Há muito poucos dias o Pais assistiu a uma pequena novela do seu Chefe de Estado. Diria que demonstradora das tentações de um Chefe de Estado Republicano.

Marcelo como todos sabem representa uma família política determinada. E representa-a tão claramente que já foi Presidente do Partido político mais relevante dessa família política e, em consequência, candidato putativo a formar Governo em nome desse partido. Ao contrário, por não o ter conseguido, Marcelo candidatou-se a Chefe de Estado. E claro, com o apoio da sua Família política e o benefício de não existirem candidatos fortes na família política oposta logrou ser eleito para um primeiro mandato como Chefe de Estado. Logo se arvorou em Presidente de todos os portugueses, de todas as “selfies”, de todos os afectos. Nem que para isso parecesse trair a sua família política dado o apoio velado que pareceu dar em episódios sucessivos ao Chefe de Governo que representava a outra família política. O termo “colinho” transitou lepidamente do futebol para a política e o colo não era mais do que o de Marcelo.

Entretanto o Presidente foi reeleito, talvez porque os portugueses prezam muito a continuidade e pouco tempo depois, o Partido da outra família política foi também reeleito e agora com maioria absoluta.

Marcelo fez contas à vida. Não podia ser reeleito outra vez – mesmo contra a vontade provável do povo português e teria que se reconciliar com a família política de onde emergiu. Aproveitando as inúmeras trapalhadas do partido da outra família política, pôs-se a despachar ministros e a dar recados ou instruções sucessivas à governação. Ameaçando com a prerrogativa constitucional de dissolver a Assembleia que suporta o Governo. O Chefe do partido da outra família política e também Chefe do Governo, cansou-se desta intromissão. Afinal fora ele o eleito e designado para governar.  O preço do colinho parecia demasiado alto. E então…, esticou a corda. E não foi na última imposição de despachar mais um ministro com a ameaça velada da dissolução. Marcelo ficou entalado. Tinham-lhe descoberto a careca. Se dissolvesse teria com uma probabilidade elevada que levar com o mesmo Chefe da outra família política. Ou talvez, pior ainda, com uma geringonça feitas de bocados da sua família politica em que não podia confiar.

Berrou, falou grosso, ameaçou. Prometeu o pesadelo de ser ainda mais interveniente. Mas não mordeu, não castigou, não causou dano. Deixou o crime sem castigo!

Conclusão: Marcelo é um Chefe de Estado que representa menos de metade dos portugueses eleitores – nenhuma novidade, qualquer Presidente da República foi eleito desta apoucada maneira. E pertence a uma equipa própria que o ajudou a ser quem é. E não deixa de o ser mesmo que vista outras camisolas e queira fingir que é o arbitro do jogo. Marcelo é por isso um comprometido de uma facção política que vive á custa de lutar contra outras facções políticas. Quando chamado a intervir não tem distancia, não tem isenção, não tem liberdade. Pode até parecer que tem. Dar o colinho. Mas sempre de uma forma circunstancial e adventícia. Porque adventício é também o lugar onde está. E o depois desse tempo não é outro senão o de regressar à família, sem arriscar demasiado na figura do filho pródigo.

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Duas condições essenciais que Marcelo parece não cumprir – isenção ou independência e continuidade nas funções mais relevantes de um Estado democrático. E com elas claro: representação, unidade, identidade cultural histórica e afectiva do povo que parece representar.

E Carlos III de Inglaterra que foi coroado e “aclamado” por milhões de pessoas em todo o Mundo? Representa ou não Inglaterra? Ou mais do que ela, representa ou não uma Commonwealth composta por 56 países que o reconhecem como Chefe de Estado? É ou não a representação histórica, cultural e moral daquele povo?  É ou não o princípio de agregação, identidade e independência dos Britânicos? É ou não isento e imparcial qualquer que seja o Chefe de Governo? É ou não a permanente figura que une os britânicos e os representa de forma estável e continua em todos o mundo? Em relações privilegiadas e qualificadas de enorme valor?

É isto: Carlos ou Marcelo? Escolha você mesmo!