Quando, a 23 de Novembro, o Observador publicou “Porque deixo a Iniciativa Liberal” prometi a mim mesmo que esta seria a última vez que escreveria/falaria sobre a IL em público; quebrei essa promessa a pedido da CNN para esclarecer alguns pontos da minha passagem pelo partido e quebro-a novamente agora. Farei um esforço para ser, finalmente, a última vez.
Recentemente chocaram-me as declarações que ouvi de Rui Rocha e João Cotrim de Figueiredo acerca de Carla Castro; abordo estas declarações não para fazer a defesa de Carla Castro, em primeiro lugar porque ela não precisa e depois porque não mo pediu, faço-o porque estas declarações são obviamente ignóbeis, insultuosas, mas são, sobretudo à luz do liberalismo, um absoluto absurdo que se tornam ridículas para um líder e um ex-líder de um partido supostamente liberal.
Comecemos por Rui Rocha. Rocha provou que é um digno discípulo da “escola Cotrim” ao referir em entrevista ao Observador que CC não foi escolhida para ir nas listas da IL em lugar elegível porque “não tinha espírito de equipa” ou melhor dizendo “as pessoas que foram nos lugares acima tinham mais espírito de equipa”. Ora convém aqui esclarecer o que é “espírito de equipa” algo que Rocha nunca especificou; mais, em segundo lugar da lista em Lisboa aparece Mariana Leitão, cabeça de lista da lista L ao Conselho Nacional do partido (lista afecta à Comissão Executiva de RR), em terceiro Rodrigo Saraiva, líder parlamentar e em quarto Angélique Teresa, vice de Rocha na Comissão Executiva. É fácil de ver, o problema não é que Carla Castro não tenha espírito de equipa, o problema é que Carla Castro não joga na “equipa certa”, pensa pela própria cabeça, tem qualidades técnicas indiscutíveis e tem ambição, algo imperdoável para quem hoje (e no passado recente) domina a Iniciativa Liberal.
As declarações de Cotrim de Figueiredo no programa de Ricardo Araújo Pereira são igualmente indescritíveis, de uma falta de nível e sensatez difíceis de acreditar; no referido programa Cotrim dá a entender que Carla Castro estaria na IL apenas por interesse e não por convicção, saindo depois de não ver as suas pretensões alcançadas, ou seja, depois de ter perdido as eleições para o ungido de Cotrim e ter sido relegada para o 5º ou 7º lugar da lista. Eu já nem vou pela óbvia humilhação pública a que CC foi sujeita e que a levou a um caminho sem retorno, culminando na sua saída; reflitamos sobre isto, serão convicções e interesses pessoais incompatíveis? Serão “interesses pessoais” motivo suficiente para afastar alguém das listas? Não terá Cotrim perseguido um “interesse pessoal” ao deixar a liderança do partido apresentando-se agora como cabeça de lista ao parlamento europeu? Não é preciso ser cientista político, basta ler um livro ou dois acerca do liberalismo para perceber que os interesses dos indivíduos devem ser respeitados, que o mérito e a competência se devem sempre valorizar em detrimento do “espírito de equipa” que é muitas vezes e aqui também um eufemismo para seguidismo acrítico, condição fundamental para ter um lugar de relevo nesta Iniciativa Liberal.
Ponderei muito antes de escrever este artigo, resolvi enviá-lo para publicação, não por mim nem pela Carla, mas por todos aqueles que não têm os amigos certos, por todos aqueles que apesar do seu esforço, trabalho e competência se veem preteridos por alguém com mais “espírito de equipa” e “convicções”, para esses digo, vale a pena continuar a trabalhar e a insistir, com sentido crítico e sem seguidismo. Mais cedo ou mais tarde o vosso esforço será recompensado, e acreditem em mim, saberá muito melhor.
