Chega ao fim mais uma época desportiva.

A entrada para uma nova época é sempre um momento de uma nova esperança, de mais emoções, de mais espetáculo, de novos títulos e de mais glória.

Esperança, também, de voltar a ter os estádios com adeptos que tanta falta fizeram às equipas e aos jogadores e que tanta falta fizeram também aos adeptos habituados ao inevitável programa de fim-de-semana a sofrer pela sua equipa.

Que saudades do Estádio da Luz cheio, do voo da águia e do cantar do hino.

Desportivamente, foi mais uma época frustrante para o SLB . O terceiro ano consecutivo em que nos foge o título e mais um ano em que fomos inexistentes na Europa. Triste para um clube que se fez grande vencendo na Europa quando Portugal não vencia em lado nenhum.

O defeso é o tempo de preparação da nova temporada, de tomada de decisões, é o tempo de escolhas decisivas para o sucesso desportivo próximo. Tenho a convicção que 80% do sucesso desportivo da época se faz na preparação da mesma.

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Desperdiçado o dinheiro das vendas milionários sem conseguirmos construir um grande plantel que nos distanciasse desportivamente, enfrentamos hoje uma ressaca da pandemia sem perspectivas de grandes vendas e uma diminuição drástica das receitas correntes com as consequências inevitáveis na tesouraria.

Tal como o penta, fica a sensação, a nós sócios, que foi mais uma vez uma oportunidade desperdiçada de consolidação desportiva. Mais do que nunca, tem que haver uma reflexão profunda sobre o desastre desportivo generalizado e que foi transversal, no futebol e nas modalidades, com algumas honrosas excepções, como o voleibol.

Será que a estrutura desportiva existente responde aos objectivos e à exigência do clube? Vão-se apurar responsabilidades? Ou, mais uma vez, vai ficar tudo na mesma?

E o mais grave é que, com excepção de alguns jogos, nunca se viu vontade, paixão, superação, nunca se vendeu cara a derrota. E, sinceramente, quando se apresenta uma qualidade tão baixa e uma vontade ainda mais baixa, ninguém se convence muito com as desculpas.

O clube parece anestesiado, resignado, sem energia e sem ideias para mudar o rumo. O presidente muito condicionado e a condicionar o Benfica, com os problemas pessoais que ficámos a conhecer recentemente, o resto da direcção parece inexistente, o treinador sem vontade nenhuma de cá estar e os jogadores ,se ganharem óptimo, se não ganharem paciência.

Os órgãos sociais eleitos têm legitimidade para continuar, mas tenho muitas dúvidas se ainda há energia nesta direcção para reagir e começar a preparar a próxima época com força, ideias, convicções e paixão. E não se fiem muito na desculpa oficial, pois não justifica tudo.

A direcção tem apelado à união dos benfiquistas, tudo certo, concordo, mas continuar complacente com a recorrente incompetência desportiva não é união, é estupidez.

Precisamos de sinais de mudança. A preparação da próxima época e a oportunidade de fazer diferente têm de ter bem presente erros antigos e o sentido de urgência em recuperar o prestígio desportivo. Para isso, a estrutura desportiva, de uma vez por todas, tem que ter ideias claras do que pretende, agir rápidamente e não se perder em fundamentalismos, equívocos e intermináveis negociações.

A preparação das últimas épocas foram penosas para os sócios do SLB que viram a contratação de todo o tipo de jogadores, menos os que na realidade a equipa precisava – para não falar dos faits divers intermináveis, tipo Cavani, e sempre aquela veia mercantilista a sobrepor-se aos interesses do desporto.

É urgente o regresso ao título e ao mapa da Europa. Repetir receitas antigas e esperar resultados diferentes é como jogar na lotaria.

Sei que o futebol português é um sistema viciado que cede, há muitos anos, a quem intimida, ameaça, manipula, grita, chora e exerce uma pressão insustentável sobre todos os agentes desportivos com bons resultados.

Num desporto que movimenta milhões e paga salários milionários, as multas aos infractores são ofensivas.

