Como se resolve as insuficiências do SNS, que afligem utentes e afastam profissionais? Como se dá remédio às frustrações do ensino estatal, que revoltam professores e inquietam famílias? Demitindo os ministros, mudando o governo? Certamente que ajudaria. Mas convém perceber o que estes ministros e este governo representam, para acertarmos no que convém exigir.

A degradação dos serviços públicos tem dois aspectos: por um lado, são os utentes que não são servidos adequadamente, do que é exemplo o tempo de espera para consultas médicas, ou ainda os novos e mais modestos objectivos para o ensino da matemática; por outro lado, são os profissionais dos serviços que não se sentem compensados pelas remunerações e carreiras, e protestam, como ultimamente os professores, ou se vão embora, como médicos e enfermeiros.

É verdade: nem tudo se deve ao nosso governo socialista. Os serviços públicos estão destinados a enfrentar uma procura cada vez maior e cada vez mais exigente, com o envelhecimento da população no caso da saúde, ou a valorização das competências efectivas no caso do ensino. A inflação teria sempre agitado os assalariados. Mas muitas das dificuldades foram criadas pelo governo socialista, e convém compreender como e porquê. Para os socialistas, a prestação de serviços pelo Estado na saúde, na educação ou ainda nos transportes, não tem a ver com qualquer vontade de servir a população. Trata-se antes de impor um certo modelo de sociedade, em que os principais sectores da economia devem ser dominados pelo Estado. Na actual economia de serviços, a saúde e a educação estão entre esses sectores, e é fundamentalmente por isso que os socialistas rejeitam quaisquer sistemas que ponham em causa a prestação directa desses serviços pelo Estado, mesmo que esses outros sistemas possam garantir melhores serviços para toda a gente. O socialismo é assim.

Ao limitar o mercado, o projecto ideológico socialista impede que a saúde ou a educação beneficiem mais profundamente da inovação de que, noutros sectores de serviços tão cruciais como a saúde e o ensino, o empreendimento privado tem sido capaz (por exemplo, no retalho alimentar). Mas há ainda outro efeito nefasto. Na saúde, na educação ou nos transportes, o que importa aos socialistas não é o utente, o aluno ou o passageiro, mas o funcionário. Os serviços são, para os socialistas, um meio de aumentar o emprego do Estado, e assim expandirem a massa dos que esperam converter em clientelas políticas. Foi por isso que o emprego público inchou desde 2016 até atingir um máximo histórico (741 mil em 2022, mais 85 000 do que em 2014), sem qualquer melhoria dos serviços. Mas muitos empregados significam, para um Estado limitado pelas suas dívidas, pouco para cada um, ou menos do que cada um pensa que merece. Temos assim o descontentamento. Para a sociedade no seu todo, o resultado é um enorme esforço fiscal, que dissuade o investimento e o trabalho, acrescido de um duplo custo para as famílias que, além de pagarem impostos, ainda recorrem, para se garantirem melhores serviços, aos prestadores privados de saúde e de educação.

Serviços que não se reformam, isto é, que não se tornam mais eficientes e mais eficazes, degradam-se gradualmente, e um dia acabam. O poder socialista, porém, finge que o problema são as reformas: reformar, na mitologia socialista, é “destruir a escola pública”, “desmantelar o SNS”. Tornar-se-á cada vez mais claro que impedir reformas é que significa “destruir e desmantelar”. Portanto, peçam a demissão dos ministros, exijam a mudança de governo, mas pensem também em mudar o sistema socialista. É o socialismo, estúpidos!

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