Tomo de empréstimo o título de um editorial do Times de Londres da passada terça-feira, referindo a decisão do Partido Comunista Chinês de abolir o limite de dois mandatos consecutivos na chefia do Estado. O tema fez também capa da revista The Economist desta semana, que lhe dedicou um editorial, mais um ensaio de 3 páginas e ainda mais dois artigos.
Todos estes artigos convergem num alerta comum: na China está em curso um amplo processo de concentração de poderes no plano interno e de premeditado expansionismo no plano externo. A ideia ocidental de que a China se integraria ordeiramente na ordem económica internacional está a ser refutada pelos factos. E será melhor prestar atenção.
Não seria possível reproduzir neste espaço toda a alarmante informação contida naqueles textos sobre a crescente agressividade chinesa. Basicamente, eles recordam as medidas de repressão contra qualquer discordância interna — muitas vezes dissimuladas sob o pretexto de luta contra a corrupção. E recordam a crescente centralização de poderes no Presidente Xi Jinping, que é também líder do Partido Comunista e da comissão militar que dirige as forças armadas — e que agora poderá continuar a ser Presidente até à morte.
No plano externo, são também inúmeras as iniciativas expansionistas. The Economist recorda por exemplo o projecto “Made in China 2025”, que visa a obtenção da liderança mundial em dez áreas industriais. Com esse propósito, são usados mecanismos de direcção central da economia semelhantes aos tristemente famosos ‘planos quinquenais’ soviéticos. O projecto “One Belt, One Road”, envolvendo 900 mil milhões de dólares, propõe-se criar uma vasta esfera de influência externa, capaz de subverter a influência ocidental.
Basicamente, muitos destes alertas estavam já contidos num relatório publicado em Dezembro do ano passado pelo International Forum for Democratic Studies, e intitulado “Sharp Power: Rising Authoritarian Influence”. O documento procurava alertar o Ocidente para o crescimento do expansionism chinês e russo — e apelava a que os líderes ocidentais procurassem articular respostas comuns.
Infelizmente, entretanto, no campo ocidental sucedem-se os erros e a falta de visão estratégica.
A decisão de Donald Trump de impor tarifas às importações norte-americanas de aço e alumínio — alegadamente visando a China — ameaça gerar uma escalada proteccionista no interior do próprio Ocidente.
As negociações sobre o ‘Brexit’ seguem um padrão semelhante. Em vez de procurarem uma solução cordial para acomodar a saída do Reino Unido da UE, os negociadores comportam-se com uma intransigência que só pode exacerbar as tensões já existentes.
Finalmente, em Itália, serão já conhecidos hoje os resultados das eleições de ontem (que ainda desconheço quando escrevo este texto). Mas todas as previsões apontavam para a continuação da subida vigorosa dos partidos populistas, encabeçados pelo Movimento 5 Estrelas, à esquerda, seguido, à direita, pela Liga Norte, que nas sondagens disputava o segundo lugar com a Forza Italia de Berlusconi.
Os partidos centrais enfrentam dificuldades por toda a Europa, com a possível intrigante excepção do Reino Unido. Como tenho argumentado repetidamente, isto resulta em boa parte do gradual apagamento das diferenças entre os partidos de centro-esquerda e centro-direita, bem como da crescente erosão dos poderes dos Parlamentos nacionais em questões cruciais como a imigração e as políticas económicas.
As democracias ocidentais fariam melhor em prestar atenção ao crescimento das ameaças autoritárias externas — em vez de se consumirem em menores questiúnculas internas.