Numa primeira reflexão sobre a questão suscitada no título deste artigo, é forte a tentação de replicar o exercício provocatório levado a cabo por Paulo Portas na sua primeira crónica no Independente, na qual Portas – na altura para acicatar o PSD (como os tempos mudam!) – apresentou um texto em branco. Estou certo que um número não residual de leitores acha que seria esse o texto mais adequado neste caso também, mas não cederei à tentação: ficar-me-ia mal tentar imitar Paulo Portas e, além disso, num jornal digital o impacto da “gracinha” seria bem menor.
Começo por isso a análise das alternativas de voto à direita nas presidenciais com uma constatação que me parece mais ou menos evidente: votar em Edgar Silva (candidato apoiado oficialmente pelo PCP), Marisa Matias (candidata apoiada oficialmente pelo BE) ou Sampaio da Nóvoa (candidato apoiado oficialmente pelo PCTP-MRPP e pelo Livre e oficiosamente pela ala mais radical do PS) deverá estar fora de questão para qualquer eleitor que se auto-posicione à direita. Que alternativas restam então?
A primeira será um voto – com maior ou menor resignação – em Marcelo Rebelo de Sousa. Para uma defesa tão empenhada quanto razoavelmente possível da candidatura de Marcelo, dificilmente alguém fará mais do que Paulo Sande. Numa linha mais curta e grossa – e com elevado grau de pragmatismo – Rodrigo Adão da Fonseca justifica o seu voto em Marcelo com base na persuasiva avaliação de que “Marcelo é o pior candidato, com excepção de todos os outros”.
No campo dos que, à direita, não se resignam a votar Marcelo (pelo menos à primeira volta), destaco António Pedro Barreiro (“Em tempo de vésperas, o prelúdio do marcelismo é a vitória da nebulosidade. É um projecto de unificação nacional em torno do vácuo”) e Carlos Guimarães Pinto (“Para lutar por um espectro partidário que a represente, a direita tem que demonstrar nas urnas que não está no bolso de qualquer candidato que se apresente como mal menor. A direita tem que demonstrar que o seu voto também precisa de ser conquistado”).
Para quem não consiga “engolir” Marcelo e a campanha que tem feito, Maria de Belém poderá ser uma opção atractiva de voto táctico. A candidata dificilmente provocará grandes entusiasmos mas votar em Maria de Belém pode ser visto como votar simultaneamente contra Marcelo (obviamente), Nóvoa (o seu rival à esquerda) e… António Costa (para quem um bom resultado de Maria de Belém face a Sampaio da Nóvoa seria, no mínimo, embaraçoso).
A terceira alternativa pode ser o chamado “voto de protesto”. Se Marcelo se pretende posicionar para os eleitores de direita como o candidato TINA (“There Is No Alternative”), Tino (de Rans) pode ser uma opção válida em termos de mensagem, em especial para quem não considere nenhum dos restantes candidatos aceitável (recordo que em 2011 José Manuel Coelho conseguiu 4,49% e quase 200.000 votos, numa eleição em que os votos brancos e nulos superaram em conjunto os 6%).
Outras alternativas para manifestar insatisfação, além dos brancos e nulos, podem ser Henrique Neto (mais pelo trajecto pessoal, carácter e integridade do que pela substância do discurso), Paulo Morais (um candidato monotemático numa eleição em que alguns dos principais candidatos parecem ter menos um tema que ele) ou Cândido Ferreira (o ex-líder da distrital de Leiria do PS que tem sido o mais veemente e corajoso de todos os candidatos nas críticas a Sampaio da Nóvoa).
Para quem não se sentir motivado por qualquer das alternativas anteriores, resta a opção de ficar em casa no dia 24 de Janeiro, eventualmente a reflectir sobre como poderia ter sido diferente a transição democrática em Portugal se o país tivesse contado com uma figura como a do Rei Juan Carlos de Espanha. Em 2006, nas últimas eleições presidenciais em que não havia um incumbente, mais de 61% dos eleitores inscritos votaram. Veremos quantos votarão no próximo dia 24 de Janeiro.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa