“Todos nós, aqui, sabemos uma verdade eterna: todas as crianças são um dom precioso e sagrado de Deus. Juntos, devemos proteger, valorizar e defender a dignidade e a santidade de todas as vidas humanas”, disse Donald Trump, ao discursar na multitudinária manifestação pró-vida que, no passado dia 24 de Janeiro, reuniu cerca de 200 mil de manifestantes em Washington. Foi o primeiro presidente dos Estados Unidos da América a participar e discursar na Marcha pela Vida.

Trump confessou que, desde o dia em que tomou posse, se empenhou em defender a família e proteger os nascituros. “Quando vemos a imagem de um bebé no útero, vislumbramos a majestade da criação de Deus. Quando pegamos ao colo num recém-nascido, reconhecemos o amor sem fim que uma criança é para a sua família. Quando vemos uma criança crescer, contemplamos o esplendor que irradia de cada alma humana”.

No seu discurso, em que era palpável a sua emoção, o presidente dos EUA quis fazer uma referência explícita a dois grupos de activistas pro-life: os jovens e as mulheres.

Os primeiros, estudantes e trabalhadores, eram muitos milhares. Para participarem nesta manifestação, muitos fizeram longas viagens em autocarro, desde outras localidades do mesmo ou de outros Estados. Como o presidente reconheceu, os jovens são a alma e a vida do movimento: “Os jovens são o coração da Marcha pela Vida. Esta geração está a fazer da América uma nação pró-família e pró-vida.

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Um segundo grupo mereceu uma menção especial, por razão de uma feliz coincidência: “Este ano, a Marcha pela Vida comemora o centenário da 19ª emenda, que consagrou para sempre o direito das mulheres ao voto, nos Estados Unidos. […] Actualmente, milhões de mulheres extraordinárias, em toda a América, usam o poder do seu voto para lutarem pelos seus direitos e, conforme indicado na Declaração de Independência, pelo direito à vida”.

Elas são, naturalmente, o santuário da vida, porque é no seu corpo que um novo ser humano é gerado e vive os seus primeiros meses. A mulher é também, depois do nascituro, quem mais sofre o aborto, por mais que o mesmo seja apresentado, eufemisticamente, como um direito seu, ou uma mera interrupção da gravidez. A defesa do aborto em nome da mulher é, na realidade, uma contradição, não apenas porque muitas das vidas eliminadas são femininas, mas sobretudo porque o aborto é, sempre, uma acção antinatural de que não só o filho, mas também a mãe, são vítimas. Por isso, cada vez mais feministas, cientes do trauma que o aborto é para a mulher, são pró-vida. A mulher que, mesmo em caso de violação ou de malformação do feto, respeita a vida do filho é, sempre, uma heroína.

Num registo mais emotivo, não muito comum num político que uma certa imprensa conota com atitudes machistas, Donald Trump fez uma afirmação surpreendente: “declaramos que as mães são heroínas. A sua força e devoção são a força e o que alimenta a nossa nação. Foi por sua causa que o nosso país foi abençoado com almas extraordinárias, que mudaram o curso da história da humanidade.”

Segundo Donald Trump, “O movimento da vida é liderado por mulheres fortes, extraordinários líderes religiosos e estudantes corajosos, que levam o peso de serem pioneiros: aqueles que, antes de nós, lutaram por elevar a consciência da nossa nação e por defender os direitos dos nossos concidadãos”. Segundo o presidente dos Estados Unidos da América, estas mulheres, estes jovens e estes líderes religiosos pro-life, são activistas fortalecidos pela oração e motivados por um amor altruísta, “são pessoas fantásticas.

Depois de saudar os senadores e congressistas presentes, Donald Trump aproveitou a ocasião para referir algumas das medidas pró-vida que protagonizou como presidente, nomeadamente do ponto de vista legislativo e judicial. A sua administração só apoia as iniciativas que defendem a vida humana, desde a concepção, e não financia entidades que promovem o aborto, como a Planned Parenthood. No âmbito judicial, o actual chefe de Estado norte-americano nomeou para o Tribunal Supremo da União juízes que, como Neil Gorsuch e Brett Kavanaugh, são defensores da vida humana desde o seu início. Como concluiu, arrancando um grande aplauso da multidão, “nunca os nascituros tiveram um tão forte defensor na Casa Branca”. Mas pena é, diga-se em abono da verdade, que Donald Trump não esteja empenhado na abolição da pena de morte, nem sempre defenda políticas solidárias com os mais necessitados.

A defesa da vida humana pressupõe a liberdade de pensamento e de expressão que, em algumas universidades, era negada aos activistas pro-life. A administração Trump não só defendeu o direito de manifestação dos estudantes pró-vida nos campus universitários, como impôs pesadas multas às instituições educativas que violem essa liberdade fundamental, consagrada na primeira emenda à Constituição.

Outro âmbito em que o governo de Trump se tem empenhado é o da liberdade religiosa: “Tomámos medidas decisivas para proteger a liberdade religiosa, que é tão importante, porque a liberdade religiosa está a ser atacada em todo o mundo e fortemente atacada no nosso país. E vocês sabem isso melhor do que ninguém”.

O actual inquilino da Casa Branca não ignora que tem muitos e poderosos inimigos pela frente, nomeadamente entre os governadores, senadores e congressistas democratas. Lá, como cá, “a extrema esquerda está a trabalhar para apagar os direitos que nos foram dados por Deus, para fechar as instituições de caridade baseadas na fé, para banir os líderes religiosos do espaço público, e para silenciar os americanos que acreditam na santidade da vida. […]. Quase todos os principais democratas do congresso apoiam o aborto, financiado pelos contribuintes, até ao momento do nascimento. No ano passado, a câmara legislativa do Estado de Nova York regozijou-se com a aprovação de uma lei que permite que o bebé seja morto, ou seja arrancado do útero materno, no momento do parto”, o que, a bem dizer, mais do que um aborto, é um infanticídio.

O presidente dos Estados Unidos da América lamentou os milhões de criaturas humanas que não chegam a nascer: “Não sabemos o que os nossos compatriotas, que ainda não nasceram, poderão vir a ser. Não sabemos os seus sonhos. Não sabemos as obras-primas que criarão, nem as descobertas que farão. Mas há uma coisa que sim sabemos: toda a vida traz amor para este mundo! Todas as crianças trazem alegria para a sua família! Vale a pena proteger cada pessoa. Acima de tudo, sabemos que a alma humana é [semelhança] divina, porque qualquer vida humana, nascida ou por nascer, é criada à imagem santa de Deus omnipotente.”

Em jeito de conclusão, Donald Trump fez-se porta-voz daquela multitudinária e promissora multidão, mas também dos milhões de seres humanos que não chegam a nascer: “juntos, somos a voz dos que não têm voz”. Do outro lado do Atlântico, sopram ventos de esperança, que reflectem, graças aos heroicos jovens e mulheres que defendem a vida desde a concepção, um ponto de viragem na opinião pública norte-americana e mundial.