O acordo de Minsk, assinado a 5 de setembro de 2014 entre o governo de Kiev e os separatistas do leste da Ucrânia, tendo a União Europeia e a Rússia como garantes do seu cumprimento, conseguiu parcialmente um dos seus objetivos principais: um cessar de fogo relativo entre as partes do conflito, mas a sua leitura diferente pelas partes do confronto e pelos garantes poderá levar o processo de paz a um beco sem saída.
Os separatistas das auto-proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk decidiram realizar eleições presidenciais e parlamentares nos territórios por eles controlados no próximo dia 2 de Novembro.
Kiev e a União Europeia já vieram disser que não irão reconhecer os resultados do escrutínio, considerando que a sua realização uma violação do acordo alcançado na capital da Bielorrússia. Além disso, manifestam preocupação pelo facto de Moscovo já ter revelado que irá aceitar os seus resultados.
“Estamos preocupados com o facto de a Rússia tencionar reconhecer as eleições nas regiões de Lugansk e Donetsk e enviar observadores para lá”, declarou Vygaudas Ušackas, representante da UE em Moscovo.
O Kremlin, através do seu porta-voz Dmitri Peskov, considera que “a realização de eleições é uma decisão tomada pela direção dessas repúblicas”, querendo passar a ideia de que a Rússia não controla os separatistas: “A Rússia não tem alavancas de pressão ilimitadas e não vale apenas exagerá-las. Neste caso, o fator principal não é a influência da Rússia, mas a decisão da direção dessas repúblicas e do seu povo”.
Tendo em conta que os candidatos à presidência das auto-proclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk não escondem que o seu objectivo é a criação da república da Novorrossya, independente da Ucrânia, Moscovo, ao apoiar o escrutínio, incita os separatistas a continuarem o desmembramento do país vizinho. E mesmo que o conflito seja congelado no estado em que se encontra actualmente, o Kremlin ficará sempre com uma forte alavanca de pressão que lhe permitirá limitar a soberania da Ucrânia na política externa.
P.S. Entretanto, na Rússia, a situação continua a deteriorar-se: o rublo cai face ao dólar e os preços dos produtos essenciais não param de aumentar. A desestabilização da Ucrânia continuará a ser um bom pretexto para afastar a atenção dos russos dos seus problemas internos.