Era o que faltava!”, respondeu o dr. Costa. Isto quando lhe perguntaram se pediria desculpa ao empresário David Neeleman. Isto porque o sr. Neeleman exigira publicamente essas desculpas. Isto depois de o dr. Costa ter dito que o sr. Neeleman não passava de um falido, indigno de confiança. Isto para justificar a aquisição, pelo Estado, de mais um pedaço da TAP.

Uma singela frase e o respectivo contexto resumem com aprumo o dr. Costa e a governação do dr. Costa. Em primeiro lugar, graças a uma equilibrada mistura de fanatismo ideológico, incompetência e inclinação para o trambique, envolve os contribuintes num negócio ruinoso (a reversão da privatização da TAP e as habilidades que se seguiram constituem um monumento à irracionalidade e à leveza com que se espatifa o dinheiro alheio). Em segundo lugar, na falta de uma explicação airosa ou no mínimo sofrível, o dr. Costa justifica-se com uma calúnia descarada (o sr. Neeleman não só não faliu como é figura particularmente prestigiada na aviação comercial). Em terceiro lugar, apanhado a mentir, o dr. Costa não admite a mentira e reage com típica sofisticação de taberna (e a firme convicção de que o público dele sofre de défice cognitivo suficiente para aplaudir a bojarda).

Eis o dr. Costa, um mentiroso persistente e rude, crescido na manha partidária e estranho ao escrutínio. É, sem surpresas, tão prepotente quanto limitado, embora fiquem dúvidas sobre a consciência das limitações: ele tem noção daquilo que é ou, pelo contrário, julga de facto ser o que tenta, atabalhoadamente, parecer? Não sei. Não me interessa. Interessa que burgessos há muitos. Alguns, por desdita ou sarcasmo divino, alcançam uma posição susceptível de influenciar as nossas vidas. Não vale a pena notar que o resultado é calamitoso.

A calamidade não começou em 2015. Nuns pormenores, começou há décadas, e há séculos. Noutros, começou em 1995, com o advento do eng. Guterres e de um bando que, sem grandes alterações e com breves pausas para efeitos de “resgate”, nos ilumina até agora. O que começou em 2015, sob o dr. Costa e os leninistas que o dr. Costa acarinhou, foi a aceleração vertiginosa do “projecto” socialista: preencher o resto da sociedade com o Estado, ocupar o resto do Estado com o PS. Mussolini não faria melhor. Fez, aliás, pior, dado que acabou pendurado numa corda. O dr. Costa encontra-se pendurado em sondagens, que apesar da tendência decrescente o mantêm favorito. Em última instância, pendura-se num cargo “europeu” ou similar, onde olhará de cima, e com aquele sorriso permanente, as ruínas que nos deixou.

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Não vou inventariar as desgraças que o dr. Costa nos infligiu. O Observador pede-me crónicas, não simulacros das defuntas Páginas Amarelas. Por falar em defuntos, e se a questão for a economia, pensem num indicador, qualquer um, e é garantido que, ao longo destes 6 anos, Portugal subiu quando seria positivo descer e desceu quando seria positivo subir. E o mesmo acontece na saúde, na justiça, na educação e no que calha. Os “trunfos” nessas matérias que o dr. Costa distribui possuem, lá está, a marca de credibilidade do homem, leia-se são falsos a ponto de o próprio Polígrafo, reverente e coitado, se ver forçado a desmenti-los.

O problema, ou o principal problema, é que os estragos do dr. Costa não se esgotam nos indicadores que a estatística mede. Nem sequer se esgotam nos danos “institucionais” em que as manigâncias do dr. Costa não dispensaram a cumplicidade de terceiros: hoje, se não repararam, o regime está amputado de um Tribunal Constitucional a sério, de uma magistratura a sério, de uma presidência a sério. A oposição política é escassa e o papel do jornalismo, nos dois sentidos, entrou em coma induzido. Os negócios são uma degenerescência obediente do poder. As únicas instituições sólidas são o compadrio e a inépcia, o nepotismo e o descaramento.

Porém, a destruição causada no tempo do dr. Costa foi sobretudo civilizacional. Não é em vão que se abraça partidos frontalmente anti-democráticos: o contágio pela prepotência é inevitável. A aproximação do PS aos “valores”, digamos, da extrema-esquerda transformou um governo eleito numa máquina de supressão da dissidência, proeza evidente durante a “pandemia” mas não reservada à “pandemia”. O súbito “civismo” dos portugueses, na verdade a resignação cega a regras e ameaças grotescas, reflecte o clima vigente, o de uma população temerosa do vírus e de quem manda, da doença e da represália. O dr. Costa, que exerce a língua com dificuldade, conseguiu reduzir os cidadãos a esta existência vergonhosa, e o país a uma noite sem esperança. Na campanha, com o Orçamento nas mãos e a petulância habitual, promete “estabilidade” e “continuidade”. Ou seja, assegura que a miséria, material e simbólica, não terá parança. Nisto o dr. Costa não mente.

Daqui a oito dias, o povo revelará o que quer. O que quer o povo? Uma parte quer a miséria na medida em que beneficia dela. Uma parte quer a miséria por recear as alternativas. Uma parte quer a miséria por não a reconhecer enquanto tal. E a parte que sobra não quer a miséria. Esperemos que, nas urnas, a parte que sobra exceda as três partes anteriores. Linhas vermelhas? A linha vermelha é exactamente a miséria, também conhecida por socialismo. É a psiquiatria, e não a História, a explicar o buraco a que descemos há 25 anos. E que repetimos há 15. E em que teimámos há 6. Por uma vez, se tivermos juizinho, a História é o que pode estar para vir. Difícil e modesto que seja, o que vier é preferível ao dr. Costa. Mais dr. Costa? Era o que faltava!