Marcel Proust conheceu, em 1886, Antoinette Faure, filha de Félix Faure, que seria Presidente da Republica francesa, e que lhe fez um desafio: responder ao questionário que, desde então, tem o nome desse escritor francês. Nesta entrevista imaginária, essas perguntas são feitas à Mãe de Jesus Cristo, Maria de Nazaré.

Qual a sua ideia da felicidade perfeita?

A Santíssima Trindade, porque “Deus é amor” (1Jo 4, 8.16).

Qual é o seu maior medo?

Não tenho nenhum, porque o Anjo me disse: “Não temas Maria, pois achaste graça diante de Deus” (Lc 1, 30).

Na sua personalidade, que característica mais a irrita?

Nada me irrita, graças a Deus.

E qual o traço da personalidade que mais a irrita nos outros?

Entristece-me a impenitência final diante da Face que perdoa.

Que pessoa viva mais admira?

Depois de Deus, que não é uma só pessoa, mas três – Pai, Filho e Espírito Santo – José, que embora tenha morrido, vive, porque, para Deus, todos vivem (Mt 22, 32).

Qual a sua maior extravagância?

Ter pedido a Jesus, que em trinta anos nunca tinha feito nada extraordinário, para que convertesse, em Caná da Galileia, a água em vinho, o que foi o seu primeiro milagre (Jo 2, 1-11). Se o não tivesse feito, aquele copo-de-água teria sido, apenas, isso mesmo!

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Qual o seu estado de espírito neste momento?

A bem-aventurança celestial. Se os homens soubessem o que é esta felicidade, fariam tudo para a alcançar, seguindo o exemplo dos santos.

Qual a virtude que pensa estar sobrevalorizada?

Nenhuma virtude está sobrevalorizada, mas todos os vícios o estão.

Em que ocasiões mente?

Nunca. Os que mentem “têm por pai o demónio e querem satisfazer os desejos do seu pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando ele diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).

O que menos gosta na sua aparência física?

Diga-me: corrigiria alguma coisa na Pietà de Miguel Ângelo?!

Entre as pessoas vivas, qual a que mais despreza?

Satanás e os seus demónios, que vivem e lutam por afastar os homens do caminho da salvação.

Qual a qualidade que mais admira numa pessoa?

Aquela que a faz maior: a humildade. Deus “dispersou os homens de coração soberbo. Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1, 51-52).

Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência.

“A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador!” (Lc 1, 46-47).

O quê ou quem é o maior amor da sua vida?

Nosso Senhor Jesus Cristo.

Onde e quando se sente mais feliz?

No Céu, claro!

Que talento não tem e gostaria de ter?

O de ainda poder sofrer pela salvação das almas.

Se pudesse mudar alguma coisa em si, o que seria?

Gostaria de amar ainda mais a Deus e, por Deus, todas as criaturas humanas.

O que considera ter sido a sua maior realização?

A minha maternidade, por obra e graça do Espírito Santo, desde o momento em que, virginalmente, concebi Jesus (Lc 1, 26-38; Jo 1, 14), até à sua gloriosa ressurreição e ascensão aos Céus (Lc 24, 1-50), depois da sua paixão e morte na Cruz (Mt 26, 1-54).

Se houvesse vida depois da morte, quem ou quê gostaria de ser?

Quem sou, aqui, nesta tão imensa felicidade: “Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cr 2, 9).

Onde prefere morar?

Na presença da Santíssima Trindade e no coração dos filhos de Deus, onde as três pessoas divinas também habitam (Jo 14, 23).

Qual o seu maior tesouro?

A graça de Deus, pela qual sou o que sou.

O que considera ser o cúmulo da miséria?

“Porque dizes: Sou rico, enchi-me de bens, de nada tenho falta; não sabes que és um infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te a que me compres (…) um colírio para ungir teus olhos, para que vejas. Tem, pois, zelo e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e me abrir a porta, entrarei em sua morada, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 17-20).

Qual a sua ocupação favorita?

Pedir, junto do Altíssimo, pelas almas que recorrem à minha intercessão.

A sua característica mais marcante?

Ser, por dom de Deus, “cheia de graça” (Lc 1, 28), como me foi revelado pelo Arcanjo São Gabriel na anunciação. E olhe que, segundo o dicionário, uma pessoa cheia de graça é … engraçadíssima!

O que mais valoriza nos seus amigos?

A caridade, na sua dupla acepção de amor a Deus e ao próximo.

Quem são os seus escritores preferidos?

São João, São Lucas, São Marcos e São Mateus, que escreveram sob a inspiração do Espírito Santo.

Quem é o seu herói de ficção?

Como a ficção fica muito aquém da realidade, todos os meus heróis são reais: os santos.

Com que figura histórica mais se identifica?

Com Jesus Cristo, “meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28).

Quem são os seus heróis na vida real?

Os “que guardam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus” (Ap 12, 17), a quem “o grande Dragão, a antiga Serpente, que se chama Demónio e Satanás, que seduz todo o mundo” faz guerra (Ap 12, 9.17).

Quais os nomes próprios de que gosta mais?

Os das pessoas que mais amo: Jesus, José, Ana, Joaquim, Isabel, João, etc.

Qual o seu maior arrependimento?

Não ter logrado que Jesus impedisse a morte de São José, não ter conseguido que Judas Iscariotes se arrependesse a tempo de ainda ser um grande apóstolo, nem ter alcançado a graça da salvação do mau ladrão que, se se tivesse arrependido, como o outro ladrão, também poderia ter ido para o paraíso (Lc 23, 43).

Como gostaria de morrer?

Como morri: com um sorriso de imensa felicidade, porque – finalmente! – fui levada, em corpo e alma, para o Céu, para junto de Deus, dos meus pais Joaquim e Ana, do meu marido José e, sobretudo, do meu muito amado filho Jesus Cristo!

Qual o seu lema de vida?

“Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim a sua vontade” (Lc 1, 38).