Devido a inúmeros fatores, Portugal tornou-se nos últimos anos um dos destinos mais procurados internacionalmente. Quer seja para visitar, para viver ou até para trabalhar de forma remota.

Se tivesse de nomear o principal factor que desencadeou este feito, é sem dúvida a estratégia de Turismo Nacional que não só se baseia na captação de visitantes, evoluindo para a atração de investidores, bem como demonstrar os valores e características genuínas de Portugal e sua população para assim atrair mais população residente.

Esta estratégia trouxe feitos importantes para o nosso país, permitindo-nos sair de uma crise económica sem paralelo, requalificar os centros das cidades que estavam praticamente vazios e em ruínas, bem como captar muito talento que tinha emigrado e que voltou.

Temos a sorte, e privilégio eu acho, de vivermos num país onde de forma generalizada toda a gente é bem vinda. Talvez devido ao facto de termos um passado de emigração, respeitarmos quem vê na nossa terra um local para melhorar as suas condições de vida ou realmente compreende o bem estar e qualidade de vida que aqui é possível ter.

E são estes os fatores que trazem muitos estrangeiros para Portugal. Mas se há características que provavelmente são mais afirmadas é a nossa amabilidade em receber o outro. Tornando-nos únicos enquanto povo.

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Mas, como diz o provérbio, “Não há bela sem senão” e este feito não trouxe consequências só positivas, havendo, como é óbvio, externalidades negativas de que vale a pena falar, sendo a mais óbvia o custo de vida nas grandes cidades. E o principal custo que salta à vista de todos é o custo da habitação, que chegou a níveis incomportáveis para o comum dos portugueses – tanto para comprar como para arrendar.

Desde 2021 que o Governo promete uma aposta no sector da habitação, com uma “resposta pública” não apenas para colmatar as necessidades existentes, mas que seja também capaz de contribuir para a regulação do próprio mercado no seu todo, “equilibrando a oferta e tornando a habitação mais acessível”.

Independentemente das soluções que sejam apresentadas, as mesmas nunca terão efeitos imediatos. E é neste hiato de tempo que os discursos populistas habitualmente se alimentam, através das frustrações das pessoas. Alimentando-se do medo através de insinuações e promessas de soluções fáceis.

E isso deixa-me preocupado!

Nos últimos tempos, assistimos a narrativas nacionalistas ou anti-imigração crescentes de ambos os extremos políticos, tanto à direita como à esquerda.

Se, por um lado, temos uma extrema-direita que afirma que os imigrantes que vêm para o nosso país querem viver à nossas custas e “roubar” os nossos empregos, por outro temos uma extrema-esquerda que diz que os estrangeiros que vêm para Portugal fazem o nosso custo de vida aumentar e não trazem nada de positivo.

Os discursos contra os estrangeiros são semelhantes, tanto à direita como à esquerda, os primeiros têm medo que “eles” nos tornem mais pobres, os segundos têm medo que “eles” demonstrem o quão pobres somos.

A lógica de argumentos é sempre a mesma, a de criar um sentimento de “nós” e “eles”. E narrar ideias simplistas que não precisam nem de provas, nem dados que comprovem o que afirmam.

A solução para a crise habitacional que existe não é fácil nem rápida, mas exige capacidade de diálogo. Com quem já cá está, com quem quer cá ficar e com quem para cá quer viver. E isso nunca se faz com ideias que excluem alguma das partes. Pois se assim for, apenas iremos ao encontro de um Portugal de há 5 décadas atrás, onde éramos “Orgulhosamente sós”. E penso que nenhum de nós quer voltar ao passado.

Outgoing Curator dos Global Shapers Lisbon Hub, Diogo Vieira da Silva, Licenciado em Comércio Internacional, detém duas pós-graduações; uma em Gestão Hoteleira e outra em Marketing Digital, bem como um MBA Internacional. Desde cedo se envolveu na promoção dos Direitos Humanos das pessoas LGBTI+, tendo ajudado a fundar duas ONG ‘s nesta área e assumido a Coordenação Europeia do Projeto Norte-Americano It Gets Better Project durante dois anos consecutivos. Co-fundador da VARIAÇÕES – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, detém o cargo de Diretor Executivo e a Coordenação da Campanha Proudly Portugal. Como analista de negócios apaixonado por Diversidade, Equidade e Inclusão, foi Curador do Ciclo de Conferências Fidelidade na Fundação Culturgest sobre questões de Diversidades e Inclusão.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.