Quando todos ficámos em casa antes mesmo das entidades oficiais o indicarem, para depois assistirmos aos corredores da AR no 25 Abril, ao desfile de autocarros na Alameda no 1º de Maio, quando o PCP tem a sua Festa do Avante, 24 horas depois de terem sido proibidos os festivais de verão, vêm-me dizer que não vou poder ir à praia?

Pois então prendam-me porque eu vou à praia! Vou à praia com aquilo que de melhor me acompanha. Com bom senso. Vou à praia da mesma forma que vou ao supermercado — vou manter a distância de segurança. Poderei levar máscara consoante a praia para onde vá e durante o percurso até encontrar o local que me permita estar tranquila e distante dos demais. E acredito que todos os restantes façam o mesmo.

Nestes dias assisti (por televisão) à polícia a mandar sair da água banhistas porque só se pode fazer surf… Qual é o sentido disto? O surfista está mais protegido que o banhista? Não nos podemos deitar numa toalha mas podemos caminhar? Mantenho mais distância enquanto caminho do que estando parada? Ou confundo o vírus? Ah e tal, este corpo está ali parado é mesmo bom para me hospedar! Aquele que vai a andar, é melhor deixar ir… espero que este corpo em cuja ponta da língua me passeio passe mais perto pelo que está deitado… e ver se não me magoo quando saltar lá para baixo!

Nas duas vezes que resolvi dar uma volta de bicicleta, fui questionada pela polícia. Não obstante estar sozinha e ter feito questão de ir por ruas desertas, resolveram deixar clara a sua autoridade. Ameaçando que “estavam a falar comigo a bem mas que podiam passar a mandar”! Logo a mim que adoro ameaças. Abandonei a discussão quando entretanto outras pessoas se aproximavam e já éramos seis num espaço de dois m2. Resolvi que era melhor tratar de mim própria já que com as autoridades, aí sim, eu estava a ser exposta ao possível contágio. E isto foi antes do 1º Maio.

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Depois destes dois episódios e de estar impedida de sair do meu concelho nos fins de semana de Páscoa e do 1º de Maio, e de assistir ao que todos assistimos, querem-me dizer que só posso ir à praia fazer surf? Está tudo maluco?

Se em vez de inventarem proibições, distribuíssem máscaras de forma gratuita, incutissem bom senso na comunidade e aprendizagem quanto ao uso correcto das protecções necessárias era o melhor que faziam.

Bom senso que deve começar nas entidades oficiais que ora dizem uma coisa, ora dizem outra. Ora não se deve usar, ora se é multado por não usar. Na AR usam mas para falar tiram. Pousam as mãos em tudo, põem máscara, tiram máscara. Cada um de nós já mostrou ter mais bom senso que os polícias e governantes.

Eu percebo que as informações podem e devem evoluir ao ritmo a que o conhecimento também evolui mas não é com proibições impossíveis de implementar – pelo menos de forma transversal ao país e às populações — que lá vamos.

Vão fechar que praias? As urbanas, a que todos podem ter acesso? Passam a ter direito a praia apenas os que têm casas com praias (quase) privadas? Neste país, com areais a perder de vista e acessíveis a poucos? Até a praia passa a ser exclusivo de alguns?

E nas praias urbanas, em que o acesso é possível a partir de qualquer ponto – vamos pensar na costa do Estoril ou da Costa da Caparica – vão estender um cordão humano policial ao longo da costa? Ou acham que as pessoas, fartas de ser gozadas pelo PCP, com o vergonhoso compadrio do PS que tem medo de ser confrontado com dificuldades em governar, não vão saltar fitinhas? Está mais que visto que a preocupação do governo não é a saúde publica. Foram, são e serão os resultados eleitorais. E a garantia de se manter no poder por muitos e bons anos. Se fosse a saúde e os idosos, o SNS não estava no estado em que está, não havia filas de espera de anos para consultas e cirurgias, não havia alas pediátricas anos em espera para serem construídas, não havia falta de cuidados paliativos, não havia falta de lares com condições dignas para quem deles precisa, etc. etc. etc.

Não é opinião geral médica de que é mais saudável estar ao ar livre do que confinado em casa? De que problemas respiratórios se tratam na rua e não em casa? De que a prática do exercício físico é saudável? De que o uso da máscara reduz o contágio? Então distribuam máscaras e deixem-nos em paz. Há uma série de gente – de todas as idades – a precisar de tratar outras doenças tão ou mais graves e estão enfiados em casa a definhar. À espera de morrer, não da doença, mas da cura!

E os idosos … aquele grupo que tem de ser protegido. Já dei a minha opinião sobre esta protecção em artigo anterior. Decorrido mais 1 mês, não tenho qualquer dúvida ou restrição. Com alguns cuidados, os “velhos” têm todo o direito a estar com os seus. A viver os últimos anos que têm pela frente, da forma que mais prazer lhes dá. A estar com os filhos e com os netos.  A passear e desfrutar do ar livre. A ir almoçar a um restaurante com uma vista bonita que lhes recorde o bom que é viver, quando já muitos dos seus amigos partiram.

Deixem-nos em paz. Os portugueses têm-se revelado (demasiado) calmos mas temos o nosso limite. Aguentamos a carga fiscal que enviesa o mérito do nosso trabalho. Aguentamos a corrupção que enviesa a nossa economia.  Aguentamos o Ferro Rodrigues que enviesa a nossa moral. Aguentamos o Novo Banco. Aguentamos as mentiras. Aguentamos os tachos. Mas a praia… a praia é o que nos aguenta a nós e não vamos deixar que nos tirem!