Tenho constatado com desagrado, que vivemos num sítio onde mais vale iludir e investir muito tempo em ilusões, do que de facto em criar pela ação política um modelo de sociedade mais justo, onde se permita às pessoas conseguirem realizar-se, usando os seus sonhos e ambições para serem mais felizes.

Ora essa constante forma de iludir as massas tornou-se ao longo dos anos uma arma em política, que faz perigar bastante a qualidade da democracia e mete a nossa liberdade num canto obscuro, porque no fundo é mais fácil parecer que se faz, do que fazer de facto.

A ilusão a que todos estamos sujeitos aparece sob variadas formas e tem targets e públicos-alvo diversos.

Penso que não me engano, se disser que o maior veículo de transmissão de notícias, ainda é a televisão, a par dos jornais diários e da internet, mas é sobretudo pela televisão que milhões de portugueses são informados com o habitual turbilhão de informações dos vários programas, desde o telejornal, até aos programas que nos dizem o que é verdade e o que não é, ou seja, criando ilusões e percepções da verdade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tenho comparado este nosso mundo português à “Alegoria da Caverna” de Platão, nós continuamos a ver as sombras que nos impõem numa “caverna escura de ilusões”, sem que paremos para pensar, refletir e no fim entender a armadilha que nos montaram.

No fundo a grande maioria de nós é um espectador da própria desgraça, maquilhada de todas as formas num república que permite que alguns enganem muitos, sem consequências para os primeiros, tornando assim a nossa “caverna” platónica mais bonita e apetecível para que nós não procuramos sair em busca das alternativas.

Foi através da propaganda, que demasiadas formas de governo facínoras e tirânicos dominaram os seus cidadãos. Dou três exemplos de fácil compreensão: O nazismo de Hitler, o Comunismo da URSS, e tirania de Putin. Sabendo naturalmente que governaram no mundo homens como Mao na China, Salazar em Portugal, Franco em Espanha, Fidel Castro em Cuba ou mesmo o triste Maduro na Venezuela, sem falar da dinastia Kim na Coreia do Norte.

Já percebemos que as notícias ao serviço de quem governa criam ilusões na percepção das pessoas, então porque deixou de ser notícia do dia para a noite a questão dos russos pró Putin que recebiam refugiados ucranianos em Setúbal? Ou porque já não se fala sobre as consequências do incêndio de Pedrogão, uma das maiores catástrofes em solo nacional?

Que é feito do roubo de armas em Tancos, do atropelamento do carro do ministro Cabrita, do assassinato do ucraniano no aeroporto às mãos do Estado Português ou do vergonhoso caso dos dados oferecidos durante anos de manifestantes por Medina aos Kremlin?

Porque é que alguns casos desaparecem no mapa noticioso?

Nas artes ilusórias, o ilusionista tem sempre uma distração preparada para levar a quem é iludido a não perceber nada do que se está a passar, chamam a isso magia e no fim, o povo bate as palmas.

Em política, para fazer o povo bater as palmas, basta entreter com futebol, arranjar uma polémica com algum famoso da praça das aparências e de vez em quando umas sondagens para gáudio e discussão da turba.

Enquanto isso acontece, há notícias que desaparecem, ou propostas são chumbadas na Assembleia da República, que são mais tarde recicladas pela maioria e feitas bandeiras políticas.

Portanto a política e a vida pública são um grande palco de ilusionismo, onde vale apagar a história, reformular narrativas, criar realidades e até há tempo para reescrever a verdade para o que dá jeito no momento.

E assim, lá nos vamos esquecendo que António Costa foi nº2 de Sócrates e que é ministro desde 1997 e que o Partido Socialista faliu três vezes o país.

Mas rapidamente se diz mal de Cavaco Silva, primeiro-ministro que abriu a economia portuguesa, rasga-se em Durão Barroso que liderou o projecto europeu durante 10 anos e atira-se a matar em Passos Coelho que tudo fez para tirar Portugal do buraco do despesismo socialista.

A política não pode ser a arte destas ilusões, tem de ser a arte do serviço público, sob o perigo dos extremos se agigantarem contra as democracias liberais moderadas.

Disse e volto a dizer, temos de saber preservar a nossa democracia, porque neste mundo de mágicos e ilusionistas nada é garantido e na maioria dos casos as ilusões dão em problemas enormes e de difícil resolução.