“Virá o dia em que os discursos oficiais serão capazes de reconhecer a enorme violência da expansão portuguesa, a nossa história esclavagista, a responsabilidade no trânsito transatlântico de escravos. Até podia ser num 10 de Junho. Mas ainda não foi hoje” – Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, 10-6-2020.
Noutros tempos, o 10 de Junho era também o dia da raça. Ao contrário do que parece, a designação não só não era racista, como era até antirracista. Com efeito, se todos os portugueses, qualquer que seja a côr da sua pele, a sua etnia, a sua religião, as suas origens, a sua região, os seus antecedentes familiares, a sua cultura, a sua condição socioeconómica e a sua ideologia política são uma só e a mesma raça, ficam desvalorizadas todas as distinções em que apostam os diversos racismos.
Enquanto o judaísmo estava confinado a um só povo, ou raça, o Cristianismo é católico, ou seja, universal. Embora originário da Ásia, foi na Europa que mais se desenvolveu e de onde se expandiu para o resto do mundo.
É verdade que o dia da raça tinha algumas conotações políticas, felizmente já ultrapassadas, e podia ser usado em detrimento das outras nações, ou ‘raças’. Mas não é menos censurável a atitude antipatriótica da extrema-esquerda, de que as declarações da coordenadora do Bloco são exemplo. Este revisionismo histórico, para além de evidenciar uma crassa ignorância sobre o passado, também revela, infelizmente, um considerável desprezo pela pátria.
Se é criminoso danificar as estátuas dos “egrégios avós”, não é menos grave desrespeitar a nossa memória histórica. Catarina Martins quer fazer à expansão portuguesa o mesmo que alguns idiotas fizeram à estátua do Padre António Vieira: vandalizá-la, não com tinta encarnada, mas com a tinta com que escreve declarações que insultam a nossa história e, por isso, ofendem todos os portugueses.
Sou partidário dos dogmas em relação à verdade revelada, mas só esses. Sou muito amigo da liberdade em todos os outros temas, que são, por isso mesmo, opináveis. Em questões teológicas discutíveis, não abdico da minha liberdade de pensamento e de expressão, na Igreja e na sociedade civil. Uma tese histórica não se impõe como se fosse um dogma, que os não há nesta matéria, mas prova-se cientificamente: só recorre à razão da força quem não tem a força da razão.
Por ser, por formação e opção, avesso a versões únicas do que é discutível, não aprecio as narrativas exageradamente elogiosas da nossa história, como se os portugueses fossem superiores aos outros (não será o nacionalismo um certo racismo, disfarçado de patriotismo?!).
Não sou dos que pensam que somos os melhores, nem muito menos os melhores dos melhores. Mas também não somos os piores, nem os piores dos piores. Somos mais um povo, com virtudes e defeitos, com feitos grandiosos, como os descobrimentos e a expansão ultramarina, e vergonhosos, como o infame regicídio, a ominosa PIDE, a desastrosa descolonização, etc. Na nossa história de quase nove séculos há, como nas dos outros povos, vitórias e derrotas, momentos de esplendor e de trevas. A todas essas experiências devemos, afinal, o que hoje somos, a nossa identidade nacional.
Muito embora a extrema-esquerda pretenda tomar de assalto a história de Portugal, a nossa memória colectiva não pertence a nenhuma ideologia política. Os mesmos, que vandalizam o património escultórico, são os que banalizam o património histórico, de uma forma mais subtil e discreta, mas com igual violência e desrespeito pela verdade.
Está na essência do socialismo este visceral ódio pelo passado: não é por acaso que a Rússia, quando passou a ser a infame União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, eliminou, até no nome, qualquer referência à sua história. Com a nova designação, o regime comunista substituiu quase dois milénios de uma venerável tradição cultural e religiosa, por uma utopia igualitária, que se revelou a mais sanguinária das tiranias.
Passado o tempo das grandes Catarinas, como a de Sena, a Czarina da Rússia e a homónima Rainha de Inglaterra, que nasceu Infanta de Portugal, restam apenas as pequenas Catarinas, ou Catrinetas. Se este diminutivo se aplica a quem está ao leme do ‘Bote’ de Esquerda, este bem se poderia chamar Nau Catrineta, embora nada tenha para contar e a sua história, mais do que de pasmar, seja de arrepiar.
Com efeito, as caravelas das descobertas tinham, por insígnia, a Cruz de Cristo, mas este ‘Bote’ de Esquerda, qual navio pirata, tem por pavilhão a caveira da cultura da morte, tanto dos nascituros como dos velhos e doentes terminais. Em vez de descobrir, está empenhado em destruir; em vez de unir o povo português, aposta em o dividir, à força de causas fracturantes; e, em vez de servir o desígnio de Portugal, procura denegrir a grandeza nacional. Os piratas não têm fé nem valores, só a vã cobiça de matar e pilhar. Ao antipatriótico ‘Bote’ de Esquerda não falta apenas ciência e arte, falta também respeito pela verdade, falta ideal, falta grandeza de alma, falta compreensão da história. Falta, sobretudo, amor a Portugal.
Não, não sou de extrema-direita, nem sequer conservador: há alguma revolução social mais radical do que a preconizada por Jesus Cristo?! Quero um mundo mais livre, mais justo, mais fraterno, mais solidário e mais verdadeiro: um mundo melhor. O patriotismo não pode ficar refém de um partido ou tendência política, por mais que os nacionalistas dele se queiram apropriar, ou a extrema-esquerda se empenhe em o negar.
Sou cristão e sou português, com muita honra. Como discípulo de Cristo, reconheço a dolorosa verdade dos meus pecados e imperfeições, de que todos os dias me arrependo. Como português, assumo a memória integral da nossa história nacional, em que não faltaram, é certo, injustiças, a par de não poucas glórias.
Por exigência da Lei de Deus, procuro honrar e respeitar os meus progenitores, bem como o país dos meus pais, e dos pais dos meus pais, até aos alvores da nacionalidade. A pátria é, em termos etimológicos, a terra dos pais: é por esta razão que, não obstante ter nascido na Holanda, sou – com muito orgulho! – português.