Os EUA e a Europa têm andado nos últimos tempos afadigados no vaivém diplomático e até na descarada coerção a Israel, não só para suavizar a derrota do Hamas em Gaza, mas também para evitar que a guerra entre o Líbano e Israel escale para patamares devastadores.

Na minha opinião, além de hipocrisia e falta de solidariedade para com um aliado, quando não mesmo aberta hostilidade, como é o caso do inacreditável Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, o socialista Josep Borrell, trata-se de um erro estratégico de proporções épicas.

Esta guerra está a acontecer há oito meses, altura em que o Hamas e o Hezbollah decidiram atacar Israel. Há oito meses que o fazem diariamente, e Israel, a pedido dos EUA e da UE, tem respondido de forma controlada, especialmente no Norte, onde os países ocidentais agem como avestruzes e fazem por acreditar que o Hezbollah pode ser contido.

Os factos gritam o contrário.

Em concertação com o Irão e os seus proxies, o Hezbollah lançou, desde 07 de Outubro, ataques maciços contra Israel que forçaram cerca de 100.000 israelitas a abandonarem as suas casas.  A contabilidade não engana: Cerca de 5000 foguetes, mísseis, e drones foram lançados do Líbano sobre Israel. Trata-se de um ataque sustentado, há até navios fundeados em águas internacionais, mas o sistema internacional não se move, não há pressão sobre o Hezbollah, o Líbano e sobretudo sobre o Irão, é como se tudo fosse normal.

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Não há clamor internacional, não há manifestações indignadas, as televisões não passam imagens lancinantes, Guterres assobia para o ar, Borrell não pontifica, os procuradores e juízes dos tribunais internacionais não mexem uma palha, o Conselho de Segurança da ONU não aprovou nenhuma resolução condenando o Líbano, a Africa do Sul não move processos contra o Líbano no ICJ, nas universidades do Ocidente não há estudantes a acamparem, a vandalizarem e a manifestarem-se, exigindo o fim da agressão não provocada do Líbano contra Israel.

Os EUA e a Europa, em vez de ajudarem Israel a resolver o problema que o Hezbollah criou, ou pressionarem os governos libanês e iraniano para conterem o movimento islamista, empenham-se em pressionar o Estado Judaico a silenciar a sua resposta ao ataque. “Tem de haver um acordo que permita aos israelitas regressarem às suas casas no Norte com garantias de segurança”, disse um responsável americano à CBS News.

Acontece que era isso que estava em vigor desde 2006, com uma Resolução do CS da ONU e uma força internacional de dez mil soldados, a “garantirem” que o Hezbollah não se movia a sul do Rio Litani.  Resultado prático de tal acordo: Zero ou pior, porque são conhecidos bastos casos de colaboração desta força com o Hezbollah, por vezes por sintonia de ideias, outras por ameaças directas dos islamistas.

Na verdade os acordos com os islamistas não passam de tinta em papel, meras manobras dilatórias para sobreviverem a situações de dificuldades e que não têm qualquer intenção de honrar.

O Hamas  e o Hezbollah violaram os acordos e voltarão a violar, assim que tiverem ordens da sua cadeia de comando em Teerão, pelo que a única maneira de Israel prosseguir o objectivo primordial de qualquer estado (a segurança dos seus cidadãos), é entrar nos locais de onde é atacado e destruir e/ou empurrar os seus inimigos para longe das fronteiras. No Líbano e em Gaza, com bombardeamentos diários sobre populações israelitas, e centenas de milhares de pessoas refugiadas no centro do país, é evidente para todos que o que tem de acontecer, irá acontecer.

Relativamente ao Líbano, nessa altura sim, ouviremos Guterres, a ONU, a UE, a internacional antissemita e os “analistas” do costume, a exigirem o fim imediato da agressão israelita a um país soberano.

Haverá protestos nas ruas do Ocidente, reportagens angustiantes sobre o “genocídio” dos civis inocentes do Líbano, acções do TPI, do ICJ, dos procuradores, apelos da Mariana Mortágua, do Roger Waters, e da Yolanda, ao boicote aos judeus, acampamentos, manifestações e vandalizações de estudantes universitários e outros ignorantes, nas principais cidades ocidentais.

Nem Guterres nem Borrell, nem nenhum dos socialistas que se refastelam em cargos internacionais se lembrarão de que, durante oito meses, Israel foi atacado diariamente pelo Hezbollah.

Israel sabe disso, os judeus estão habituados ao milenar antissemitismo, agora disfarçado de “antissionismo”, essa extraordinária palavra que permite aos antissemitas verbalizarem o indizível, pelo que terá apenas de ignorar o vozear da matilha, e fazer aquilo que qualquer país faria ao ver as suas fronteiras violadas e os seus cidadãos atacados: Resolver o problema!

