Sem pudor e sabendo que a consequência seria o escalar da violência e caos em Moçambique, no passado dia 23 de dezembro o Conselho Constitucional validou a vitória da Frelimo nas contestadas eleições do passado dia 9 de outubro. Ninguém ignora que a vitória é fraudulenta e que a Frelimo transformou a contestação popular na arte que é exímia desde 1974-1975, a pulsão repressiva assassina.
Essa postura anda há meio século escudada no silêncio do complot esquerdista que controla o sistema internacional. Neste final de ano sangrento em Moçambique, vemos órgãos de soberania da antiga potência colonial, Portugal, darem um passo em frente, agora a céu aberto, no colaboracionismo com a natureza repressiva, violenta e assassina da Frelimo, a habitual chantagem internacionalmente partilhada atentatória dos direitos humanos mais elementares dos moçambicanos.
Apoiado pelo Podemos, a nova força política moçambicana a quem a fraude eleitoral sonegou a vitória nas legislativas de 2024, Venâncio Mondlane, o candidato cuja vitória nas presidenciais também está a ser sonegada pela mesma razão, reagiu na imprensa:
«É realmente lamentável que o primeiro-ministro e o Presidente da República portuguesa tenham feito pronunciamentos a confirmar ou a felicitar a Frelimo e o seu candidato em função de resultados altamente problemáticos, falaciosos e adulterados que foram proclamados pelo CC [Conselho Constitucional de Moçambique] (…) É lamentável, um país [Portugal] que achávamos que podia ser a entrada de Moçambique para Europa, para que fossem nossos porta-vozes para alcançarmos uma situação de paz e passividade em relação à crise que Moçambique está a viver.» (24-12-2024)
(i) Quando o caos, a violência e a morte em Moçambique se agravam a cada dia por causa da ratificação legal da fraude eleitoral por um órgão de soberania controlado pelo regime da Frelimo, o Conselho Constitucional, só por ignorância ou maldade, ou ambas, governantes de países terceiros persistem em alimentar dúvidas sobre o que tem de ser feito.
(ii) Quando – tal como em 1991 em relação a Xanana Gusmão, no caso de Timor-Leste, após as imagens do Massacre no Cemitério de Santa Cruz, em Dili – não faltam imagens quotidianas do horror repressivo da Frelimo contra civis indefesos desde outubro, seria de esperar que os governantes de Portugal e demais Ocidente olhassem com olhos de ver para o opositor da Frelimo, Venâncio Mondlane. Até ao limite das suas capacidades, esse líder carismático moçambicano tem colocado a tónica no protesto cívico pacífico e na defesa da democracia, razão para ver ampliado o apoio livre e consciente da esmagadora maioria dos moçambicanos de norte a sul do país, o que num mundo e tempo decentes chegava e sobrava para Venâncio Mondlane ter obtido apoios internacionais sólidos há mais de um mês, mas nada disso tem acontecido. Caso o apoio internacional sem tibiezas tivesse sido garantido, como se impõe, ter-se-ia antecipado a pacificação de Moçambique, preparado bem melhor a transição política e, sobretudo, ter-se-iam poupado muitas vidas e bens, evitado a rotura das instituições (justiça, segurança, economia, saúde, entre outras), assim como a continuidade do alastrar de ódios entre moçambicanos. É doloroso constatar que a diferença entre Nelson Mandela falar inglês e Venâncio Mondlane falar português constitua anátema internacional contra o último, e com o colaboracionismo estúpido da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) onde pontificam os que governam Portugal, PSD e PS, e o Brasil, Lula da Silva. Claro que é necessário acrescentar que os destinos do mundo estão nas mãos de uma casta patológica para a qual a esquerda é sempre divina, mesmo quando falsifica eleições e assassina, como a Frelimo, e quem a contesta acaba abandonado à sua sorte, como os pobres moçambicanos desarmados e saturados de serem martirizados pelos seus governantes.
(iii) Quando todos anteveem que o presidente republicano reeleito nos Estados Unidos da América, Donald Trump, irá refazer equilíbrios internacionais contra a China, Rússia ou o narcotráfico internacional, é absurdo haver quem não compreenda que, em África, o renovado contexto internacional deixará o regime criminoso da Frelimo ainda mais isolado e violento, cenário que desde já exigiria outra postura de governos que ambicionam ser responsáveis, num quadro em que a única saída viável é apoiar Venâncio Mondlane.
(iv) Quando é fácil antecipar que os moçambicanos de norte a sul do país, mesmo morrendo e sofrendo, não irão ceder na resistência à Frelimo até colocarem na Presidência da República Venâncio Mondlane, e o Podemos como nova força parlamentar decisiva, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, ambos do PSD, no final de 2024 decidem investir na mais absurda das traições aos moçambicanos e aos portugueses colando-se à continuidade da rota pró-frelimista.
Vemos serem renovados os erros grosseiros de 1974-1975 que então retiraram a dignidade nacional dos portugueses dos manuais de história e abandonaram os seus interesses em África para que os governantes da época tudo oferecessem a soviéticos e chineses. A diferença agora é apenas de detalhe, os sortudos são os norte-americanos. Se não houver mudanças profundas em Portugal tão rápidas quanto possível, será esse o legado aos portugueses das decisões de 2024 de Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro.
O Bloco Central português, PSD e PS, nem sequer compreende o básico. Desde o fim do Império Colonial, em 1975, Venâncio Mondlane é o primeiro líder carismático africano a oferecer a Portugal aquilo que nenhuma outra antiga potência colonial europeia até agora conseguiu (Inglaterra, França, Bélgica, as restantes têm peso residual), a possibilidade de refazer de raiz as relações entre Moçambique e Portugal para que se tornem adultas e honestas, isto é, libertas de conluios entre governantes que atraiçoam os respetivos povos através da cedência a chantagens históricas, económicas, sociais ou de outra natureza.
Venâncio Mondlane é um caso raríssimo que permite garantir o respeito genuíno mútuo pela soberania absoluta de cada um dos Estados, Moçambique e Portugal.
A Frelimo, o PSD e o PS só conseguem viver no pântano de relações internacionais que comungam, o que gerou caos, morte, miséria e sofrimento em Moçambique e falhanço socioeconómico em Portugal. Os dois povos precisam de se libertar daqueles que os têm governado desde 1974-1975, razão para o diálogo habitual com Venâncio Mondlane ter de se tornar facílimo e transversal a uma sociedade portuguesa vergonhosa e inadmissivelmente chantageada pela Frelimo.