Para o título desta crónica até calha bem hoje ser 14 de Julho. Mas o motivo também não é esse, antes o entusiasmo com que a esquerda por cá olha para a francesa. Há meses que Rui Tavares, que conhece bem a realidade política em França, alerta para a necessidade de uma aliança de esquerda em Portugal. Não foi por acaso que Rui Tavares anunciou que o PS aceitou reunir com o Livre para pensar futuras convergências logo após a vitória da Nova Frente Popular, que reúne desde social-democratas a comunistas, de socialistas a ecologistas e anticapitalistas.

É indiscutível que os resultados em França abrem boas perspectivas eleitorais para uma aliança alargada das esquerdas em Portugal. Mas há três aspectos que a põem em causa e que devem ser tidos em conta. Em primeiro lugar, a Nova Frente Popular surgiu devido à iminência de uma vitória de um partido da direita radical, risco também não existe em Portugal: não é expectável que o Chega ganhe eleições em Portugal, não só porque o Chega é uma amálgama de coisa nenhuma, como os nossos problemas com a imigração não chegam aos calcanhares dos franceses.

Em segundo lugar, o PS português não se encontra na mesma situação do francês. Em Junho, Pedro Nuno Santos ganhou as europeias depois de, em Março, ter perdido as legislativas por 50 mil votos. Dito por outras palavras, o PS não sente que precisa do Livre e do BE ou do PAN para ganhar ao PSD. Pelo menos por enquanto. E enquanto não precisar, à excepção do caso em Lisboa, qualquer conversa entre as esquerdas não passa de uma forma simples de camaradas ocuparem o seu tempo livre.

Por fim, e a razão mais importante de todas: não se misturam partidos numa coligação como se misturam legumes numa sopa. Se nesta o resultado pode ser satisfatório, na política tende a ser inconsequente. E o resultado está à vista com a Nova Frente Popular a não conseguir apresentar um primeiro-ministro capaz de gerar confiança e de manter unida uma coligação que já cumpriu o seu objectivo: impedir uma vitória da extrema-direita.

Se o Livre e o PS almejam um dia juntar-se de modo a tirarem consequências práticas de uma eventual vitória eleitoral, seria bom que primeiro lidassem com o PCP e o BE. E lidar com estes dois partidos significa derrotá-los política e eleitoralmente. Se não o fizerem, uma frente de esquerda até pode sair vitoriosa de umas eleições mas, e Rui Tavares já percebeu isso muito bem, se for extremista a vitória será de Pirro, inconsequente e não vai servir para absolutamente nada.

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