1.Na votação do dia 10/3 do ano 2024, a coligação AD conquistou 28,02% do total dos votos, com o PS a atingir 28,00%. O grupo político do CH atingiu 18,07%, a IL ficou na 4ª posição com 4,94% do total dos votos. Assim, os partidos “da Dt.ª” conquistaram 130 postos na AR, num total das 230 vagas. Formaram por isso a maioria, uma maioria sólida, robusta.

Os cidadãos participaram no ato do dia 10/03 com apoio às propostas, para uma mudança política após 8 anos dos programas socialistas com António Costa. Na ocasião, 56,5% optaram por votar num programa o qual propunha os princípios indicados: não agravar a situação absurda da administração pública; baixar os impostos; actuar com políticas para diminuir a intrusão pública na vida privada do cidadão; ou ainda, para abolir as políticas “wokistas” do PS com os antigos apaniguados.

No início da campanha, o candidato da AD, Luís M, afirmou só tomar conta do cargo do  P. Ministro com triunfo nos votos ocorridos da consulta a 10/03. Afirmou ainda, o futuro P Ministro, não contar para ministro com o CH ou com AV.

Assim, Luís M criou uma linha, um obstáculo aos 50 incluídos na bancada do CH. Afastados os 50 do CH, a AR ficava só com 180 casos válidos para o voto. Rui T do partido LIV logo notou o facto da fação política da oposição fora a Dt.ª toda ficar com 100 votos, contudo, a Dt.ª tirando o CH só ficava com 80 votos. Assim, com a lógica dos obstáculos ficou difícil para o ganhador comandar o rumo da política. Com o CH fora das contas, a fração Socialistas/Amigos conquistava a maioria ficando habilitada formar a nova administração.

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A visão indicada por Rui T foi tomada como tonta ou ridícula, contudo, ignorar o grupo com 50 votos do CH, foi igual a ignorar o voto popular dos 1.169.836 indivíduos, foi amputar 50 votos à AR, com riscos futuros óbvios como vimos nos “acordos” para as contas públicas do ano 2025.

Contudo, tal situação não foi o único fruto da política das linhas proibidas. Nos dias iniciais da 16.ª constituição da AR, o país assistiu a  uma votação absurda quando Aguiar-Branco foi candidato à AR. Foi uma altura ridícula como assim foi absurda a aprovação da abolição das taxas das SCUT’s, ou a aprovação das propostas com impacto nas contas públicas.

A má actuação dos 3 grupos políticos com mais votos não foi boa ou vantajosa para o país, mas salta como corolário das políticas tacticistas ou da falta da visão para um futuro promissor. Fica difícil, não há forma óbvia para ajustar um quadrado a um círculo. As linhas proibitivas não facilitam a inclusão das boas políticas nas contas públicas ou são boas para o futuro do país. As linhas proibitivas acabam por frustrar a mudança votada por todo um povo (3.356.534 votos), ficando as propostas da inovação muradas a aguardar por um apoio mais largo. A falta dos 50 do CH para as propostas da administração tornam a AR, ou o PM incapaz dum avanço sólido para uma política útil à população, ou para atingir um apoio na AR mais largo ou sólido, ou ambos como transpira da política actual.”

Este texto tem uma leitura e compreensão difícil, não é? Conseguiu identificar o motivo dessa estranheza?

Bom, o texto acima omite a letra (e). É um texto escrito como um lipograma.

Gadsby, escrito por Ernest Vincent Wright em 1939, é apontado como o primeiro texto publicado numa linguagem lipogramática. Esta técnica de escrita consiste na determinação do autor em não utilizar no texto uma determinada letra do alfabeto. Este, e em especial se uma vogal for a letra selecionada, é um exercício exigente em que o autor se obriga à procura de palavras alternativas que omitam a letra vetada mas mantendo o significado e consistência do texto. Não é fácil escrever deste modo. De todas as obras escritas neste exercício linguístico, o romance La Disparition, do francês George Perec de 1969, é o mais citado e representa o paradigma desta técnica de escrita reconhecida pelos críticos literários como um notável exercício tanto do autor como dos seus tradutores.

Em português, a letra “e” é a vogal mais frequente. No texto que vou colocar em seguida, o original, 40% das palavras têm a letra “e”, e essa mesma vogal é usada uma vez em cada 10 letras. Escrever omitindo essa letra é um exercício difícil que eventualmente poderia ser melhorado.

2.O texto original e a mensagem que pretendia transmitir era:

Nas eleições legislativas de 10 de março de 2024, a coligação AD obteve 28,02% dos votos, o PS 28,00%. O Partido CHEGA obteve 18,07% e em 4º lugar ficou a IL com 4,94% dos votos. Os partidos do “centro-direita” obtiveram 130 lugares, num parlamento de 230 deputados. O mesmo é dizer, a maioria.

Os portugueses que participaram no acto eleitoral em 10 de março votaram em programas que propunham uma mudança, uma alternativa aos 8 anos de políticas socialistas protagonizadas por António Costa. Nessas eleições 56,5% dos portugueses votaram a favor de menos Estado, de menos impostos, de menos intrusão na vida das pessoas, votaram pela abolição de políticas “Woke”.

Porém, e contra esse sentido de voto, já antes do acto eleitoral o candidato da AD, Luís Montenegro, tinha afirmado que só seria primeiro ministro se ganhasse as eleições e que caso fosse convidado a formar governo o faria sem contar com o partido de André Ventura.

