Escrevo estas linhas no fim da noite eleitoral em Espanha que deu a vitória ao Partido Popular sem maioria absoluta, colocou o VOX em terceiro lugar e atirou Espanha para um cenário de ingovernabilidade. Sem maioria à direita, Sanchez ainda pode formar governo, no entanto o cenário mais provável será a repetição das eleições. Que lições a tirar?

  • Sanchez sobreviveu politicamente. A jogada que engendrou após a pesada derrota nas eleições locais era de alto risco, mas revelou-se certeira; perde as eleições, mas o seu principal adversário não consegue formar governo, o que deixa tudo em aberto, e, na pior das hipóteses, vai novamente a jogo. Contra todas as expectativas, não é o fim do “Sanchismo”.
  • Feijóo é o vencedor mais derrotado da noite. Em política as expectativas contam e o que se esperava era uma vitória tranquila do PP que, atingindo a maioria absoluta, ou, na pior das hipóteses, recorrendo ao VOX, conseguiria facilmente formar governo. A verdade é que nenhum destes cenários aconteceu, o que deixa Feijóo nas mãos de Sanchez, que é como quem diz, o PP só governará se o PSOE se abstiver na votação de investidura, cenário que parece distante. Hoje já é possível dizer que o facto de não ter comparecido ao último debate se revelou um erro.

Em Portugal, onde António Costa acabou por conseguir livrar-se dos seus parceiros de coligação, governando agora em maioria absoluta, as próximas eleições europeias apresentam-se como um teste às lideranças partidárias, sobretudo à direita; estarão estas capazes de apresentar ao país candidaturas galvanizadoras que comecem a virar o jogo político? Mais claro ainda, conseguirá o bloco de direita ganhar as europeias e assim provar que a vitória numas eleições legislativas é possível?

Neste particular não posso deixar de me referir ao meu partido, a Iniciativa Liberal, e dizer claramente que a putativa escolha de João Cotrim de Figueiredo (que já disse estar disponível) como cabeça de lista nas eleições europeias se afigurará como um erro crasso, passo a explicar:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

  1. Nas últimas eleições europeias a IL escolheu para cabeça de lista um independente, Ricardo Arroja. O partido apresentou-se ao eleitorado como um partido aberto à sociedade civil, disposto a dar espaço aos que, apesar de não serem filiados no partido, se identificavam com os seus princípios e valores. Que imagem transmitirá agora o partido se, quando existe uma hipótese real de eleição do cabeça de lista, faz aquilo que todos fazem, ou seja, se vira para a prata da casa, e escolhe um dos seus?
  2. Quando se demitiu, João Cotrim de Figueiredo não perdeu tempo e imediatamente declarou o seu apoio a Rui Rocha. A ideia que inevitavelmente perpassará para o eleitorado é que esse apoio teve como intenção garantir a sua escolha para cabeça de lista nas eleições europeias. Neste cenário ninguém sairá bem na fotografia.
  3. A IL sempre defendeu que veio para a política para fazer diferente. Cumprir mandatos até ao fim tem de ser um dos compromissos de quem é eleito pela Iniciativa Liberal. Com que cara JCF pedirá o voto das pessoas para ser eleito para o parlamento europeu quando ainda há tão pouco tempo lhes pediu o voto para ser eleito para o parlamento português?

Não quero ser mal interpretado, a IL deve muito a João Cotrim de Figueiredo, sob a sua liderança o partido passou de um para oito deputados, notável. Acontece que para se fazer política de forma diferente, o pagamento de favores não pode entrar na equação.

As eleições europeias são a prova de fogo para as lideranças partidárias, sobretudo para aquelas que apresentam novos líderes. Os que pretendem substituir António Costa e o PS na chefia do governo têm aqui uma boa oportunidade de mostrar o que valem.