Os meus avós e bisavó foram dos alicerces mais relevantes do meu crescimento e vida, até há bem pouco tempo. Ficar órfã de avós depois, da bênção que é tê-los por perto o máximo de tempo possível, traz uma sensação de vazio muito grande.

Uma Grande Reportagem recente trouxe-me um outro prisma de análise: os que não perdem avós, mas os que crescem impossibilitados de os ter fisicamente perto. Num país que já não parece ser primeira escolha para muitos, e num mundo cada vez globalizado, a procura por melhores condições de vida, e por vida para além do trabalho, leva muitas famílias a emigrarem para outros destinos. Esta opção, para além de uma série de outras consequências de desenraizamento, traz também a progressiva “extinção” dos avós da vida quotidiana dos netos. Daqueles que desempenham um papel único e insubstituível no desenvolvimento emocional e cultural das crianças.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, cerca de 100 mil portugueses emigram anualmente, o que impacta diretamente a estrutura familiar. Muitas dessas famílias veem-se obrigadas a interromper a comunhão diária com os avós, transformando as visitas de fim de semana, celebrações em datas especiais e férias na casa dos avós em momentos raros ou inexistentes. A distância geográfica cede também lugar à distância emocional, e a figura dos avós vai ficando cada vez mais distante na memória das novas gerações, enquanto os corações dos avós se enfraquecem com a solidão.

Graças à tecnologia, através de videochamadas e redes sociais, tenta-se preencher estas fendas nas emoções, mas ainda não acedemos ao teletransporte e nada consegue substituir a presença física e o contato direto, cara a cara, pele com pele.

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Uma ligação pelo Skype ou Zoom pode aliviar saudades e pequenas feridas momentâneas, mas não substitui um abraço, um beijo ou o aroma de um jantar preparado com aquele especial carinho.

Apesar da regularidade das conversas virtuais, a verdade é que estas não têm a essência de uma visita ao café para comer um gelado (sem os pais saberem), da introdução aos naipes de cartas (só em casa), de um baloiço que se sente amparado (mesmo em dias frios), de histórias lidas na cama (já fora de horas limite) e de cheiros que ficam (onde descobrem os avós aqueles perfumes?!).

Esta distância impacta também no desenvolvimento cultural dos netos. Os avós são, muitas vezes, os portadores de tradições e costumes que mantêm viva a identidade cultural de uma família. Sem essa transmissão direta, onde se conhecem e consolidam as raízes? Onde se volta quando se pretende regressar?

Algumas famílias encontraram maneiras férteis de manter a ligação. Avós que aprenderam a usar a tecnologia pela primeira vez surpreendem com presenças virtuais, contando histórias via ecrã ou vendo um filme de forma sincronizada. Criam-se contas de redes sociais, permitindo conhecer amigos, adivinhar os primeiros namoros, saber dos locais preferidos, hábitos e gostos.

Os avós são fantásticos! Caso tenham condições e saúde, reinventam-se para domar estes dragões que lhes vieram assombrar um futuro sonhado. Uns tornam-se viajantes frequentes, aproveitando as aposentadorias para visitar os filhos e netos. Outros, apesar das limitações, encontram na tecnologia uma ferramenta para manter o vínculo emocional.

Sou a favor de um subsídio para as viagens dos avós, uma política que permitisse ser menos doloroso não se perder tudo, e de programas comunitários que ajudassem os avós a aprender a usar tecnologia de forma eficaz, e até mesmo de iniciativas locais para facilitar encontros intergeracionais.

A bem dos netos de hoje e dos de amanhã, e de todas as famílias, urge pensar em políticas e iniciativas que mantenham vivos o legado dos avós.