O Chega teve um comportamento lamentável no Parlamento. Desrespeitou-o e aos portugueses nele representados e teve a desfaçatez de atribuir à presença de Lula da Silva as suas vergonhosas acções, como se o debate político se fizesse com arruaças em vez de argumentos. Como se, a despeito da discordância com o convite a Lula da Silva, não lhe devesse o respeito institucional devido a qualquer Presidente ou convidado para a casa da democracia portuguesa.

Como se isto não fosse suficientemente mau nas celebrações do 25 de Abril que o Chega abomina, um pouco mais tarde, nos jardins de São Bento, António Costa decide responsabilizar os media pela visibilidade do Chega e, para confirmar o óbvio, antecipa as consequências das suas declarações à jornalista que o entrevista «para se entreter nos próximos dias a poderem-me bater». Gramática à parte, entretenhamo-nos, então.

O Chega, e António Costa sabe-o, é um partido que vive da contestação ao governo socialista, cresceu durante a sua governação e perante a demissão de Rui Rio se constituir como oposição. O Chega, e António Costa sabe-o e usa-o, é, ou foi, o garante de votação no Partido Socialista, sustento do clássico nós ou o papão fascista. O Chega, e António Costa sabe-o, tem servido ao partido socialista para se radicalizar, isto é, associar-se à extrema-esquerda, a mesmíssima esquerda que defende a «paz» de Lula da Silva para a Ucrânia, a estatização da coisa pública, a expropriação e os primores wokistas que cancelam e nos fracturam em mil pedaços enquanto a discussão política se polariza.

Nada disto é novo. Afirmei-o aqui, no Observador, a propósito do taticismo de Miterrand que este governo caricaturiza sem medir os danos, sem considerar que um país pobre como Portugal não pode cometer os mesmos erros do que um país rico como a França. Em 1982, para conter Chirac e garantir a sua reeleição, o recém-eleito Miterrand, homem de visão a longo prazo, promoveu Jean Marie Le Pen. Desenhou o papão do fascismo e levantou o famoso pas d´ ennimis à gauche. Foram vinte anos de poder socialista garantidos por Le Pen. O resultado daquele taticismo é a França de hoje, partida em duas, radicalizada, o partido socialista obliterado – Macron, que acabou de o enterrar, é o cínico da política nacional e o adolescente da política internacional e nem o excelente Bruno Le Maire o salva. Isto para dizer que António Costa conta com o Chega para garantir o poder, não apenas convocando a esquerda mas assimilando o centro direita aos populistas e aos extremistas: fê-lo há dias quando afirmou, sem qualquer pudor, que o PSD «tem um comportamento, uma atitude, um vocabulário que não corresponde àquilo que é um partido institucional». Palavras de quem, recordo, se aliou ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português, paladinos anti-europeístas, pacifistas-putinistas.

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O Partido Socialista de António Costa vem responsabilizar os media pela visibilidade do Chega quando, em segunda legislatura maioritária, depois de uma primeira em aliança com a extrema-esquerda, ou seja, com 8 anos de governação, com apoio presidencial e uma extraordinária «bazuca» em mãos, fundos de milhões, continua sem uma visão para o país esmagado pelos impostos e que a cada dia empobrece: temos o mais baixo crescimento do PIB da Europa, e no mundo, somos o 13º a contar do fim.

Posto isto, parabéns, António Costa, pela sua irresponsabilidade no crescimento do Chega, do populismo, ou, para usar as suas palavras, pela sua irresponsabilidade por «esse vírus que se vai transmitindo» — e obrigada pelo entretenimento. E, claro, porque escrevo contra o Chega e ele cresce: mea culpa.

A autora escreve segundo a antiga ortografia