Passam-se os anos e o problema persiste. Milhares de professores nas ruas, acampados e fora das escolas, reclamam pela dignificação da profissão. As escolas estão fechadas e os alunos em casa (entre pandemia e greves dos professores, qualquer dia já nem sabem o que é a escola).

Os professores têm razão para protestar? Têm. São tratados às três pancadas, têm ordenados de miséria, o sistema dá-lhes poucas condições pedagógicas e físicas para exercerem competentemente a sua profissão e ainda por cima andam de casa às costas. Problemas não faltam e a solução, passam-se os anos, não chega.

O que aqui me traz não é, portanto, uma ausência de reconhecimento das razões de queixa dos professores. É a sua atitude perante qualquer hipótese de mudança. Ao longo dos anos, qualquer intenção de mudar o atual estado de coisas gera uma contestação tal que os ministros acabam por cair e o sistema fica na mesma.

Aparentemente, embora agora se apresse a desmentir, o Ministro da Educação planeava alterar o método de colocação de professores, atribuindo a entidades municipais, juntamente com a direção das escolas, a tarefa de escolherem os seus quadros docentes. Este é o grande motivo de indignação dos professores. Qualquer ideia de retirar do ministério central a competência da colocação de professores faz sindicatos, e atrás de si toda a classe, rasgarem as vestes e declararem guerra ao Governo.

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A pergunta que deve ser feita é como querem afinal os professores alterar esta situação absurda de andarem de casa às costas, ano após ano, sendo colocados a centenas de quilómetros de casa? Ou ainda: o que têm os professores contra o poder local e os diretores das escolas para acharem assim tão indigno serem submetidos a um concurso na sua área de residência?

Que eu saiba, não há mais nenhuma carreira da função pública que siga este método. Os médicos são contratados pelas direções hospitalares e nas outras carreiras o método é semelhante. Não se percebe de que têm medo os professores, nem como querem alterar a sua situação. Será que acham que o poder local é um poder menos legítimo do que o poder central? E que os diretores dos agrupamentos escolares não têm critério para escolher os melhores professores para as suas escolas? Ou será que estão a ser envenenados por quem há décadas é incapaz de os defender?

Os professores estão reféns de líderes sindicais que inviabilizam qualquer solução. Os ministros, bons e maus, vão caindo uns atrás dos outros. Do outro lado eterniza-se uma figura que há décadas não sabe o que é uma sala de aula e que se reclama o dono da classe. Mário Nogueira é o muro de Berlim dos professores. O líder da Fenprof recusa qualquer mudança que ameace o seu domínio sobre milhares de professores. Os novos sindicatos que surgiram no terreno e que poderiam mudar o paradigma acabaram por, também eles, se deixarem enredar na teia de Nogueira. É assim que vamos assistir à queda de mais um ministro e à sobrevivência do Sr. Fenprof. Os professores, esses, vão continuar com os mesmos problemas, liderados pelo mesmo protagonista.

Bem sei que vou ser atacada pelo que escrevo. Mas antes de me dirigirem os ataques irracionais habituais quando escrevo sobre este tema e sobre a ditadura do Sr. Nogueira, quero que saibam que, não sendo professora, sou mãe de filhos que frequentam a escola pública. A escola existe para ensinar o melhor possível os seus alunos e é isso mesmo que está em causa no ensino público. Sem professores ou com professores desmotivados, os alunos portugueses são os grandes prejudicados por este sindicalismo totalitário que recusa qualquer mudança manipulando os professores.