O Natal está à porta. E com ele chegou o tempo de festejar o nascimento do Menino em Belém, de celebrar a família, de honrar os homens de boa vontade. Mas a uma semana do Natal, muitos dos nossos leitores estarão também preocupados com os afazeres mais materialistas próprios da época: as prendas que ainda têm de comprar, qual a zona comercial menos caótica, como encontrar presentes que agradem às pessoas mais queridas.

No seu espírito de serviço público, o Economista à Paisana, propõe um guia para as compras de Natal, que deverá facilitar a vida dos nossos leitores.

Comecemos com uma má notícia. Numa primeira análise deste problema, dar presentes parece ser sempre uma gigantesca perda de tempo e de dinheiro. Com efeito, a teoria económica básica sugere que (i) a informação que cada um tem sobre as suas próprias preferências é superior à informação que os outros possam ter e, (ii) um indivíduo racional maximiza a sua utilidade tendo em consideração as suas preferências.

Neste mundo racional e utilitarista dar uma prenda de Natal aparentemente será sempre um desperdício de dinheiro, porque o valor que o recipiente dá à prenda será certamente inferior ao valor equivalente em dinheiro, já que a prenda em princípio não maximiza as suas preferências. Um economista americano, Joel Waldfogel, até se divertiu a quantificar esta perda. Com base em inquéritos a estudantes ele estimava em 2006 que, por cada dólar gasto, o valor que as pessoas dão às prendas que lhes são oferecidas é em média 20% inferior ao valor que dão aos bens que compram para si. Esta perda é inferior no caso das prendas dadas por pessoas que são próximas e superior no caso das prendas que são dadas por pessoas que nos conhecem pior.

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A solução para este problema, bastante óbvia, é parar de dar presentes e passar a dar dinheiro (ou equivalentes, tais como cartões-presente). Mas a maioria dos leitores argumentaria que o Natal assim não tem tanta graça, o que, dado que o objectivo da economia é explicar o comportamento humano, sugere que esta teoria é imperfeita.

Existem algumas formas fáceis de modificar a teoria base para incorporar a “magia” do Natal. Referimos aqui três. A primeira passa pela incorporação na função de utilidade de cada pessoa, de bens não materiais, tais como o elemento de surpresa por receber um presente de uma pessoa inesperada ou o sentimento de bem-estar provocado pelo facto de sabermos que outro pensou em nós ao comprar aquela prenda e até perdeu tempo a tentar descobrir o que é que nós gostaríamos de receber. Note-se que o estudo feito por Joel Waldfogel se concentrou numa população específica, a dos estudantes universitários. Provavelmente, as pessoas mais velhas serão mais sensíveis ao aspecto afectivo. A maioria dos pais, avós e tios ficará maravilhada de receber um cartão com uns rabiscos mais ou menos imperfeitos feitos por crianças com um talento artístico mediano.

A segunda consiste em introduzir no modelo a imperfeição do acesso aos mercados. Embora seja verdade que eu conheço melhor do que ninguém os meus gostos e os bens que maximizam o meu bem-estar, como o meu conhecimento dos mercados é necessariamente imperfeito (eu não conheço tudo o que posso comprar), posso receber prendas que eu não sabia que existiam e que vão maximizar a minha utilidade. Isso é muito óbvio nos produtos tecnológicos onde as novidades aparecem a um ritmo muito rápido e maioria das pessoas não acompanha facilmente a evolução do mercado.

Finalmente, a terceira modificação ataca directamente a hipótese que nós sabemos melhor do que os outros o que é que maximiza a nossa utilidade, ou bem-estar. Por exemplo, no caso das crianças (e alguns adultos), os gostos estão a formar-se e a modificar-se de maneira muito rápida. Os pais que conhecem bem os filhos, para além de terem mais informação sobre os produtos existentes no mercado, podem também ter uma ideia melhor do que os próprios filhos sobre o que eles gostam ou podem vir a gostar no futuro. A própria oferta de presentes pode ter um elemento de educação do gosto da criança ou jovem.

Estas três modificações permitem-nos fazer um guia com cinco conselhos muito práticos para os presentes perfeitos:

(i) Maximizem a utilidade do outro: comprem prendas relacionadas com as actividades preferidas de cada pessoa tais como livros relacionados com um hobby, bilhetes para um espectáculo, participação num workshop…

(ii) Aproveitem o acesso imperfeito ao mercado: surpreendam, indo procurar presentes a lojas que são menos conhecidas ou encomendem online no estrangeiro.

(iii) Enfoquem o lado afectivo da prenda: usem os vossos dotes e ofereçam prendas feitas em casa tais como compotas, bolachas, fotografias de família, pinturas. Os recipientes desses presentes vão apreciar sobretudo o tempo que passaram a fazê-los. Encomendem prendas especificamente para uma pessoa, tal como uma ilustração personalizada. Notem que a experiência de Waldfogel sugere que isto não é uma boa ideia para jovens e adolescentes.

(iv) Não se preocupem demasiado com as prendas das crianças: como o gosto delas ainda se está a formar, elas vão gostar de quase tudo.

(v) Seleccionem: Como tudo isto implica bastante esforço, ofereçam prendas apenas às pessoas que conhecem melhor, corram as restantes pessoas a cartões-presente ou a dinheiro.

Com este guia, o Economista à Paisana espera que os leitores possam ser mais eficientes na compra das prendas para poderem dedicar mais tempo às coisas mais importantes do Natal.