O que faria a França, por exemplo, se durante 8 meses, estivessem a chover mísseis sobre as suas povoações, lançados por um grupo terrorista na Bélgica? Continha-se? Silenciava a resposta? Aceitava transformar os seus cidadãos junto à fronteira, em refugiados no centro do país?

O que se está a passar em Gaza, mostra a cega hipocrisia de alguns líderes ocidentais. Ao longo deste conflito, condenaram quase universalmente Israel pelas suas acções de legítima defesa, concedendo generosamente ao Hamas o estatuto de vítima. Espanha, Noruega e Irlanda premiaram até o terrorismo do Hamas, reconhecendo a “Palestina” (Quem? Com que fronteiras?).

As mensagens de Sinwar, recentemente publicadas pelo Wall Street Journal, confirmam que era isso mesmo que esperava, confiando na cegueira ocidental e no velho antissemitismo, para atar as mãos dos israelitas, levando-os a aceitar o inaceitável.

A ignorante e manipulada opinião pública ocidental, alimentada por uma cobertura mediática enviesada, incorporou a inacreditável negação ou justificação das atrocidades do Hamas. A guerra tornou-se a “guerra de Gaza”, como se o Hamas não estivesse no elenco. Os números dos mortos e feridos são das “autoridades de saúde“ de Gaza, como se estas fossem outras que não o Hamas e como se este não usasse os civis, justamente para morrerem em grandes quantidades, e alimentarem a máquina da vitimização, como reconheceu maquiavelicamente a liderança do Hamas.

Agora, a propósito de uma entrevista do Almirante Daniel Hagari, porta-voz das Forças Armadas Israelitas, em que dizia que o Hamas é também uma ideia e como tal não pode ser destruída, os corifeus do antissemitismo bradam que não vale a pena Israel defender-se, deveria fazer um acordo para libertar os seus reféns e aceitar que não é possível vencer o Hamas ou o Hezbollah, pelo que tem apenas que aceitar os ataques islamistas  com bonomia e resignação.

Os habituais generais putinistas da CNN, esplêndidos no seu ridículo, dizem exactamente isso, como se ignorassem que a História está repleta de casos em que o lado vencedor exigiu a rendição incondicional do inimigo.

Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, Eisenhower disse que “Aceitaremos nada menos do que a vitória total!”  O nazismo era uma ideia não podia ser destruído como tal, mas isso não implicava que não pudessem ser destruídos os seus instrumentos militares e políticos. Os russos entraram em Berlim, a Alemanha rendeu-se incondicionalmente, o nazismo permaneceu como ideia, mas os nazis deixaram de decidir e a vida continuou em paz. No outro lado do mundo, o Japão rendeu-se incondicionalmente, face à ameaça de destruição total que constava, preto no branco, na Declaração de Potsdam.

Em ambos os casos, as potências derrotadas acataram a rendição incondicional, os alucinados deixaram de poder tomar decisões e a paz sobreveio. Pelo contrário, as guerras existenciais que terminam com acordos negociados, tendem a ser o prelúdio das seguintes.

Aconteceu com a Primeira Guerra Mundial, com a Guerra da Coreia, com a 1ª guerra do Iraque, com a Guerra da Ucrânia em 2014, etc. A receita real para o conflito perpétuo é concluir acordos negociados que deixem os vencidos armados e no poder.

Ou seja, para que o fim da guerra leva a uma paz duradoura, são precisos sacrifícios e determinação, mas não é uma ocorrência rara. Quando a destruição do inimigo é combinada com uma paz generosa, como os americanos fizeram após a Segunda Guerra Mundial, a paz duradoura torna-se o fruto mais provável.

Se algo a História ensina, é que deixar o Hamas e o Hezbollah sobreviverem de armas na mão, após o que se passou em 7 de outubro e daí para cá, é lançar a sementeira para um futuro conflito ainda mais sangrento. Talvez seja com isto que os antissemitas, declarados ou disfarçados, sonhem mas, face a tudo isto, é hoje patente que o mundo se está a decantar em dois grandes blocos antagónicos.

De um lado a civilização ocidental, com as suas democracias liberais e a perspectiva de uma ordem internacional baseada sobretudo em regras. Do outro, autocracias, ditaduras e totalitarismos, que preferem uma ordem internacional totalmente hobbesiana, onde os predadores podem fazer o que lhes apetece.

De permeio aqueles que esperam para ver para onde sopra o vento e que se inclinarão para o lado que aparente mais determinação e poder, porque o medo é mais forte que os valores. Nesta conjuntura, o que o Ocidente deve fazer, não é abandonar os seus e apaziguar os inimigos, mas sim cerrar fileiras, apoiar os aliados e ir à luta.