Como é que possível que a Revolut que foi criada em 2015 valha o mesmo que 12 vezes o valor do Millennium BCP? Será que isto faz sentido ou são os fundos de venture capital que estão loucos?

A verdade é que alguns fundos parecem estar loucos tal é a fome com que têm vindo a tomar posições em várias Fintechs ao longo de 2021. Em particular o Softbank do Japão liderou dois mega rounds em duas Fintechs que as colocou em patamares de avaliação raramente vistos em empresas não cotadas.

Em junho, o fundo Vision 2 do Softbank liderou um round de 556 milhões de euros de investimento na Klarna, uma Fintech Sueca especializada em pagamentos online Buy Now Pay Later e que foi avaliada em cerca de 40 mil milhões de euros, o que representou uma valorização de 300% face à avaliação de 2020, e ocupa agora a posição do unicórnio europeu mais valioso.

Em julho, os fundos do SoftBank e do Tiger Global lideraram um round de cerca de 700 Milhões de euros de investimento na Revolut avaliando-a em cerca de 29 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 12 vezes a capitalização bolsista do Millennium BCP que valia 2,4 mil milhões de euros em 6 de outubro. É importante referir que face à última avaliação da Revolut de 2020, isso corresponde a um crescimento de 5 vezes, tornando-a o segundo unicórnio mais valioso da Europa.

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Mas, sabendo que grandes grupos bancários europeus com muito mais anos de existência, com uma vasta presença em vários mercados europeus e quotas de mercado incomparavelmente maiores possuem avaliações pouco maiores do que as destas duas Fintech, como é o caso do BNP Paribas que vale 70 mil milhões de euros ou o Santander que vale 56 mil milhões de euros, o que é que os fundos de venture capital estão a ver que o resto do mercado de capitais não está?

Em primeiro lugar, estes fundos apostam sobretudo em crescimento e, de facto, é impressionante o ritmo de crescimento alucinante que estas Fintech têm conhecido nos últimos anos, tendo a Klarna alcançado uma base de clientes de 90 milhões em 16 anos e a Revolut 15 milhões em 6.

Em segundo lugar, não há dúvida que estas Fintechs possuem vantagens competitivas face aos incumbentes, não só porque apresentam custos mais baixos mas principalmente porque oferecem uma experiência de utilização superior aos clientes. O que estes fundos de venture capital estão a apostar é que, se estas startups tiverem fundos quase ilimitados para crescer, elas vão capturar rapidamente uma grande parte da quota de mercado dos bancos mais tradicionais.

Em terceiro lugar, existe também uma aposta de que o bolo a repartir pelos players mais fortes não se vai manter igual mas irá crescer significativamente, especialmente devido ao e-commerce e à tecnologia que torna a concessão de crédito cada vez mais fácil e embebida no quotidiano da vida dos consumidores.

E por último, é provável que estes rounds sejam os últimos antes da ida para a Bolsa onde existe normalmente uma procura muito grande por Fintechs, pelo que estes fundos de Venture Capital estão provavelmente a apostar num retorno rápido e numa boa apreciação destes investimentos.

Em conclusão, estes elevados investimentos são de alguma maneira profecias autorrealizáveis, pois com um orçamento tão grande a capacidade de investir em tecnologia, oferecer condições a clientes ou parceiros e atrair talento é incomparavelmente maior do que as dos incumbentes. Refira-se, a título de exemplo, que só em Portugal a Revolut está neste momento a recrutar cerca de 100 pessoas.