Sei que a tentação é grande para alinhar neste jogo, que na realidade, em Portugal compensa. Sei disso tudo, mas sei também que esse caminho nunca poderá ser o nosso. Por isso, resta-nos o caminho da credibilidade financeira, da excelência desportiva e voltar à atitude guerreira e ambiciosa que já foi nossa.

Quanto à recuperação da credibilidade financeira, foi feito um trabalho muito bom, mas desportivamente, a política tem estado longe da excelência. Pelo contrário, tem sido errante, confusa, ziguezagueante, basicamente sem rumo e também tem havido uma ausência total de sensibilidade desportiva em momentos chave.

Nada a fazer quanto à época finda, tudo a fazer quanto à nova época.

Com base no que tem sido a preparação das últimas épocas, terminando sempre com planteis desequilibrados e com os resultados conhecidos, atrevo-me a deixar nove recomendações para a preparação da próxima:

1. Concentrem toda a estrutura nos básicos, que é identificar o perfil dos jogadores que precisam para as posições que precisam, para os vários sistemas que o treinador pensa utilizar, com o dinheiro que tê e contratem-nos. Não é qualquer jogador que serve para jogar no Benfica. Não importa a idade, mas tem que ter qualidade acima da média, atitude, agressividade competitiva e a intensidade de jogo que o futebol moderno exige.

Gostava de saber a opinião do Rui Costa, que foi um médio de excelência, sobre a performance do nosso meio campo actual que, sob pressão, em três passes falha dois. É normal a facilidade com que se perde a bola? Vamos continuar assim e esperar resultados ?

Por favor, deixem para o fim, após o fecho de 90% do plantel, a compra dos jogadores a granel que, à partida, sabemos logo que não vão ficar no plantel, porque só desfoca toda a estrutura do objectivo principal: construir um plantel equilibrado, que tenha condições para lutar pelos vários títulos e construído a tempo e horas para o início da época.

2. Evitem logo à partida a retórica do apostar ou não na formação. A aposta do Benfica tem de ser em ser Campeão, com mais ou menos jogadores da formação, de preferência com muitos. Mas essas retóricas fundamentalistas só prejudicam o clube.

Os órgãos de comunicação do clube, em vez de procurarem desculpas para os insucessos, comportamento muito comum nos nossos rivais mas nada a ver com a tradição e grandeza do Benfica, devem ajudar a comunicar a estratégia de uma forma clara e minimizar as novelas intermináveis nos jornais.

3. O JJ é o treinador que contrataram e não vai dar muitas oportunidades aos jogadores do Seixal. Nunca deu nem nunca vai dar, preferindo sempre os jogadores contratados por ele. É um facto  e acho uma lástima ter a academia que temos e ter somente um jogador da casa a titular, mas nem vou sequer desenvolver a minha opinião sobre o assunto (Diogo Gonçalves só teve a sua oportunidade na época passada devido à grave lesão do André Almeida e da incapacidade total do lateral direito brasileiro contratado, senão nunca teria jogado).

Mas é o treinador que contrataram e quando o contrataram já sabiam ao que vinham.  Portanto, ou o despedem, ou então têm de construir um plantel à imagem dele. Fazer regressar os jogadores emprestados da formação para o JJ os pôr a jogar um minuto depois da hora, como fez com o Gonçalo Ramos, mais vale que continuem emprestados. Como adepto, é duro ver o Gonçalo Ramos sem oportunidades e ver o ponta de lança titular falhar consecutivas chances clamorosas de golo.

É difícil de entender embora não me surpreenda. Decidam entre o treinador que contrataram e o regresso dos jovens. E, sobretudo, evitem logo à partida braços de ferro e/ou novelas sobre o assunto, que só fazem perder tempo e alimentam notícias nos jornais.

4. Há jogadores do plantel que nunca foram opção com os últimos três treinadores e/ou se lesionam sempre nos poucos minutos em que são utilizados. Tem sido recorrente época após época. O que estão lá a fazer? São importantes líderes do grupo no balneário? Talvez, mas nas últimas épocas com poucos resultados e estão a tirar o lugar a outros que nos fazem muita falta como opção. O que estão à espera para resolver o assunto?

