costa, «os pais e as mães do maior ciclo de crescimento do país», como é que os portugueses são os filhos pobres? A perda de poder de compra é real. A crise da habitação é real. Os baixos salários e a emigração qualificada são reais. Como são reais as longas listas de espera no SNS – e o excesso de mortalidade pós-pandemia. E por muito que o governo emende a mão com Pizarro, na subordinação das decisões à ideologia política, não apaga os desmandos de Marta Temido que as preferia e com os resultados vergonhosos que todos conhecemos. Como não apagou os desmandos na TAP, nem os de Pedro Nuno Santos, nem apagará os de Galamba a despeito da apresentação de relatórios mais ou menos ficcionais. Isto sem falar da Defesa.

Talvez o Diabo não tenha chegado, como diz António Costa. Talvez já cá estivesse, nos detalhes: 13 baixas no governo; corrupção; perda democrática. Estamos pior: 65% dos portugueses concorda.

PS: Gostaria de agradecer as mensagens de solidariedade recebidas quando revelei a situação do cancelamento da cirurgia do meu sobrinho, ontem realizada. Agradeço à equipa que a tornou possível e assegurou o melhor dos cuidados.

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