O assunto tem sido noticiado na imprensa, mas o silêncio político tem sido de chumbo — para além da curiosa declaração do nosso primeiro-ministro sobre a inexistência de qualquer obstáculo político à operação. Refiro-me, como o leitor já terá calculado, à proposta de compra da EDP, a maior empresa portuguesa, pela empresa chinesa denominada “China Three Gorges” (que já detém 23,2% da EDP). Recorde-se que uma empresa estatal chinesa “State Grid” é também accionista maioritária da REN, a empresa distribuidora de energia em Portugal.

Os detalhes da operação podem ser lidos neste muito bem documentado artigo do Observador. Mas convém também recordar o vasto número de artigos que a imprensa internacional de referência tem vindo a publicar nos últimos seis meses sobre o crescente poder da China no Ocidente — e que têm designado por “Sharp Power” (para distinguir de “Soft Power” e “Hard Power”). Uma resenha dos inúmeros artigos internacionais sobre o tema pode ser encontrado no site do International Forum for Democratic Studies, com sede em Washington, DC.

De entre todos esses artigos, talvez o mais abrangente e sucinto seja o da revista The Economist de 16 de Dezembro de 2017. Aí se dá conta de que a questão da interferência chinesa na vida política das democracias se tornou central na Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Reino Unido, Canadá e EUA. E aí se documenta como a infiltração chinesa nas economias desses países tem dado lugar a pressões censórias inadmissíveis e até à corrupção de servidores públicos. Um senador trabalhista australiano já teve de se demitir por causa disso.

Também um editorial do Washington Post de 13 de Novembro, intitulado “Big Brother on campus in China”, denunciara o crescente controlo do partido e do estado comunistas sobre as universidades chinesas — e as suas crescentes tentativas de manipulação de universidades ocidentais onde detêm influência também crescente. Esta influência iniciou-se sempre com generosas ofertas bem remuneradas a universidades ocidentais — que alegremente trocaram a independência ancestral da Ideia de Universidade, por pedestres influxos financeiros .

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Depois da publicação destes trabalhos, a evolução política interna na China acentuou os traços autoritários. Como referi aqui no Observador, o mais recente Congresso do Partido Comunista eliminou o limite de mandatos para o Chefe de Estado. Isto significa que Xi Jinping — que já preside ao Partido Comunista e à comissão que dirige as Forças Armadas chinesas — pode ser presidente vitalício.

Ficou célebre a máxima que Xi Jinping apresentou no Congresso: “Governo, militares, sociedade e escolas — Norte, Sul, Este e Oeste — o partido é o líder de todos”.

É caso para perguntar se nós, Portugueses, também queremos que o partido comunista chinês seja nosso líder. Não creio que a pergunta tenha ainda sido feita no nosso Parlamento. Mas foi feita em Londres, obviamente. Neste caso, pelo Financial Times, na passada sexta-feira.