Já não era sem tempo. Finalmente, o Presidente da República disse alguma coisa de jeito. Quer dizer, mais ou menos. Marcelo disse a uma senhora para dizer às outras pessoas uma coisa de jeito. Assim é que foi. Perante o descontentamento com a situação económica do país demonstrado por uma cidadã, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Diga aos portugueses para votarem noutro Governo.” Nada mau. Aliás, desde o dia em que terminou a sua carreira de comentador político, afirmando que aquele era o seu último domingo na TVI, que não se ouvia Marcelo dizer nada tão acertado. É que foi mesmo a um domingo que aquilo sucedeu. Enfim, foram quatro anos e meio à espera que o Presidente dissesse algo de jeito, mas valeu bem a pena.

António Costa, esse, continua fortíssimo. A novela “As Tretas do Costa” conheceu, por estes dias, um novo episódio. Depois de, a 20 de Agosto, o primeiro-ministro ter prometido vacinas contra a Covid, gratuitas e para todos, e de, a 22 de Agosto, ter prometido um aumento do salário mínimo para 2021, desta vez António Costa prometeu aos portugueses que cheguem aos 135 anos, ou aos 2,5 metros de altura — o que suceder primeiro — um cheque de 250 milhões de euros. Não, mentira. Esta última promessa o primeiro-ministro não fez, pois seria extremamente parva. Costa só prometeu mesmo que uma vacina, que não se sabe se algum dia existirá nem quanto custará, será gratuita e para todos, e que o salário mínimo subirá, no ano subsequente àquela que deverá ser a maior queda do PIB de que há registo.

Esta última semana foi, sem dúvida, a semana do parecer. Nomeadamente do parecer da Direcção Geral da Saúde sobre as condições para a realização da Festa do Avante. Depois de a DGS recusar revelar o parecer; de o primeiro-ministro fazer de conta que não tinha nada a ver com a divulgação, ou não divulgação, do parecer; e de o Presidente da República exigir à DGS que revelasse o parecer, lá se ficou a conhecer o parecer. Incrível como, à conta de um mero parecer, mais do que ficar a parecer que ninguém tem mão na Festa do Avante, confirma-se que, embora os nossos dirigentes políticos possam parecer não absolutamente incompetentes, tal trata-se de mera ilusão óptica.

Bom, com tanta polémica em torno do Avante, decidi dar o benefício da dúvida à organização e consultei o programa do evento. Alguma coisa boa terá de se passar por lá, tenham paciência. Constatei que, de facto, não se justificava terem paciência. Entre outros, marcarão presença com os seus stands os partidos comunistas da China, de Cuba e da Bolívia. Por fim entendo aquela dúvida: mas, afinal, a Festa do Avante é um evento político, ou um festival de música? Não é nem uma coisa, nem outra. A Festa do Avante é, isso sim, uma Feira Popular onde todas as atracções são a Casa do Terror. Subsiste uma questão, no entanto. Como é que o PCP atribui os expositores? Por exemplo, como é que decide quem fica com a melhor localização? Ou com a área maior? Estou certo que não cobra preços diferenciados aos participantes, pois isso seria nojentamente capitalista. Desconfio que deve ser com base num ranking. A sucursal comunista que, em termos históricos, tiver causado mais vítimas escolhe primeiro e daí em diante.

Amiúde, tenho terminado estas crónicas com engraçadíssimas piadas fazendo pouco da histeria climática. Hoje é o dia do meu acto de contrição. Confesso que, a partir deste instante, também eu estou em paniquinho. Ou será panicozinho? Adiante. O facto é que fui surpreendido por uma notícia que me deixou em estado de terror súbito e violento. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, as temperaturas no Ártico estão a subir duas vezes mais depressa em relação à média global, fazendo diminuir o gelo. Ora, temperaturas mais altas? Por mim, tudo bem. Mais furacões no Golfo do México? Siga. Agora, escassez de gelo? Eventuais dificuldades no refrescamento do meu gin? Eh pá, alguém pode enviar os papéis para me fazer sócio da fundação da Greta Thunberg, se faz favor?

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