5. Por favor poupem os sócios do SLB das negociações intermináveis tipo Lucas Veríssimo ou Cavani. Quanto custou ao clube o Lucas Veríssimo ter chegado ao plantel com tantos meses de atraso para uma posição em que estávamos tão carenciados? Valeu o dinheiro e a negociação interminável? Que falta que ele nos fez na Grécia contra o PAOK.

E, por favor, poupem-nos das contratações salvas à última da hora, ora pelo presidente, ora pelo Rui Costa, dependendo da conveniência comunicacional do momento. A nós, sócios, não nos interessa quem negoceia, simplesmente fechem as negociações ou larguem-nas, mas não as eternizem. A melhor negociação de todas é ter 90% do plantel fechado e à disposição do treinador no início da época.

O atrapalhado início da época finda, com os jogadores a chegar a conta-gotas, com a consequente derrota frente ao PAOK, obrigou-nos a vender o Rúben Dias, que está a fazer a época que sabemos no Manchester City.

É muito importante começar bem.

6. Se alguma contratação para uma ou duas posição falhar, porque acontece nos melhores clubes, corrijam-na na janela de Dezembro. Ainda hoje penso o que teria acontecido no ano do penta, se tivéssemos corrigido o plantel em uma ou duas posições em que estávamos débeis à vista de todos menos dos responsáveis do clube.

O Manchester City, só com a entrada do Rúben Dias, deixou imediatamente de sofrer golos. E a partir daí, foi sempre a subir na classificação até à liderança da Premier League e a consequente conquista do título. Às vezes, uma ou duas correções numa equipa muda tudo. Há que ter sensibilidade desportiva.

7. Com a saída do Rui Vitória e do Bruno Laje ficou sempre no ar a ideia de haver alguns problemas no balneário. Não sei se os há ou não. Mas se os há, resolvam-nos doa a quem doer, não os adiem e partam para a próxima época limpos. Um balneário limpo faz milagres dentro do campo e vale muito mais do que o que se consegue com as intermináveis negociações.

O Benfica não pode ganhar sempre, mas foi confrangedor a displicência olímpica com que perdemos alguns jogos nesta época. Quais as razões profundas por detrás desta atitude? Reflitam internamente e tratem delas.

Esta época, o nosso rival da Segunda Circular foi campeão com pouco e, mesmo com todas as contingências de uma época peculiar que os favoreceu, não podemos ignorar que foi o campeão da vontade de ganhar e de ser campeão.

O Benfica campeão do Bruno Laje teve essa garra e essa vontade. Nunca vi essa vontade na equipa desta época. Nem tudo se resolve com milhões, há que tirar conclusões e há trabalho de casa a fazer neste aspecto.

8. Jonas foi uma contratação a preço zero que correu muito bem, mas foi uma excepção. A maioria foi um desastre e alguns continuam no plantel com rendimento reduzido, altos salários, ninguém os quer e a tirar lugar a um bom jogador. Dêem prioridade ao perfil do jogador pretendido. O jogador mais barato é o que funciona, os outros são todos caríssimos, mesmo a preço zero.

9. Abordem a próxima época com a ambição consentânea com a história do clube, mas com humildade, sem grandes statements para fora  tipo vamos arrasar e outros do género. Não criem uma pressão adicional aos jogadores, muitos deles jovens, estreantes no clube e contratados por valores altos, que sem dúvida se ressentiram de tudo isso na sua primeira época no clube.

É uma lástima, que depois de uma recuperação longa e dolorosa da credibilidade financeira do clube (sem incumprimentos, perdões de dívida e fair plays financeiros como os nossos rivais) e atravessado um período de vendas milionárias única, não termos conseguido traduzir isso em sucesso desportivo continuado, por falta de uma visão desportiva clara e consistente, e algum novo riquismo em pensar que os milhões resolvem tudo, quando no desporto não é bem assim.

Não será tempo de aprender e mudar? O Eusébio, a maior figura do clube, foi o Campeão que todos sabemos dentro do campo, mas foi também o campeão da humildade fora dele. Inspirem-se nele na preparação da nova época e deixem-se de novo riquismos, que nada têm a ver com a cultura do clube. Talvez comece por aí o regresso aos títulos.