Desta forma Luís Montenegro traçou uma linha vermelha que viria a excluir cinquenta deputados do CHEGA de qualquer solução governativa. Dito de outra forma, a AR ficaria reduzida a 180 deputados. Com esta composição, logo veio Rui Tavares do LIVRE a realçar que a esquerda tinha obtido 100 deputados, enquanto o “bloco democrático” à sua direita tinha apenas 80 deputados. Se a “filosofia” das linhas vermelhas fosse tomada a sério, a esquerda democrática teria maioria pelo que deveria ser ela a formar governo.

Esta interpretação nunca foi levada a sério, nem saiu do ridículo de alguém a não avaliar bem os “sapatos que calça”, mas colocar uma linha vermelha e excluir os deputados do CHEGA das decisões da AR ou calar a voz a 1.169.836 de portugueses que nele votaram tem consequências que se fazem sentir nas negociações do Orçamento de Estado para 2025.

Porém, este momento que agora vivemos não foi (é) o único a resultar da política das linhas vermelhas. Logo nos primeiros dias da 16ª legislatura fomos confrontados com a deprimente eleição para Presidente da AR, as humilhantes condições com que José Pedro Aguiar-Branco aceitou ser eleito. Posteriormente, outros momentos absurdos e negativos para o país ocorreram como com a aprovação da abolição das portagens nas antigas SCUT ou como noutras medidas com impacto orçamental negativo.

O espetáculo deprimente dado pelos três partidos com maior representação parlamentar não deriva de uma estratégia para plasmarem no documento oficial das contas públicas as suas propostas, ou para melhorarem das condições de vida dos portugueses. Resulta antes de uma tentativa de “quadratura do círculo”, que é a de ter programa reformista de governo assente num sólido apoio parlamentar. A amputação de 50 deputados à AR resulta na inviabilização de qualquer solução governativa capaz de promover reformas, na impossibilidade de se ter um governo com um apoio sólido, ou em ambas como parece ser o presente caso.”

3.A mensagem ficou mais clara? Ainda bem, mas continua a ser um lipograma, não numa perspectiva literária do termo mas agora numa visão política do momento atual. Vivemos sujeitos a um “Lipograma Político” que só serve a esquerda, a deriva Woke e o imobilismo em prejuízo das reformas mais urgentes.

Em 10 de março de 2024, os portugueses quando exerceram o seu direito de opinião e indicaram qual o rumo que a política portuguesa deveria seguir, fizeram-no indicando que: não queriam a continuação das politicas socialistas e da esquerda igualitária; queriam a preservação do estado social sem por em causa as contas públicas; o estado deixasse de ser intrusivo na vida e opções das pessoas; a imigração fosse controlada e as nossas cidades deixassem de dar o espetáculo deprimente de um terceiro mundo; a segurança fosse entendida como uma perceção, um sentimento e não como uma estatística (ninguém consulta estatísticas para se sentir seguro); o peso absurdo dos impostos fosse limitado a um mínimo indispensável; um SNS moribundo, um estado em que o PS o deixou na ausência de coragem e reformas, para que essa agonia pudesse finalmente ser revertida; a escola pública fosse uma opção efetiva para todos; os decisores políticos tivessem bom senso e a deriva “Woke” do politicamente correto fosse inequivocamente abandonada; enfim, que houvesse coragem para mudar o legado e ainda actual “estado das coisas”. O País precisava de reformas e 56,5% dos portugueses votaram nesse sentido. Eu fui um deles, eu votei AD.

Porém, esta é a leitura que faço dos resultados eleitorais e sempre vi o tacticismo de Luís Montenegro com grande retorno pessoal, um tacticismo capaz de lhe aumentar alguns votos, mas incapaz de implementar as reformas que o país reclamou e nas quais votou.

Na atual negociação para o Orçamento de Estado de 2025 é habitual os comentadores verem nela uma grande vitória do PM e pessoal de Luís Montenegro. Não tenho duvidas que ele fez uma boa gestão política do processo, mas no que resultou? Servindo-me das suas palavras, numa proposta que o PS não poderia recusar. E qual foi essa proposta? Foi incorporar no OE as propostas do PS. Aparentemente o PS vai posicionar-se simultaneamente contra o orçamento e a favor da sua aprovação, manifestando sempre uma “violenta mas mansa oposição”. Não lhe vai ser fácil  “descalçar essa bota” e as de choque vão surgir sempre que as linhas vermelhas se sobrepuserem ao sentido da votação de 10 de março. Eventualmente, ao longo da legislatura, vamos assistir a um governo que para se suster tem de periodicamente incorporar políticas à sua esquerda, propostas que seriam/são as mesmas de um governo “esqªngalhado”. Não foi contra isso que 3.356.534 de portugueses votaram?

E como se comportam os líderes do três maiores partidos políticos. Pedro Nuno Santos comporta-se como um fanfarrão ao estilo do “segurem-me senão eu bato-lhe”, vai mostrando o seu lado autoritário, num “dejá vu” “Socrático”, exigindo lealdade a apoiantes e fidelidade a opositores (Observador de 13 de Outubro). Por seu lado, Luís Montenegro tem-se mostrado um tacticista, porém, enquanto tiver como único objetivo o “esboroar” do CHEGA, e  o catavento do André Ventura continuar a dar “tiros no pé”, enquanto durar o actual “Lipograma Político” o país continua de soluções adiadas e ainda se arrisca, num futuro próximo, a ver cumprido o adágio popular “quem te permitiu a ti, neto de sapateiro, que tocasses no rabecão”.