Seis meses depois do lockdown as escolas e as universidades vão reabrindo, mas também re-fechando. Abrem-se portas, fecham-se turmas, isolam-se grupos de crianças e jovens, professores e alunos voltam para casa para cumprir quarentenas mais ou menos penosas e solitárias, enquanto outros têm a sorte de poder continuar a ter aulas presenciais.

Disse a sorte? Sim, é uma sorte podermos voltar a estar cara a cara, olhos nos olhos, com alguma normalidade e até proximidade, apesar do distanciamento social e de todos os protocolos sanitários que nos cabe cumprir escrupulosamente.

O Instituto Superior Técnico reabriu ontem e a alegria foi a marca do dia. Para muitos alunos, professores e staff foi como se o espaço da Alameda (e, presumo, também o do Tagus Park) tivesse aberto para uma grande festa inaugural. Impressiona o entusiasmo e a adesão dos que estiveram presentes. Mais do que impressionante, foi contagiante. Diria mesmo comovente, pois percebia-se o cuidado individual no cumprimento das novas regras.

Moro quase ao lado do IST, mas não falo apenas a partir do que observo da minha janela. Falo por ter conversado demoradamente com o Presidente do Técnico, eleito em Janeiro deste ano, quando nada nem ninguém poderia prever o impacto desta pandemia. E falo, porque também eu participo dessa espécie de exaltação diária dos afortunados que se sentem gratos por poderem retomar alguma normalidade.

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Vejo nos meus alunos e em todos os que circulam no campus de Carcavelos, que é o que melhor conheço, uma atitude de extraordinária valorização da presença física dos pares, professores e equipas. Nunca como agora os alunos foram tão pontuais, nunca como agora foram tão assíduos e cumpridores, nunca como até aqui se interessaram tão massivamente pelo bem-estar uns dos outros.

Meio ano depois do início da pandemia, podemos fazer alguns balanços porque já percebemos o que está a funcionar e aquilo que poderá vir a ser o futuro próximo da Educação. Tudo mudou, desde o perfil dos alunos à forma como são transmitidas as matérias, passando pelo sistema de avaliações e estendendo-se aos critérios para definir os rankings das escolas, e se fosse possível resumir, de forma genérica, aquilo que faz de uma escola a melhor escola do mundo, diria que é aquela que ensina a aprender.

Pode soar demasiado vago e, porventura, redundante falar em ensinar a aprender, mas é precisamente disso que se trata agora mais do que nunca. Num tempo de mudança exponencial e incerteza constante, as universidades e as escolas de todos os ciclos e latitudes são chamadas a refletir sobre métodos eficazes de aprendizagem.

O que era deixou de ser, mas o que resultou durante estes seis meses, também pode não fazer sentido mais à frente. Certo, certo, parece ser apenas uma realidade: aprendemos mais e melhor se pudermos contar uns com os outros, se tivermos oportunidade de confirmar e contestar teorias em salas de aula, se pudermos contrastar experiências em laboratórios reais, se pudermos estar cara a cara, na presença física de pares e professores.

Por outras palavras, mesmo os alunos mais relapsos e os professores mais desmotivados passaram a valorizar extraordinariamente a componente presencial.

Claro que isto não quer dizer que o ensino digital e todas as mudanças operadas na rede e no parque escolar tenham sido em vão. Muito pelo contrário! Agora que todos sabemos que podemos estar online, que todos perdemos o medo de não sermos capazes de ensinar e aprender à distância, é importante refletir sobre o que se segue.

E porque está tudo em aberto e ninguém tem respostas definitivas, vale a pena ouvir a opinião de quem está na linha da frente, a inaugurar novos caminhos, a apostar em estratégias inovadoras e até disruptivas, como cursos e aulas sem livros nem manuais, em que os alunos nem sequer têm que ter background académico, basta-lhes ter mais de 17 anos, como acontece na novíssima Escola 42, considerada uma das melhores escolas de programação do futuro. Fundada em 2013, em Paris, a 42 tem mais de 10 mil alunos espalhados por 20 países e também já existe em Portugal.

É nesta lógica de abertura à novidade, mas também de balanço sobre o que passou e ponderação sobre aquilo que já está em curso, que vamos conversar já amanhã, em direto, aqui no Observador, com representantes de escolas e universidades, a partir das 18:30.

O painel será composto pelo professor de Finanças Pedro Santa-Clara, sempre na linha da frente e agora ainda mais com a escola 42, pela professora Cristina Albuquerque, vice-reitora da fabulosa Universidade de Coimbra, a mais antiga de Portugal e uma das mais antigas do mundo onde a inovação é uma prática diária, e pelo professor Rogério Colaço, presidente do Técnico, a grande referência nacional na formação e investigação na área das engenharias, mas também no ensino das novas tecnologias.

E é da possibilidade de enunciar e conferir boas práticas educativas, percebendo o que é eficaz, mas também o que já não está a funcionar, que podemos sair todos mais ilustrados sobre o que é ensinar a aprender.