Há países que calham ter uma esquerda Robin Hood: tiram aos mais ricos para dar aos mais pobres. Por cá calhou uma esquerda Xerife de Nottingham (mas sem o charme de Alan Rickman): tira às famílias e às empresas – já exangues depois da sangria fiscal a que a bancarrota de 2011 obrigou – para dar às clientelas – com vida confortável – dos partidos da geringonça.
Foi isso que o PS fez. Subiu impostos que incidem sobre o consumo dos mais pobres para quê? Não para aumentar prestações sociais, porque não as aumentaram e, de resto, o governo quer encolhê-las em 2017 em 100 milhões de euros. Nem para melhorar serviços: os gastos no SNS estão congelados e as escolas abriram sem funcionários nem dinheiro para despesas correntes. Mas para pagar os encargos com as 35 horas dos funcionários públicos (o grupo mais protegido no emprego e rendimentos desde 2008). E para aumentar os ordenados da função pública e pensões acima dos 1500€.
A versão mais suave dos xerifes de Nottingham do governo ainda é a de Mariana Mortágua. A deputada quer tirar aos ricos que o BE odeia – os capitalistas que criam riqueza e emprego – para dar aos ricos que votam no BE – aqueles que ganham supimpamente na função pública.
As boas intenções proclamadas pelos políticos – todos, que PSD e CDS estão aqui de braço no ar a pedir atenção – a cada aumento de impostos são, assim, meras aldrabices estudadas. Exemplos? Eu dou. Em 2002, quando começou a escalada do IVA, a desculpa para o aumento foi a manutenção das SCUT gratuitas para os utilizadores (e pagas pelos contribuintes, evidentemente). Não é preciso lembrar que o IVA continuou a subir e claro que as SCUT já têm portagens como as demais autoestradas, pois não?
As papas e os bolos com que Mortágua justificou o novo imposto sobre o património imobiliário foi o aumento das pensões em 5 ou 10€. Ora existem cerca de três milhões e meio de pensionistas. Mesmo se aumentassem todas as pensões em 10€, o gasto seria de 35 milhões de euros por ano. Mas o imposto Mortágua foi estudado para render 200 milhões de euros, 165 milhões de euros a mais do que a desculpa esfarrapada boazinha com que pretendiam atirar areia aos olhos dos tolos.
Quanto a António Costa, a sua palavra, neste campo como noutros, não vale. Quando aparece dizendo que quer baixar os impostos sobre o trabalho, já sabemos o que aí vem: baixa uns pozinhos no IRS de alguns (que se retirarão logo que necessário) para aumentar com mão pesada noutros lados. Uma coisa vos garanto: feitas as contas, a carga fiscal vai aumentar. E citando Margaret Thatcher, ‘não vale a pena pensar que outros vão pagar, esse outro é você’.
Pelo que, caríssimos, só temos um caminho: cacetada forte em quem propõe aumentos de impostos, quaisquer que sejam, sobre quem sejam. Temos de educar os governos para perceberem que mais apropriações do dinheiro dos contribuintes têm como consequência um casaco de alcatrão e penas – pelo menos eleitoralmente (e, nos anseios mais íntimos, literalmente). Extinga-se a nossa atual postura de carneiros sacrificiais perante os imparáveis aumentos de impostos. A mensagem é simples: quem alarga o saque fiscal, sofre. Genghis Khan tem de parecer pacato e ponderado perante a nossa ferocidade dirigida aos que nos aumentam os impostos.
Chego então aos novos impostos com que o Xerife de Nottingham, perdão, o primeiro-ministro Costa nos pretende asfixiar (mais) para o ano: os impostos sobre o tabaco e o álcool. Este governo da esquerda radical não fica satisfeito enquanto fumar e beber vinho ao jantar não estiverem só ao alcance da classe média alta para cima. Os pobrezinhos querem-se sem vícios, se faz favor, e a transportarem-se de bicicleta nas ciclovias construídas pelos autarcas socialistas.
E mais impostos sobre bens de luxo. O que são produtos de luxo? Tenho a resposta: são o que for preciso para pagar o despesismo socialista com as suas clientelas, desde um veleiro às unhas de gel. E, claro, o estudado imposto sobre alimentos com alto (ou baixo, lá está, o que for preciso para arrecadar receita fiscal) teor de sal, gordura ou açúcar. Como as famílias financeiramente mais debilitadas gastam maior proporção do rendimento em alimentação, isto é um ataque direto aos mais pobres. Mas eu já falei do Xerife de Nottingham, não já?
Na mesma linha, antes de taxar quem recebe reformas milionárias – que exigem dos presentes e futuros trabalhadores muito mais dinheiro do que no seu tempo os felizes contemplados descontaram, apropriando-se assim massivamente dos recursos alheios – o PS prefere aguçar as garras às pensões mínimas (sendo que não sou contra condição de recursos em prestações sociais não contributivas). Percebe-se: há muitos socialistas com pensões estratosféricas.
Parece um governo exclusivamente empenhado em aumentar impostos e comprar o apoio dos funcionários públicos. Das balelas para ganhar eleições faziam parte o incentivo ao consumo e ao investimento. Mas a geringonça quer tanto consumo que lhe lança imposto atrás de imposto. E tem tal vontade que haja quem invista que inventa impostos sobre uma recompensa material do investimento (património imobiliário) e promete ir atrás de ‘quem acumula dinheiro’.
Já estive mais longe de acreditar que o objetivo da geringonça é mesmo empobrecer o país, quebrar-nos, para conseguir impor a solução política com que sonham BE, PCP e as luminárias extremistas a que está entregue por ora o PS. Daquelas soluções que tornaram a antiga RDA um portento económico.