São Paulo é peremptório: se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé e os cristãos seriam os mais miseráveis de todos os homens (1Cor 15, 3-19). Porquê? Porque a ressurreição de Jesus de Nazaré é a prova definitiva da sua divindade. Ser cristão é crer que Cristo recebeu de sua mãe a condição humana, bem como, de seu único pai, Deus, a natureza divina e, por isso, sendo uma só pessoa, é verdadeiro Deus e homem.

É sabido que, historicamente, Jesus de Nazaré foi condenado por blasfémia: foi essa, com efeito, a sentença do Sinédrio. Mas, como à autoridade romana pouco importava a questão religiosa, alegaram que Cristo se intitulava Rei dos Judeus e, como tal, punha em xeque o domínio romano na Palestina. Daí o título da sua condenação, afixado na Cruz: Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus (Mt 27, 37).

Não é qualquer pessoa que acredita que Cristo, cuja humanidade é por demais evidente, é Deus. Mas também não é fácil afirmar, como os fariseus, que é um impostor. Entre ser Deus, como dizem os crentes, mas que os que o não são consideram manifestamente exagerado, ou um mentiroso, que também é excessivo para os não crentes que o admiram, houve quem formulasse uma terceira opção: a de Jesus de Nazaré ter sido apenas um homem bom, um justo, um santo até que, contudo, teve um final infeliz.

Em abono desta terceira hipótese – equidistante dos extremos de ser Deus ou um blasfemo – alegam a sua vida santa, a sublimidade dos seus ensinamentos, a exemplaridade moral da sua conduta, a sua misericórdia e compaixão pelos pecadores e pelos mais necessitados, a sua mansidão, a sua heróica castidade, a sua edificante pobreza, o seu desprezo pelas vaidades e riquezas mundanas, a sua renúncia a qualquer desempenho político, etc. Assim sendo, Jesus estaria ao nível de os outros fundadores de grandes religiões, como Abraão, Maomé, Confúcio, etc.

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Esta terceira hipótese, não obstante parecer a mais plausível e equilibrada, não é possível, porque Jesus de Nazaré só pode ser Deus ou nada: não há uma solução intermédia! De facto, não é sustentável a tese de alguns ateus e agnósticos de que Jesus de Nazaré foi apenas um homem bom, ou santo, porque ele próprio, ao contrário de qualquer homem bom, ou santo, disse não só que era o Filho de Deus, mas o próprio Deus!

São inúmeras as ocasiões em que Cristo afirma a sua divindade. Por exemplo, institui um novo mandamento, quando estes preceitos são leis divinas (Jo 15, 12). Disse, claramente, que o Pai e ele são um só, o que levou os seus contemporâneos a concluir, acertadamente, que se fazia igual a Deus (Jo 10, 33). Perdoou os pecados, que são ofensas a Deus, o que, em princípio, só o ofendido pode fazer (Mc 2, 1-12). Fez notar que, embora descendente do Rei David, era maior do que ele, porque David o chamou Senhor (Mc 12, 37). Quando a sua idade terrena rondava os trinta anos, disse categoricamente que, antes de Abraão, aproximadamente vinte séculos antes de Cristo, ele já existia e que o seu nome – ‘Eu sou’ – é o nome próprio de Deus, Yahweh (Jo 8, 58).

Para além dos seus milagres e profecias, a manifestação mais impressionante da divindade de Cristo é a sua gloriosa ressurreição. Não obstante o seu carácter misterioso, a ressurreição é um facto histórico comprovado por inúmeras testemunhas: as mulheres que foram ao sepulcro, no primeiro dia da semana, julgando-o morto (Mt 28, 1-10); Pedro e João, que inicialmente não acreditaram que tivesse ressuscitado (Jo 20, 1-10); os discípulos que, descrentes da sua ressurreição, com ele caminharam em direção a Emaús (Lc 24, 13-35); Tomé, que só acreditou depois de ter tocado, com as suas mãos, as chagas que provavam que era o mesmo corpo que tinha sido crucificado (Jo 20, 24-29), etc. São Paulo, embora inicialmente não acreditasse na ressurreição de Cristo e até perseguisse de morte os cristãos, depois rendeu-se à evidência de um acontecimento histórico que foi dos mais observados desde sempre (At 9, 1-19). Com efeito, Jesus ressuscitado, “foi visto por mais de quinhentos irmãos” de uma só vez (1Cor 15, 6)!

Não é menos expressiva a ascensão de Jesus aos Céus, porque nessa ocasião ele se deixou adorar pelos seus discípulos (Mt 28, 17). Ora, a adoração é uma manifestação de culto que só pode ser prestada a Deus: adorar alguém, ou alguma coisa, que não seja Deus, é um gravíssimo pecado de idolatria. Portanto, se Cristo aceitou ser adorado, é Deus, em cujo caso merece adoração, ou então, não o sendo, também não seria um homem bom, porque nenhum justo, ou santo, aceitou ser adorado pelos seus semelhantes.

É significativo que, numa ocasião, houve quem pensasse que Paulo era um deus que tinha descido à terra e, por isso, quis oferecer um sacrifício em sua honra. Ante este excesso, a reação do apóstolo não se fez esperar, impedindo absolutamente que lhe fosse prestado o culto que só a Deus é devido (At 14, 11-18). Também João, o evangelista, depois de terminadas as revelações que registou no Apocalipse, quis prostrar-se diante do anjo que lhas transmitira, ao que este se opôs terminantemente: “não faças tal: eu sou servo (de Deus) como tu, teus irmãos, os profetas e aqueles que guardam as palavras da profecia deste livro. Adora a Deus” (Ap 22, 9). Ou seja, todos os santos e profetas, de que falam as Escrituras, nunca permitiram ser adorados e, portanto, se Jesus de Nazaré aceitou essa manifestação de culto é Deus, como crêem os cristãos, ou um mentiroso, mas de modo nenhum um bom homem. Não há uma terceira possibilidade!

Só há duas hipóteses em relação a Jesus de Nazaré: Deus ou nada! Não existe, entre estes dois extremos, a cómoda opção dos ateus e agnósticos que dizem que Cristo foi apenas um homem bom, porque é racionalmente insustentável.

Diante de Jesus, hoje como há dois mil anos, só há duas atitudes coerentes possíveis: gritar, com a multidão enfurecida, que o crucifiquem (Mt 27, 23); ou cair a seus pés, como Tomé, e confessar a sua humanidade e divindade: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).

Santa Páscoa da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo!