Com todas as trombetas da comunicação social financiada pelo governo após seis anos e meio de dominação contínua e com a «mão-por-baixo» do presidente da República, António Costa veio por fim anunciar as «regalias» que tenciona fazer à população do país a fim de, alegadamente, minimizar as consequências nefastas da actual conjuntura político-económica, sobretudo aos mais «carentes». Entretanto, o contexto internacional em que o 1.º ministro disfarçou a dívida pública, é tudo menos estável, elevando-se esta há menos de seis meses a cerca de 280 mil milhões de euros e sendo, portanto, 30% superior ao PIB nacional.

O primeiro véu lançado pelo primeiro ministro sobre o conteúdo das suas promessas é que o juro da dívida continuará a subir perante a inflação… Imediatamente a seguir, está o montante da prenda oferecida aos eleitores pelo PS. Na realidade, essa oferta limita-se a cerca de 1,5% do PIB: tão pouco para tantos milhões de beneficiários? Se não, vejamos. A primeira «broa» propagandística oferecida ao «povo» é a promessa de um grande desconto em combustíveis como a gasolina e o gasóleo… desde que o consumidor «meta» 50 litros no carro! Ora, boa parte da população não tem automóvel. Outra parte, à qual pertenço, tem carros que não «levam» 50 litros… Em suma, o «bodo aos pobres» está praticamente reservado aos «camiões» das empresas e aos Mercedes e BMWs oficiais e particulares.

Algo de paralelo se passa com a promessa de «ajuda aos inquilinos», limitando o aumento anual das rendas de casa a 2%, mas esquecendo que a grande maioria da população vive em grupos familiares isolados (cerca de 4 milhões), possui uma propriedade privada ou mais. A ir para a frente, uma medida como esta apenas atinge os grandes proprietários e, por tabela, a construção civil que não investirá como investiria se o aluguer não fosse praticamente congelado apesar dos «apoios» do governo aos «capitalistas»…

A história da habitação em Portugal é aliás bem conhecida e recua à desregulação das rendas pelo governo Vasco Gonçalves ratificada pelo PS ao criarem o chamado «empréstimo bancário bonificado», desencadeando por tabela a especulação imobiliária desde 1978 até hoje… Foram o PCP e o BE quem obteve esse «prémio»? É isso que o PS pretende?

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Quanto ao bónus de 125€ prometido pelo PS a cada trabalhador activo cujo rendimento individual não ultrapassa 37.800€ brutos por ano, mais valia entregar esse bónus àqueles a quem chamam «pobres» e que não possuem, efectivamente, rendimentos que se vejam… Quanto à electricidade «barata», acabou por ser reservada a uma minoria de pequenos consumidores enquanto a maioria das famílias de quem tanto se fala terá de pagar as tarifas criadas pela guerra da Ucrânia e pelos negócios da Alemanha com Putin.

Confirmando o carácter completamente desarticulado das prometidas intervenções governamentais, a única intervenção que pareceria fazer um mínimo de sentido é a apressada reforma das pensões. Trata-se, porém, de compromissos financeiros assumidos pelo governo bem antes da pandemia, da guerra e da inflação, os quais se traduziriam em aumentos previstos para 2023 com vista à captação dos votos dos pensionistas para o PS como de costume! A «trafulhice» foi tal que, ao antecipar no próximo mês metade do aumento mensal previsto para o próximo ano, tal aumento será imediatamente suprimido em Novembro e Dezembro seguintes. Quanto a 2023, fica para mais tarde e o PS tentará cortar aquilo que prometeu, conforme é seu hábito!

Tudo junto e mais algumas promessas desgarradas acabam por mostrar o seu carácter manifestamente «propagandístico», sem qualquer futuro de médio-prazo para não falar de projectos de longo prazo. Trata-se, como tem acontecido até hoje com o PS desde que chegou ao governo em 1976, não só da falta de visão temporal como também desse «distributivismo» euro a euro destinado a fixar o eleitorado mais carente. Entretanto, o país não só não tem economia que se veja, à parte o turismo de baixa valia, como não se entrevê qualquer futuro: Portugal perde população; há mais emigração do que imigração; a esperança de vida recuou e o excesso de mortalidade não está resolvido.

Não foi pois à toa que a ministra da Saúde desistiu de reconstruir um «SNS» que já começara a estilhaçar-se há bastante tempo com o envelhecimento da população, o crescimento das companhias de seguros e o correlativo aumento da medicina privada. Quanto ao governo, que ainda há pouco fazia graças sem piada acerca das dezenas de milhar de hectares de incêndios rurais, prometendo maravilhas para daqui a décadas, isso só demonstra a incapacidade para fazer um plano com princípio, meio e fim. Começa na crise económica e acaba, por regra, na da política. Esperemos não chegar lá visto o que se perfila para a educação, a saúde e as pensões, mas as oposições não dão a prever nada melhor.