O país precisa de uma nova forma de fazer política. De uma nova forma de governar.
A meses de se assinalar o 50º aniversário do 25 de abril, Portugal afundou-se numa crise política. Mas aquilo que nos deve preocupar não é esta crise política em particular, mas sim aquilo que nos fez chegar aqui, a este estado e desta forma.
Os sinais têm vindo a ser ignorados por todos, em particular pela classe política e ao longo da última década.
Não foi com esta crise que percebemos a forma irresponsável com que alguns gerem e governam o que é de todos. Não foi só hoje que percebemos o vazio de capacidade técnica e conhecimento que muitas vezes reina nos gabinetes ministeriais e no estado, central e local, de uma forma geral. E também não foi só hoje que percebemos que muitos daqueles que aceitam a nobre missão de servir a causa pública, ultrapassam não poucas vezes linhas vermelhas, pondo em causa os principais valores da democracia. O momento é de não retorno. Temos necessariamente que mudar a nossa forma de viver a democracia. A classe política, os partidos, têm a obrigação de parar de ignorar aquilo em que muitos se tornaram e se preocuparem fundamentalmente em captar gente capaz, competente, séria, com valores e qualificada. Não, a política não é para todos! É sim para aqueles que querem contribuir verdadeiramente e de forma honesta para o futuro do país. É para aqueles que querem colocar o seu conhecimento ao serviço de todos, pautando o seu exercício por valores como a solidariedade, o bem comum e o espírito de missão.
O populismo não terá lugar na nossa democracia se todos contribuirmos para que isso não aconteça.
É urgente o envolvimento da sociedade, é urgente que aqueles que sentem que podem contribuir para uma sociedade mais justa, igualitária e capaz, se envolvam na política e encontrem mecanismos que lhes permitam causar esse impacto. Isso só acontecerá se os partidos políticos forem capazes de acolher e de se abrir de uma forma transparente e natural à sociedade. Não basta apregoar o ideal da Liberdade. É preciso que os militantes e simpatizantes se sintam verdadeiramente livres no exercício da política partidária.
O dever de zelar pelo estado democrático deve ser promovido na academia, desde cedo, capacitando os jovens de uma visão responsável e social da democracia e da sua importância, penetrando dentro das escolas com o objetivo de promover a cidadania e a participação cívica, realçando os valores da cooperação e do consenso em todas as formas e contextos.
As eleições aproximam-se e o tempo tende a esgotar-se. A atividade política precisa como de pão para a boca de se rejuvenescer e de trazer para si pessoas que tenham visão e capacidade de executarem reformas que verdadeiramente transformem o país e a vida de pessoas, deixando de lado as medidas fugazes e sem impacto concreto na vida dos cidadãos. Pessoas que sejam capazes de transformar e valorizar aquilo que temos de melhor, sem nunca perder a noção da responsabilidade que acarreta gerir o setor público. Que incutam dignidade e rigor em cada medida discutida e implementada e que cada uma dessas medidas, investimentos e ações tenham a compreensão do povo português.
É certo que não concordei com a forma de como se chegou à tão badalada geringonça, mas não tenho dúvidas dos resultados positivos que alcançou e naquilo que trouxe aos portugueses, obrigando de uma forma saudável e democrática à construção de consensos e pontes. Sem demagogia e naturalmente com erros cometidos, conseguimos todos perceber o impacto desta nova configuração à esquerda. O país foi capaz de viver, investir e executar, sempre com a preocupação de devolver rendimentos aos portugueses e com as famosas contas certas.
Se podia ter sido melhor? Podia! Se se podia ter feito mais? Claro que sim! Uma coisa é certa, governar com maioria absoluta não trouxe os benefícios e a estabilidade esperada. E é exatamente aqui que surge outro ponto de viragem na vida política portuguesa: deixar de parte o desejo, de qualquer partido, em alcançar uma maioria absoluta, mas sim centrar esforços em obter consensos abrangentes, nas mais diversas áreas setoriais, trazendo para o país reformas estruturais, estáveis, e que mudem de facto a vida dos portugueses.
O consenso será a chave do próximo ciclo político e aqueles que consideram ser possível governar o país voltados para si próprios, estarão condenados ao fracasso (e nós também).