A maior crise que atravessamos como comunidade é a falta de propósito. Nós, os portugueses, não sabemos pelo que lutar enquanto coletivo.

Assalta-nos o pesado sentimento de que Portugal é um país completamente à deriva.

O país foi construído por gerações antepassadas de portugueses (os nossos avós e pais) que sabiam qual era o foco, o objetivo, a luta e sentiam que os seus sacrifícios compensavam por mais difíceis que fossem. Nos anos 70 acabaram com a Guerra do Ultramar e forçaram a liberdade e a democracia. Nos anos 80 quiseram ser Europeus e integraram-se no projeto que é hoje a União Europeia. Nos anos 90 já com o Muro de Berlim derrubado, continuaram esse caminho de integração com a moeda única (o euro) e com a supressão dos controlos de fronteira e consequente abertura ao espaço Schengen, tudo isto a par de um esforço de modernização e de infraestruturação que aproximou o país da Europa, e também o aproximou a todas as suas partes.

Tem-se a sensação de que Portugal, nesses primeiros 30 anos de Democracia, sabia claramente o que tinha de fazer para ser um país da linha da frente. Sentia-se que quando se arregaçavam as mangas o resultado seria o progresso de Portugal rumo a um futuro de prosperidade.

A força da esperança permitiu aos portugueses sonharem com uma sociedade onde a sua luta diária e o suor do trabalho fossem recompensados.

Aníbal Cavaco Silva foi, nesses tempos, e para essas gerações, o verdadeiro homem do leme.

Tenho ouvido com atenção os podcasts do Expresso: “Geração 70”, com Bernardo Ferrão, e ”Geração 80”, com Francisco Pedro Balsemão. E noto que há na voz daqueles portugueses esperança caída dos anos que passaram e frustração resignada do que se tornou a vida em Portugal. A esperança dando lugar à desilusão.

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João Miguel Tavares, nascido na geração de 70, fez a 10 de junho de 2019, nas cerimónias oficiais do Dia de Portugal celebradas nesse ano em Portalegre, um discurso absolutamente notável. Brilhante na forma, mas sobretudo no conteúdo da sua mensagem, onde, ponto por ponto, explicou e decifrou o desalento dos portugueses.

Mas faz ainda mais. Enuncia cabalmente o motivo que levou tantas pessoas no passado dia 10 de Março a terem saído das suas casas, para votar revoltadas com o estado de coisas no nosso país. A verdade insofismável é que nas últimas duas décadas falhámos às novas gerações.

Posto de forma simples: As expetativas da democracia foram goradas. Resumo tudo a esta citação desse mesmo discurso:

“O sonho de amanhã ser-se mais do que se é hoje vai-se desvanecendo, porque cada família, cada pai, cada adolescente, convence-se de que o jogo está viciado. (…)
O desespero não nasce do erro, mas do sentimento de que não vale a pena esforçarmo-nos para que as coisas sejam de outra forma – porque nunca serão. A falta de esperança e a desigualdade de oportunidades podem dar origem a uma geração de adultos desencantados, incapazes de acreditar num país meritocrático.”

A verdade é que o sentimento de abandono, de falhanço, de logro, de engano, ou mesmo de traição, sentido por tantas pessoas neste país, quebra a ideia mais básica de cidadania, estraga o contrato entre o Estado e as pessoas, ao desvanecer o sentido de pertença pátrio que seria suposto ser inerente, pelo simples facto de serem portugueses de jure.

Penso haver ainda oportunidade para os moderados fazerem um ato de contrição. Para voltarmos a recuperar estas pessoas.

As pessoas que, tal como João Miguel Tavares diz, “Precisam de algo em que acreditar”.

Cabe agora a Luís Montenegro ser um timoneiro. Um comandante numa nova navegação que permita às pessoas voltarem a acreditar em Portugal. Um líder que desafie os portugueses para um novo desígnio. Um estadista que recupere o projecto “Portugal”.

Daqui a 10 anos gostaria de escrever sobre este legado de Luís Montenegro. Será certamente sinal de que Portugal se terá reencontrado consigo próprio, sem fé na utopia do populismo manipulado, mas sim num Portugal equilibrado, justo e com futuro. Isto quererá dizer que a missão da Aliança Democrática teria sido um sucesso.

Como diz o Hino da Aliança Democrática, “Eu vou com Portugal, agora é hora de fazer o meu país mudar”.

Precisamos mesmo de mudança!