A lei básica do mundo em que vivemos: comer, e não ser comido.
Felix Rodriguez de La Fuente, O Homem e a Terra 

Têm centenas de milhões de anos e são basicamente corpos à volta de um tubo digestivo, somos nós, os animais. Diz-se que o porco come de tudo? Que os tubarões são os caixotes do lixo dos oceanos? Ora o Homo sapiens, entre todos, é aquele que tem maior espectro alimentar. Com efeito, a nossa espécie consome diariamente centenas de outras espécies e ao longo da sua história subimos para vários milhares que estiveram incluídas na nossa alimentação. E foi por sermos “bons de boca”, que nos conseguimos adaptar a viver dos desertos às regiões boreais pelos quatro cantos do globo.

Em todos os lugares fomos arranjando formas engenhosas de obter comida, da caça ou pesca à pastorícia, da recoleção a complexos arranjos agrícolas, passando por diferentes formas de conservação (salga, fumeiro, etc.) e imaginativa confeção e combinação dos alimentos. Por cá, temos raças autóctones de várias espécies domésticas e paisagens características (como os montados do sul ou os socalcos do Norte), moldadas pelas mais eficientes formas de produzir alimentos, incorporando espécies de outras paragens ao longo dos tempos, e traduzidos na nossa riqueza gastronómica. Não obstante a versatilidade e adaptabilidade, a vida era difícil e qualquer palmo de terra intragável tinha que, à conta de muito esforço, contribuir para debelar a fome, não poucas vezes generalizada.

As transformações sócio-económicas das últimas décadas trouxeram uma nova realidade. Tais mudanças, comuns ao mundo ocidental, resultaram numa muito maior eficiência e em novos hábitos e preferências. Inegavelmente, vivemos melhor. Todavia, isso acarreta impactos económicos, sociais e ambientais, muitas vezes mal compreendidos e que se predispõem a ser usados para a defesa de agendas mais ou menos ocultas.

É assim, que encontramos de conteúdos informáticos a campanhas, passando mesmo por produção legislativa e diferenciação fiscal, que põem em causa a nossa liberdade de gosto e de escolha, sob pretextos ambientais para os quais muitas vezes não só são fraudes evangelizadoras e radicais, como desresponsabilizadoras – afinal de contas, os problemas (de produção, importação, conservação, etc., donde resultam maus empregos, contas desequilibradas, plásticos, poluição, perda de biodiversidade, emissões e tantos outros impactos) não são alheios às nossas escolhas…

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É o próprio IPCC, num relatório de agosto de 2019, a afirmar:

“Dietas balanceadas à base de alimentos vegetais e alimentos de origem animal, produzidos em sistemas de produção resilientes e sustentáveis representam grandes oportunidades para adaptação e mitigação de efeitos ambientais, gerando simultaneamente grandes benefícios em termos de território e nutrição e saúde humana”.

Se nos preocupamos e queremos ajudar, a Dieta Mediterrânica, elevada a Património da Humanidade, vai ao encontro destes objectivos – melhor saúde, economia, cultura, ambiente…

Vejamos: conseguimos com ela um regime alimentar saudável, fomentamos a produção nacional, diminuímos as importações, aumentamos as exportações, encurtamos os circuitos, retemos carbono, reduzimos as calamidades com incêndios, damos continuidade a um longo legado cultural e contribuímos para a sustentabilidade do nosso mundo rural e para a manutenção das nossas paisagens, o que é uma grande ajuda na conservação da biodiversidade.

Postulou Paracelso, que o que diferencia remédio de veneno, é a dose. Efectivamente, a ancestral ação humana sobre as nossas paisagens, quando equilibrada, é um dos segredos da nossa imensa biodiversidade.

Imensa? Sim. Ao ponto de estarmos incluídos nos hotspots mundiais de biodiversidade – pouco mais de 1% da superfície do planeta, onde se concentra cerca de metade do património biológico mundial. Para termos uma ideia, na única compilação nacional, um trabalho da plataforma Naturdata, assinalam-se para o nosso país 37.615 espécies que comparam com as estimadas 50 mil a 60 mil para a Península Ibérica, representando estas últimas 90% do patriomónio biológico de todo o continente europeu!

Sábado, 22 de Maio, é Dia Mundial da Biodiversidade. Um bom dia para ajudarmos a natureza à mesa. A nossa rica gastronomia têm muitas alternativas de ajuda. Bom apetite.