Certamente que muitas pessoas já se interrogaram porque é que hoje em dia as entrevistas, com os diversos atores políticos, são tão tensas e num registo de constante agressividade. Nos debates televisivos, é cada vez mais frequente os vários intervenientes discutirem uns com os outros aos berros, tornando o debate incompreensível e inútil.

Por outro lado, atualmente, é habitual os jornalistas interromperem constantemente o entrevistado, impedindo-o de expressar até ao fim o seu raciocínio. Por que motivo isto acontece? A pressão de segurar a atenção é enorme e generalizou-se na comunicação social o “terror do zapping”, prevalecendo a obsessão de segurar os espectadores.

A interrupção é uma ferramenta utilizada frequentemente para manter audiências. Se não houver uma resposta estimulante à questão colocada em aproximadamente 10 segundos, coloca-se rapidamente outra pergunta. Observa-se um medo terrífico de se obter uma resposta sem surpresa ou maçadora que provoque o desinteresse do espectador ou do ouvinte. A ordem é para interromper, com intervalos cada vez mais curtos, para lançar novo estímulo que mantenha o interesse e a atenção de quem assiste.

Porém, o jornalista não pode ser um gestor das métricas de audiência do seu canal.  A preocupação de gerar picos ininterruptos de dopamina ou noradrenalina no nosso cérebro, recorrendo à interrupção sistemática do discurso, acaba por se tornar cansativa e ter o efeito contrário: gera frustração e irritação no público.

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Os jornalistas, por vezes, tornam-se também protagonistas no debate político, surgindo com papéis duplos: comentadores e jornalistas. Noutros casos,  acabam mesmo por revelar as suas opiniões pessoais durante as entrevistas, criando clivagens desnecessárias. Neste processo a que estamos a assistir, existe outro perigo: o cansaço do jornalismo. A migração do público, especialmente dos jovens, para as redes sociais e para os influencers é também provocada por uma contra atitude e um gesto de protesto. Isto é grave e preocupante, pois o jornalismo sério é insubstituível.

A televisão, a rádio e, principalmente, os jornais enfrentam momentos difíceis de sobrevivência económica. Existe a concorrência da internet e das redes sociais. Além disso, observa-se um crescente número de influencers que têm os seus próprios podcasts, entrevistando convidados com enorme sucesso. Basta recordar que muitos políticos, durante a campanha eleitoral, foram entrevistados por youtubers e os vídeos obtiveram centenas de milhares de visualizações. Mas quais serão as razões que explicam este êxito?  Uma delas será seguramente o ambiente de entrevista mais descontraído, com algum humor e sem pressa.

Para além desta ansiedade pela resposta curta e estimulante já referida, subsiste uma agressividade (que alguns podem confundir com assertividade, embora acredite que já se ultrapassaram esses limites) evidente em muitos jornalistas durante as entrevistas.  Esta hostilidade não é suficientemente explicada pela competição por audiências, uma vez que existem outras razões.

Acredito que a maioria dos jornalistas estão frustrados, zangados, pelo facto de serem excessivamente pressionados, por serem mal pagos, estarem sobrecarregados de trabalho (há cada vez menos jornalistas para realizar as mesmas tarefas) e terem inclusivamente uma ameaça quase constante de desemprego. É muito provável que estes sentimentos negativos estejam a refletir-se no seu trabalho. Este fenómeno traduz aquilo que nós chamamos na psicologia e psiquiatria de contratransferência. Portanto, é compreensível que este ambiente não contribua para se manter um bom jornalismo.

Uma das características que explicam o sucesso da relação terapêutica na psiquiatria é a capacidade de o médico ser empático. Ou seja, colocar-se no lugar do outro e compreendê-lo, dando-lhe espaço para se exprimir livremente, com tempo adequado, sem fazer discriminações ou juízos de valor. Esta regra valiosa, para o êxito de um médico na sua prática clínica, também se pode aplicar ao jornalismo. Este deve ser feito com menos dopamina e mais empatia.