A Amazon continua imparável no seu processo de expansão para o sector financeiro, desta vez com o lançamento no final de Abril, na sua cadeia de supermercados Whole Foods, da possibilidade de os pagamentos serem feitos apenas com a palma da mão.

Depois de ter disrompido o comércio de livros e basicamente de tudo o que possa ser comercializado online, depois de ter criado as lojas autónomas Amazon Go sem caixas de pagamento, em que através de visão computacional consegue identificar os produtos que os clientes colocam no cesto de compras, já para não falar das inovações como o Prime, em que a troco de uma assinatura, os consumidores ficam isentos de pagar taxas de entrega, e o Dash, que é um excelente exemplo de Internet of Things, em que carregando no botão de um dispositivo nas suas casas, automaticamente é enviada uma encomenda de determinados produtos, como detergentes ou outros consumíveis, sem ter que fazer login, a Amazon entra agora nos pagamentos nas lojas físicas através da mera utilização da palma da mão.

Muita gente não sabe, mas a Amazon já é um player muito importante no crédito a PMEs, concedendo cerca de mil milhões de dólares por ano às PMEs que operam no seu Marketplace e que a Amazon deteta que estão estranguladas por tesouraria e que poderiam vender mais se tivessem mais recursos financeiros. Aqui, a Amazon ganha duplamente, não só através dos juros que cobra, mas também através das vendas adicionais dos seus parceiros, que assim lhe geram mais comissões. E beneficiando de taxas de incumprimento muito baixas, pois não só não é qualquer empresa que pode beneficiar desse crédito, sendo somente aquelas a quem a Amazon oferece proactivamente essa possibilidade, mas também porque as prestações são debitadas na conta da PME junto da Amazon onde são creditadas as suas receitas, pagando-se a Amazon em primeiro lugar, o que reduz a probabilidade de incumprimento.

Com o lançamento do Amazon One, que permite o pagamento com a palma da mão nas lojas físicas, a Amazon pretende atacar o mercado dos processadores de pagamentos como a Visa e a Mastercard, a quem os comerciantes pagam 110 mil milhões de dólares apenas nos Estados Unidos.

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É possível que na Europa, devido à diretiva de proteção de dados pessoais (GDPR), a autorização para que a Amazon armazene as impressões da palma da mão de cada cliente e as use como meio de pagamento, não seja um processo muito fácil para a Amazon, mas também é verdade que a Comissão Europeia tem feito muitos esforços para tornar o mercado de pagamentos mais competitivo, nomeadamente com o lançamento da diretiva dos serviços de pagamentos revista (DSP2), pelo que não é líquido qual será a receção deste novo meio de pagamentos.

A vantagem para os comerciantes, para além de comissões mais baixas que a concorrência, é a redução da fricção no ato de pagamento e também o aumento da segurança, pois a nossa palma da mão é um identificador único. Adicionalmente, como sabemos, pagar com notas cria algum sofrimento no ato de pagamento, pagar com cartão de crédito faz doer menos, pagar com contactless ou com o telemóvel quase não dói nada… agora, imagine-se o que será pagar apenas com a palma da mão?

Estamos cada vez mais próximos do dia que os filmes de ficção científica têm antecipado, vendo anúncios personalizados para cada um de nós, sendo tratado pelo nome nas lojas e, um dia destes, já nem precisamos de voltar a casa quando nos esquecermos da carteira ou do telemóvel, pois poderemos pagar as compras apenas com a palma da nossa mão.